Carlos Pimentel Mendes (*)
Em campanha eleitoral vale tudo. Principalmente prometer o que tem mínimas chances de se tornar realidade, mas sempre garantindo que nos quatro anos do seu mandato será pelo menos iniciado. E concluído, nos quatro anos seguintes, se o candidato for reeleito (visão a longo prazo, lógico...).
Bem, uma das promessas da última campanha, e nem importa muito saber quem a fez, é a revisão do conceito de área portuária, para que Santos não apenas exporte matéria-prima bruta, e sim produtos acabados ou semi-manufaturados em indústrias para isso instaladas junto ao complexo portuário. Que poderiam inclusive fazer drawback, como as indústrias maquiladoras mexicanas, importando produtos para processar e reexportar.
Perfeita a intenção, pois geraria empregos e talvez riqueza na região, ou ao menos para o Brasil, mas como executar tal projeto em Santos? Vamos aos principais óbices:
1) Área disponível - Santos já não tem área insular livre, e a continental é cada vez mais protegida pelos ambientalistas, além de enfrentar problemas de acessos e insumos (basta notar que certos núcleos habitados na zona continental santista ainda hoje, no século XXI, sequer contam com eletricidade, que diremos de água encanada e telecomunicações!). E criar área sobre o mar, além de exigir toneladas de EIA-Rimas, significaria encarecer muito o produto final, talvez inviabilizando-o para o mercado externo. Mesmo porque, já comentamos o resultado de uma tentativa nesse sentido, iniciada quase duas décadas atrás na região inter-cemitérios (Valongo-Paquetá...).
2) Acessos - Recorde-se que as empresas de conteineres estão sendo afastadas da região portuária pelo avanço urbano, que (além de engolir áreas antes consideradas portuárias, como a Ponta da Praia) dificulta o acesso rodoviário a essas áreas, pelo incremento do trânsito "leve" (urbano) e pelo receio que as cidades têm de não serem compensadas pelos danos causados às vias pelo tráfego pesado. Já em fins da década de 70 o governo desistia de considerar como reserva de área para expansão portuária o trecho próximo ao cais na Ponta da Praia. E hoje mesmo, o sistema viário de acesso ao porto já está mais do que saturado, tanto que se tenta justamente tirar tráfego pesado da área urbana, com a construção de pátios de veículos na divisa com Cubatão.
3) Passado - Tentativas já foram feitas para a instalação de distritos industriais na região, e só Cubatão teve sucesso (e a que preço! Vila Parisi ainda não fugiu da memória, mesmo com todas as melhorias havidas). Guarujá criou solenemente seu Complexo Industrial Naval (Cing) e...! Santos nem estudou direito o Distrito de Indústrias Leves (DIL) proposto em fins dos anos 70 pelo empresário Roberto Chaddad. O passivo santista nessa contabilização de projetos inclui até uma indústria flutuante produtora de cimento, atracada no Estuário, para enfrentar o oligopólio no abastecimento nacional desse produto - por pouco tempo, pois logo o oligopólio venceria.
Bem, para não cansar o leitor, deixemos para a próxima coluna a continuação da lista dos óbices...
Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br).