Segunda, 20 Mai 2024

Fico pensando... em toda parte para onde se olha, há gente chegando a atos absurdos por causa do vil metal. Matam, roubam, enganam, desviam, mentem, praticam todos aqueles atos que as religiões condenam e as leis também, mesmo que as sociedades às vezes aplaudam e elejam para funções das mais altas nas respectivas comunidades...

Mas, não vou aqui tratar de filosofia, de moral, de sociologia. O motivo desta digressão é ter constatado que, ao contrário do que se costuma verificar em outros lugares do mundo, Santos é uma terra muito especial. Não por acaso, o brasão da Cidade estampa em latim que essa terra ensinou a caridade e a liberdade...

Santos é especial por muitos motivos, mas destaco um em particular. Ela não gosta de dinheiro. Fica contente em ser lembrada apenas como o principal porto latino-americano de carga geral, extrema glória no setor, e ir quebrando de vez em quando algum antigo recorde seu de movimentação de cargas. Para quê mais?

Santos não gosta de dinheiro, porque despreza oportunidades para ser muito mais do que apenas um porto importante. Oportunidades que nem implicam em grandes investimentos, permitindo esquecer até mesmo aquela tal dragagem de aprofundamento que nunca sai do papel mesmo, tantos interesses em jogo impedindo que velhas promessas sejam cumpridas...

Ora, eu me refiro a um tipo de transporte marítimo que Santos relegou ao passado, ao tempo em que os navios ainda tinham casco de madeira, que às vezes empenava com o calor vindo das caldeiras produtoras do vapor motriz...


Sucateamento do Porto de Santos tem proporcionado
prejuízos para todos os envolvidos com a atividade portuária

E tudo se resume numa palavra: transbordo. Conceito simples: um grande navio de longo curso deixa no porto cargas destinadas a portos menores, que são embarcadas em navios também menores e menos custosos de gerenciar, aos quais é delegada a função feeder (alimentadora). Esses navios menores também alimentam com cargas o porto principal ou concentrador (hub port). Ganham todos: os portos menores, que não poderiam por razões de viabilidade econômica receber navios de longo curso; os armadores de navios maiores, que fariam mais rápida a "viagem redonda", e com mais carga; e o porto de transbordo, que recebe os dois tipos de navio e movimenta a carga entre eles.

Leia-se o que diz a imprensa argentina, por exemplo, e veja-se o grande potencial de Santos para o transbordo. Aliás, este porto é citado expressamente. O dinheiro implora para entrar em Santos, mas Santos faz de tudo para que isso não aconteça. Cobra tarifas altas, para desestimular essa operação, mesmo com quilômetros de cais vazio e relativa ociosidade nas instalações. Nada faz para atrair tal movimentação.

Santos faz juz ao nome, que se relaciona com santidade. Quer longe de si as tentações do dinheiro. Afasta-se de negócios que possam gerar lucros para todos, preferindo absorver prejuízos que vão se acumulando com as falhas administrativas. E ainda trata de reduzir os ganhos dos trabalhadores, além de dificultar que eles tenham acesso aos trabalhos no cais ou tenham aulas de aperfeiçoamento para aspirarem a serviços melhor remunerados – tudo, decerto, com o nobre objetivo de fazer com que estes também libertem na sacolinha dos dízimos as suas tentações monetárias... e rezem, rezem cada vez mais, para que o mês acabe antes do fim de suas reservas financeiras...

Já que o porto santista não parece querer mais seguir a sua vocação portuária... Será que uma nova igreja, daquelas de suntuosa fachada e helipontos no telhado, surgirá junto ao mar, para ocupar as imensas instalações do cais, captando o dinheiro dos incautos fiéis para ser levado a algum paraíso fiscal?

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