Imagine o leitor a quantidade de produtos que compõe a pauta de exportações brasileira. De minério de ferro a ovos. De crina de cavalo a automóveis. E uma quase infinita gama de outros produtos agro-pecuários, minerais e extrativos, digna de um país de dimensões continentais.
Agora, olvide por um instante o minério de ferro, e tal esquecimento significa nada menos de 74,37% da movimentação total das ferrovias nacionais. Esqueça mais nove produtos, e nossos trens movimentariam apenas 9% das suas cargas atuais.
Pois este é o tamanho da distorção na matriz de transportes brasileiras. Bem poucos tipos de carga são movimentados pelos trens, valendo a informação adicional de que, dos apenas 28 mil quilômetros da rede ferroviária nacional, 10% concentram quase todo o volume da carga transportada. E que tal considerar que, enquanto em já inúmeros países existem trens-contêineres com dupla altura, tal a quantidade a ser movimentada, no Brasil apenas 1% da carga ferroviária é conteinerizada?
Os números oficiais (ANTT e Ilos) mostram um panorama "pré-histórico" das ferrovias nacionais, mais desanimador ainda se comparado aos números exuberantes que elas já apresentavam cem anos atrás, quando – mais que mero meio de transporte – eram consideradas indutoras do desenvolvimento nacional, sine qua non. Isto é: sem elas, não haveria desenvolvimento, assim se pensava por volta de 1910.
Foi preciso passarem quatro gerações para que os tataranetos percebessem como seus ancestrais tinham razão. Falam agora em um plano para a partir de 1912 – perdão, 2012 – fomentar os negócios no setor, forçando para que a diferença entre a capacidade da ferrovia e as metas não atingidas seja oferecida a um novo operador logístico, além de se provocar a recuperação de ramais abandonados onde houver demanda pelo transporte.
Se as metas estabelecidas forem as mesmas de 100 anos atrás (basta isso), as atuais operadoras estarão perdidas. Vai faltar trem para atingir aqueles números...