Segunda, 20 Mai 2024

Fuso é um instrumento de fiar, roliço e pontiagudo, em que se enrola o fio torcido à mão, até formar a maçaroca. O fuso é usado junto com a roca, e esta é uma espécie de vara onde se enrola uma substância têxtil a ser fiada. Expliquemos ainda que maçaroca é um conjunto de fios torcidos, às vezes emaranhados, daí também significar confusão, enleada. E fuso também é cada uma das 24 divisões longitudinais de 15 graus do círculo terrestre, à qual foi atribuído um padrão horário legal.

 

Pois no Brasil que espera décadas para definir uma questão constitucional como a dos juros bancários ou uma questão prática como a dragagem dos portos, está passando em ritmo acelerado pelas comissões do Congresso o projeto de unificação dos fusos horários no Brasil. Lembrando que hoje são três: o de Fernando de Noronha (Tempo Universal UTC-2 horas), o de Brasília (UTC-3, hora legal brasileira) e o da Amazônia/Centro Oeste (UTC-4).

 

O quarto fuso no Brasil, que abrangia apenas o Acre (UTC-5), foi abolido por lei aprovada em junho de 2008, quando a hora local passou a ser sincronizada com a da Amazônia. Para quem trabalha com radiocomunicações, já sumiu do Brasil o Romeo (código da letra R atribuído ao meridiano UTC-5), e agora estão prestes a sumir do país o Oscar (O = UTC-2) e o Quebec (Q = UTC-4). Enfim, o Papa (P = UTC-3) regerá o Brasil, mesmo nos aspectos não religiosos...

 

Pois é: o plano agora é mais ambicioso, colocando todo o território brasileiro sob o padrão do fuso UTC-3, ou seja,  três horas a menos que o horário-base registrado no observatório inglês de Greenwich (a não ser nos períodos em que vigore o horário de verão. O tema já foi aprovado pela Comissão de Estudos Econômicos do Senado, semanas atrás, e após passar pela Comissão de Relações Exteriores do mesmo Senado será levado à votação pela Câmara Federal.

 

Assim, é de esperar que muito em breve o Brasil tenha um só fuso horário, que simplificará as atividades nas comunicações, no transporte aéreo e no sistema financeiro. A logística de transportes será facilitada, por não ter de lidar com fronteiras de horários dentro de um mesmo país, mas será preciso atenção para o relacionamento com os países sulamericanos, especialmente os fronteiriços, pois surgirão ou desaparecerão algumas diferenças de horário.

 

Em tempos de just-in-time, uma hora faz diferença. Principalmente em fronteiras ainda demasiadamente burocratizadas como as sulamericanas, onde mesmo sem essa mudança formam-se às vezes filas de caminhões por diferenças nos horários de atendimento nos postos de controle...

 

Internamente, essa mesma burocracia terá de ser levada em consideração. Afinal, com a mudança prevista, trens e caminhões procedentes principalmente do Centro-Oeste chegarão aos portos do Leste uma hora mais tarde, se a sua partida não for antecipada. Bem sabem os empresários que muitos serviços nos portos não funcionam 24 horas ao dia, e chegar depois do expediente significa ter de esperar uma noite inteira até o reinício do atendimento...

 

Assim, é de se esperar um período de alguma confusão, quando e se vigorar essa unificação horária, pois sistemas e programas de computador preparados para trabalhar com diferentes fusos no Brasil precisarão ser ajustados, e um pequeno esquecimento, neste mundo cada vez mais unificado (ou globalizado, como queiram alguns), tende a transformar essa questão toda numa maçaroca (emaranhado, confusão...).

 

Afinal, se em português o fuso faz parte da roca, esta também tem neste idioma o sentido de penhasco, penedo. Que, se não estiver bem sinalizado por faróis, pode ser a causa de graves acidentes...
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