Comentei nesta coluna dias atrás meu inconformismo com as divisões criadas na gestão federal dos transportes. E falei disso também a amigos com amplo trânsito pelos corredores do poder em Brasília. Para mim, num momento em que precisamos pensar de forma macro nos transportes, a política reduz esse pensamento ao modo micro, tratando-os como feudo a ser dividido para acomodar diferentes interesses partidários.
O resultado de tanta divisão é o que vimos: a aviação voa descontrolada, Ministério dos Transportes puxa para um lado, Antaq para outro, SEP para um terceiro, e a corda dos transportes se rompe, justamente quando mais precisamos dela forte, para puxar as cargas até os pontos de embarque com destino aos mercados nossos clientes.
Da mesma forma que não dá para levar uma canoa com os remadores sem sincronia, não se pode falar em logística sem integração de comando e um Norte claro para os investimentos necessários. Mesmo que esse Norte aponte para o Sul, o Leste ou o Oeste, é preciso que a direção seja dada, com investimentos coordenados nos diferentes modais, nos terminais de carga, aeroportos e portos. Integração, enfim.
Mas, a explicação que os amigos brasilienses me deram não é animadora. São muito poderosos os grupos de pressão, principalmente de origem rodoviarista, e não se importam mesmo de dar tiros nos próprios pés: mesmo que não consigam rodovias melhores, preferem que cabotagem, hidrovias e ferrovias fiquem estagnadas.
Cedendo a essas pressões, em vez de articular a necessária integração logística, o governo faz o velho jogo do atraso, que nos tira do jogo maior que é a conquista do mercado mundial.
Sem uma política de transportes digna desse nome, o Brasil pode dar adeus ao seu futuro como potência emergente. A conta é muito alta, e já a estamos pagando.