Segunda, 20 Mai 2024

Mais de cinco séculos depois das primeiras circunavegações do continente africano, e milhares de anos depois do estabelecimento dos primeiros núcleos de civilização nessa área, a África continua sendo um continente praticamente desconhecido pelo resto da Humanidade. Tão desconhecido, que existem duas outras Áfricas que praticamente ninguém conhece.

 

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O mundo é bombardeado diariamente com imagens e informações sobre os piratas somalis, sobre as guerras tribais, a fome na Etiópia, os atos terroristas no Sudão, na Líbia... e as pirâmides do Egito. Tais estereótipos escondem realidades opostas e ainda assim complementares.

 

Primeiro, analisemos a tragédia de um continente abandonado. A imagem que temos, de crianças etíopes esqueléticas, é amostra ínfima do que ali acontece, com genocídios programados, canibalismo, corrupção generalizada, desvio de recursos humanitários etc. O noticiário quase não registra o que ocorre num continente em que 36 milhões de pessoas morrem de fome a cada ano, e uma criança deixará de viver antes que o leitor termine de ler esta frase.

 

Este é um problema que, pela sua magnitude, deveria ter precedência sobre todos os outros na combalida Organização das Nações Unidas (ONU), justificando uma ação global eficaz e imediata. Até porque é em função desses problemas que muitos males se espalham pelo resto do mundo, como o HIV e outras doenças. Eis, portanto, uma segunda África, bem pior do que a vista nos telejornais.

 

Mas há também uma terceira África, igualmente desconhecida. E que progride rapidamente em muitas áreas, inclusive na movimentação de cargas, na alta tecnologia...

 

Se alguns portos sul-africanos são referência na movimentação de contêineres, outros mais estão surgindo ao longo de toda a costa africana, com alto padrão, deixando no passado aquela imagem de atracadouros precários e congestionados, em que os tripulantes precisam manter armas engatilhadas para revidar assaltos e pilhagens. Já não é necessário enviar a esse continente contêineres velhos e sem perspectiva de retorno, como acontecia recentemente (lógico que não para qualquer lugar: continuam existindo guerras, criminalidade e infraestrutura precária).

 

Há cidades modernas, mesmo enfrentando as mesmas mazelas sociais das existentes em outros continentes. Existem demandas a serem atendidas, tão sofisticadas quanto as de outros países. E essa demanda por bens e serviços não se restringe a sultões e xeiques, como já notaram algumas empresas que se dispuseram a estudar esses novos mercados.

 

Leio no The New York Times, por exemplo, que o mercado de alta costura voltado para as características físicas negras já comporta a publicação regular de revistas de moda de alto nivel, como a Arise, ou o trabalho tunisiano Fashion in Africa.

 

E até para compensar a falta de informações sobre o continente, surgiu o projeto jornalístico AfricaNews. Que informa, por exemplo, sobre a instalação de um centro integrado de atendimento para compras via telefonia celular na Etiópia, uma parceria entre cinco países norte-africanos e a Europa, para sistemas digitais de teleducação, um projeto de US$ 100 milhões em telecomunicações na Nigéria, projetos de energia eólica na África do Sul e muito mais.

 

E, voltando à navegação marítima, mais um exemplo: a mesma Dubai World Ports - que agora investe no projeto Embraport, no porto brasileiro de Santos – volta suas atenções para lugares como Ruanda, Camarões, Moçambique, Senegal, Zimbábue e África do Sul.

 

É hora de outros empresários abrirem os olhos, reinterpretando aquela história dos vendedores de sapatos despachados para a África. Um telegrafou desistindo, por não haver mercado, todos andavam descalços. Seu colega telegrafou pedindo muita mercadoria, entusiasmado com o potencial de mercado para vender sapatos num lugar assim...

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