Quando falamos em logística, temos sempre a preocupação de nos mantermos antenados com fatos que, se no momento parecem pouco significativos, podem representar grandes mudanças com o passar de algumas décadas. É que portos, pontes, navios, estradas, não são produtos "de prateleira", em que é só chegar e comprar. É preciso planejá-los, e com bastante antecedência, pois após se conseguir a aprovação dos planos – e para isso é preciso ter argumentos convincentes, bem estudados! – ainda há que obter financiamentos, realizar os contratos e aguardar as obras, além de preparar toda a infra-estrutura de apoio. E isso pode demandar vários anos.
No início deste século-milênio, já falávamos sobre a ascensão chinesa e a perda de importância dos Estados Unidos, entre as superpotências, bem como sobre o surgimento de um grupo de quatro países que tendiam a se destacar na economia mundial nos anos seguintes: os BRICs, sigla cunhada por Jim O’Neill, vice-presidente mundial de pesquisas do banco estadunidense Goldman Sachs. Para ele, esse grupo – formado por Brasil, Rússia, Índia e China, cujas iniciais formam a sigla – será em 2035 a grande potência mundial. Também notávamos que, dos quatro, a China (com sua economia planificada) e o Brasil (com suas características ocidentais e abertura democrática) seriam os de maior crescimento.
Agora, está na hora de conhecer um outro grupo de países, cuja sigla ainda precisa ser melhor resolvida, por ser diferente em inglês e português. Também formado pelas iniciais, pode ser chamado de Mavina ou Mavins, já que o último país da lista é África do Sul ou South Africa. Os demais são México, Austrália, Vietnã, Indonésia e Nigéria. A matéria que nos chamou a atenção foi publicada em inglês no jornal eletrônico The Business Insider, de New York, em 6 de janeiro, e segundo os articulistas Vicent Fernando e Joe Weisenthal, até 2050 este novo grupo se destacará muito no cenário mundial, principalmente por seus recursos, na área de commodities, e pelas possibilidades de grande expansão de seus mercados domésticos, devido ao excedente de mão-de-obra e terras subutilizadas.
Essas economias "de segunda linha" podem fazer grande diferença nos mercados mundiais em breve: "Com as políticas corretas, essas nações são suscetíveis de superar bastante as expectativas ao longo do tempo, ganhando a liderança em suas regiões. As economias combinadas do Mavins poderiam facilmente representar 60% da economia estadunidense de hoje até 2020, ou mais de 200% desta economia em 2050, e continuarem crescendo robustamente depois desse período".
Logicamente, existem muitos senões a serem vencidos. Fortalecimento de instituições democráticas, liberdade de comércio, melhores condições sociais, em alguns casos a própria formação de um mercado consumidor interno que dê sustentação ao comércio externo... não são caminhos fáceis nem seguros, e da mesma forma que uma tempestade pode desabar sobre a economia estadunidense e européia, como se viu em 2008/2009, são muitos os fatores imponderáveis que influirão, sobretudo considerando-se um horizonte de quatro décadas.
Mas os cenários empresariais são sempre projeções feitas a partir de informações atuais, e as empresas trabalham com cenários otimistas, realistas e pessimistas. Então, este é mais um estudo que deve ser levado em consideração, na hora de uma armadora planejar o desenvolvimento de suas linhas marítimas e instalações de apoio, ou de uma empresa exportadora ou importadora planejar sua expansão no mercado mundial. Para os governos, é mais um indicador que precisa ser considerado quanto aos rumos da geopolíticas nacionais, em termos de criação ou fortalecimento de laços de comércio.
Na próxima coluna, veremos melhor como esse estudo enfocou cada um dos mercados desta segunda linha de países.