Que me desculpem os internautas que, procurando pela novela televisiva brasileira Caminho das Índias, vierem ter a esta página. Mas, o caminho de que vou tratar é outro, é a infra-estrutura de transportes daquele país da Ásia Meridional, que os ocidentais muitas vezes citam no plural, Índias, por força de um atavismo histórico, do tempo das Grandes Navegações Ibéricas (séculos XV-XVI).
Se em 1500 o navegador português Pedro Álvares Cabral passou pelo Brasil em sua viagem para as Índias, em 2010 há uma outra ligação entre estes dois países e mais dois, se bem que a China se afasta deste grupo para cima e a Rússia para baixo. Refiro-me ao chamado BRIC, sigla inventada no início da década para agrupar esses quatro num foco de luz, chamando a atenção para seu rápido desenvolvimento.
Embora por motivos diversos, uma característica comum dos BRICs é a falta de uma estrutura otimizada de transportes. A China tenta recuperar o atraso com enormes investimentos. A Rússia, afora o gelo das estepes, tem outros problemas estruturais e econômicos mais graves a resolver prioritariamente, deixemos de lado. Restam Brasil e Índia.
O país asiático anunciou que até 2012 terá investido US$ 512 bilhões em projetos de infra-estrutura, reconhecendo as graves deficiências no setor, especialmente portos antiquados, e rodovias congestionadas e em más condições, ferrovias em péssima conservação. E reconhecendo também que tais problemas podem retardar o crescimento econômico indiano na próxima década.
Para o primeiro-ministro Manmohan Singh, de 2012 a 2017 a Índia precisa duplicar seus investimentos no setor, para ao menos US$ 1 trilhão nesse lustro, de forma a criar condições para que o PIB nacional cresça acima de 10% ao ano (a Índia não se contenta com os atuais 8,5% anuais). Para os investimentos, o governo está chamando a iniciativa privada, acenando com isenções de impostos através dos chamados "títulos de infra-estrutura".
Ótimo, mas que tem o Brasil com isso? Resposta simples, o país precisa competir num mercado global, onde diferenças de centavos nos preços podem fazer a diferença entre obter ou não um cliente e ampliar suas divisas monetárias. Talvez para alguns tudo se resolva com uma mexida no câmbio ou uma redução na carga tributária, mas o fato é que existe muito desperdício entre a porta da fazenda ou indústria e o porto, decorrente das más condições das rodovias, da ainda bem precária estrutura ferroviária, dos gargalos representados pelos acessos aos principais portos, dos problemas existentes nos próprios portos (que não se resumem à dragagem dos canais de acesso, sempre é bom lembrar).
A Índia já deixou claro o que deseja fazer, a China já está fazendo. Deve o Brasil imitar esses dois ou preferir acompanhar a Rússia, congelando planos e investimentos e talvez criando uma nova "década perdida"? Está na hora de os brasileiros, depois de perdidas suas referências estadunidenses tradicionais, retomarem enfim o "Caminho das Índias", voltando sua atenção para o que acontece na Ásia. Como aliás fez Cabral, 510 anos atrás...