Ainda a logística do transporte ferroviário, ou a falta dela. Encerramos a coluna anterior comentando que as soluções urgentes para o caos que vai se formando ao redor dos portos sequer estão sendo pensadas, quando já deveriam estar em execução.
Vamos a um exemplo bem claro de como a situação está ficando explosiva. Aconteceu no início de abril, em um núcleo habitacional de Cubatão (SP), atravessado pela ferrovia da América Latina Logística (ALL). Os trens, cada vez mais compridos e demorados, fecham as passagens que os moradores da Vila Esperança usam para ir ao trabalho, à escola, ao centro da cidade. Fecham tanto que já aconteceu de uma ambulância estar parada de um lado da ferrovia, esperando a passagem do trem, e um senhor enfartado morrer, por falta de assistência, alguns metros adiante, só que do outro lado da ferrovia.
Os moradores foram em comissão à Prefeitura para reclamar desses problemas, ainda mais que a ferrovia está ampliando seus pátios e começou a fechar a sua área, para impedir a passagem pelos trilhos. A Prefeitura, por lei federal, deveria ter criado passarelas sobre a ferrovia, mas não o fez no tempo devido, em 2008, de forma que o problema foi sendo agravado. A ferrovia se disse sensibilizada com o problema e oferece construir uma passarela, talvez duas. Mas, mesmo diante da situação explosiva, continuou cercando seu terreno e isolando a comunidade, sem a sensibilidade de primeiro fazer tal passarela e adotar providências imediatas que acalmassem a população local.
O resultado o Brasil inteiro viu nos noticiários nacionais de televisão, nos jornais: formou-se verdadeira praça de guerra, com ônibus incendiado, polícia armada enfrentando a tiros e bombas de gás os moradores. E as obras na ferrovia foram mais uma vez embargadas, até porque não existe recuo suficiente entre os trilhos e o limite do terreno da ferrovia para o caso do tombamento de um vagão não se tornar uma tragédia.
Ora, a Vila Esperança, mesmo sendo um núcleo de ocupação irregular, existe há várias décadas. Não pode ser ignorada nos cálculos de expansão da ferrovia. A ALL também não teve a sensibilidade mínima para se unir aos moradores na busca de soluções, resolveu agir como bem quis, na política de criar fatos consumados e ver depois o que fazer para corrigir os novos problemas que surgirem. Não deu certo, a reação veio mais rápida do que a empresa esperava.
Foto: www.antf.org.br
Ferrovias não conseguem aumentar quantidade de cargas movimentadas
e nem apresentam sensibilidade para resolução de entraves
Mas, falávamos de Custo Brasil. E onde ele está, neste caso? Ora, se os trabalhos de ampliação do sistema ferroviário são paralisados ou adiados, há prejuízos tanto nas obras em si como na impossibilidade de usar os trens com maior tonelagem que a empresa pretende implantar. Além disso, as manifestações dos moradores provocaram a destruição de parte do material usado no cercamento dos terrenos da ferrovia, outro prejuízo. A empresa foi destacada negativamente no noticiário nacional e talvez internacional, e isso não ficará nada bem no seu próximo "balanço social".
Corre ainda o risco de na próxima manifestação ter seus trilhos seccionados, e o que era até então um prejuízo menor da empresa, logicamente repassado ao custo final dos produtos via fretes, se torna um grave embaraço às exportações brasileiras, para não falar da provável violência ainda maior na contenção dos manifestantes, pois decerto "tudo se fará" para evitar que a ferrovia seja paralisada por eles.
Some-se a isso uma série de outros custos indiretos, até mesmo de difícil contabilização. Quantas horas de trabalho dos moradores vizinhos são perdidas, todos os dias, considerando-se que o núcleo tem 20 mil habitantes e chega a ficar isolado por mais de uma hora em cada passagem de trem, quase todos os dias? Quais os custos para a administração pública decorrentes da evasão escolar motivada pela impossibilidade de os estudantes atravessarem a ferrovia? E assim por diante, tudo se soma para elevar o índice de ineficiência, de trabalho perdido, as despesas que formam assim o chamado Custo Brasil...