Terça, 30 Abril 2024

Carlos Pimentel Mendes (*)

 

Quem vê o estado da estrada de ferro que sai de Santos para São Paulo, com muito mato, uma das duas linhas praticamente destruída, com grandes trechos de trilhos arrancados, não imagina o que está fermentando nos bastidores do transporte ferroviário regional. Há muitas novidades a caminho, principalmente em termos de transporte de cargas de e para o porto santista, e o sistema - que parecia dar seus últimos suspiros e encerrar uma era - parece estar sendo redescoberto. Enfim, pessoas em postos chave no governo começam a entender o que é uma matriz nacional de transportes e quão importante é o papel das ferrovias nesse processo.


Desde os tempos do barão de Mauá, muito poderia ter sido feito para integrar o Brasil com os trilhos paralelos. Porém, principalmente nos últimos 50 anos, o rodoviarismo tomou conta do País e os trens foram desaparecendo ou ficaram cada vez mais abandonados. O Brasil viu desaparecerem mesmo os muitos investimentos já feitos. Como a segunda linha às margens da via Anchieta, onde até um pequeno barco pode ser visto emborcado sobre o trilho restante, há quase um ano (direção da Vila São José, para quem quiser conferir), símbolo claro do estado a que chegou essa via.


Porém, 2005 promete. Mesmo com a disputa entre as empresas pelo direito de passagem na linha remanescente, um passarinho conta a este jornalista que a Ferroban, depois de ampliar bastante a movimentação de cargas, está fechando acordos para aumentar ainda mais a movimentação - o que significa que terá de investir para ampliar sua rede, novamente próxima da saturação. E o BNDES também está atento, com vários investimentos previstos para 2005, que aliás devem ser transformados em cota acionária nas empresas ferroviárias...


Por conta dos acordos com manipuladoras de produtos químicos e terminais de conteineres instalados no Distrito Industrial da Alemoa, na entrada de Santos, já está em obras um ramal ferroviário que passa junto ou por dentro dos pátios de carga dessas empresas. A ponte ferroviária sobre o Rio Casqueiro vai balançar ainda mais, com o incremento na movimentação de vagões.


Tem mais: a Cosipa ressuscitou até a idéia da criação de um teleférico para transpor a Serra do Mar com veículos de carga, já que o sistema ferroviário não vai dar conta do crescimento previsto. E o transporte de amônia é uma das novidades previstas para breve, por conta de contratos que vêm sendo negociados neste momento com indústrias cubatenses.


Em recente viagem à China, de missão comercial capitaneada pelo presidente Lula, uma empresa ferroviária foi convencida a não importar de lá alguns milhares de vagões, pois para uma encomenda assim compensava reabrir as fábricas nacionais Cobrasma e Mafersa, criando novo pólo paulista de empregos. Por aí se tem uma referência para dimensionar o revival ferroviário que vem por aí. Tudo projeto para início em 2005, aliás.


Mas a melhor história que um passarinho contou é que a empresa Novo Oeste, ao colocar um ramal ferroviário para uma de suas fazendas, descobriu uma mina de ferro com potencial para um século de exploração contínua. Então, está pleiteando verbas federais para colocar um trem turístico e com isso modernizar a linha, que seria então aproveitada também para o transporte do minério, desde o Mato Grosso até Santos...


Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br).

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s
Deixe sua opinião! Comente!