Sábado, 18 Mai 2024

Nas últimas semanas, tenho insistido na tecla de que o mundo vive numa crise permanente, apenas percebida de forma um pouco mais branda ou aguda por determinados povos, em determinados momentos. E a melhor forma de conjurá-la é justamente trabalhando, criando, buscando soluções, em vez de ficar apenas lamentando uma crise, aumentando a boataria e o alarme das pessoas, restringindo ainda mais a confiança que elas tenham no futuro.

 

O mecanismo tem funcionamento simples: os investidores buscam colocar seu dinheiro em lugares onde possam ter o melhor retorno, com o menor risco. Para isso, analisam o que se diz sobre esses lugares. Se as notícias são boas, o investimento é feito. Se são preocupantes, o investimento é pensado e repensado, o que demanda um certo tempo para acontecer. E se as notícias são péssimas, o melhor é guardar o dinheiro no colchão e dormir sobre ele, esperando que a tormenta passe.

 

* Crise econômica não afeta a indústria naval brasileira

 

Quando a tormenta desabou nos Estados Unidos, foi justamente porque o risco ficou tão evidente que não havia confiança nos fundamentos econômicos que desse jeito nisso. Era um problema restrito a um país, e a quem acreditou na economia desse país. Só que – e fico pensando se não foi proposital, para que ao afundar esse país não surgissem novas potências – propalou-se que a crise seria global, já que a economia desse país dominava o mundo.

 

A crise de confiança abalou de fato o mundo, empresas e países solidamente estabelecidos foram afetados pela desconfiança de que o mundo implodiria numa bolha de catastrofismo econômico. Não aconteceu, não acontecerá. A economia dos Estados Unidos não é mais, há bom tempo, toda essa potência que alardeia. Há bem uma década os países em geral vêm desatrelando aos poucos suas economias do universo do US$. A zona do Euro é uma realidade.

 

Mesmo em sua melhor performance, a economia dos Estados Unidos estava fadada a ser superada pela China em pouco mais de duas décadas, se tanto. Então, em vez de um tsunami, provoca apenas marolas num país como o Brasil, e mesmo assim, são marolas provocadas mais pelo medo irracional de uma crise, do que pela crise em si.

 

No Porto de Cingapura, movimentação de navios é intensa; países

asiáticos buscam se solidificar como potências econômicas mundiais

 

Assim, para o mundo, basta trabalhar um pouco mais, em vez de falar em crise. Aproveitar as oportunidades que as empresas estadunidenses estão abandonando, por incapacidade técnica e financeira. O país que, pela arrogância de seus banqueiros e empresários, forçou o mundo a agir por tanto tempo conforme suas vontades, agora descobre – mesmo que inconformado – que muitos países estão saindo de sua órbita econômica. Falta apenas que os dirigentes econômicos e políticos dos demais países confiem nos próprios recursos e comecem a andar por si sós, retirando o atrelamento mental que por várias décadas foi tecido, fio a fio, e que ainda é a causa de se pensar, hoje, que caindo os Estados Unidos, cai o mundo. A prova dessa inverdade começa a aparecer aos poucos, para quem quiser enxergar.

 

No Brasil de hoje, os investimentos continuam sendo feitos – se bem que com a moderação ditada pela falta de confiança no futuro do mercado internacional, que não tem cenários claros de como ficará com o rearranjos das forças econômicas. É apenas questão de tempo para que os investidores nacionais e estrangeiros percebam as oportunidades que não estão aproveitando, que a realidade não é mais a que prevalecia após a Segunda Guerra Mundial, e voltem com toda a força a investir, preparando um novo salto desenvolvimentista.

 

Até porque uma siderúrgica, uma refinaria ou um estaleiro de construção naval não começam a produzir no dia seguinte à decisão do investimento, são necessários anos de instalação da indústria, de treinamento do pessoal, de formação do "conhecimento de como fazer" (know-how). Além disso, desde o início da produção à entrega das primeiras unidades – navios, no caso de um estaleiro – também se passam meses, até anos. Ou seja, não existe material pronto na prateleira, à espera do comprador. Então, é preciso se antecipar, preparar o ambiente para receber os novos pedidos. E não é falando simplesmente de crise que o ambiente será preparado, pelo contrário. É deixando que a concorrência fale em crise e, discretamente, preparando o terreno para a tomada do mercado que os timoratos maledicentes abandonaram.

 

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