Sexta, 27 Dezembro 2024


Carlos Pimentel Mendes (*)

 

Calma, caro leitor, que por enquanto o mar a que me refiro é literalmente o que banha Santos e seu porto, com as águas barrentas do Estuário. O outro, em sentido figurado, vem depois.

 

Há décadas se sabe, pelas características do porto santista, que se não houver dragagem contínua, a lama procedente da Serra do Mar vai se acumulando no leito de navegação, assoreando-o, reduzindo gradualmente a profundidade, até que aconteça com Santos o mesmo que com Antonina/PR, por exemplo: apenas pequenos barcos de pesca cruzarão suas águas.

 

Também se sabe que para ser atraente ao tráfego de longo curso, o porto de Santos precisa ter calado compatível com navios de alta capacidade de carga, ou seja, profundidades de 13 a 14 metros.

 

Como já foi antes comentado, cerca de década e meia atrás alguém teve a brilhante idéia de retificar a margem direita do porto, no trecho entre os dois cemitérios, Valongo e Paquetá. Além de ganhar terreno ao mar, para um cais moderno, um dos benefícios da obra seria forçar as águas, com menos espaço, a correrem mais, com isso fazendo uma dragagem natural do canal de navegação, que reduziria os custos com este serviço.

 

Entretanto, as obras pararam logo depois de começadas. E, como se previa que poderia ocorrer, parte da areia do aterro escorreu para o canal de navegação, assoreando-o. Ou seja, pagou-se caríssimo para aterrar o canal...

 

Depois, além desse problema, surgiram outros: o porto teve parte dos serviços privatizados, mas a questão da dragagem ficou em suspenso. Quem pagaria por ela? As concessionárias dos terminais? em que proporção? Como ficaria a licitação? Enquanto isso, a dragagem foi reduzida, surgiram problemas jurídicos... O tempo passou.

 

No momento, o porto está em média cerca de 2 metros mais raso (1,8 m para ser mais exato, nos principais trechos), após quase dois anos sem dragagem. São "apenas" 4,5 milhões de metros cúbicos de lama acumulada, que demandarão um investimento da ordem de R$ 33 milhões para a sua retirada, pelos cálculos da Codesp.

 

Até que isso ocorra, que todas as certidões e demais documentos sejam expedidos, o transporte marítimo brasileiro é prejudicado, com as restrições à navegação para navios de maior porte. Com isso, perde (muito) o transporte marítimo. Perde o comércio exterior brasileiro. Perde o Brasil. Perdemos todos nós.

 

E o outro mar de lama? Aguardem o próximo texto...

 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br).

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