Sábado, 28 Dezembro 2024

Muita gente já percebeu, com o passar do tempo, que as crises vão e vêm, ou nunca acabam, ou até são permanentes, variando apenas a agudeza de nossa percepção do momento atravessado. Então, se o mundo não consegue acabar com as crises, momentâneas ou permanentes, o jeito é aprender a viver com elas. Muitas empresas fazem disso o segredo de seu sucesso. Em vez de ficarem se preocupando com crises mundiais e deixando que isso tire a sua tranqüilidade, elas vão à luta, conquistam seus mercados, solidificam seus fundamentos econômicos e simplesmente agem como se as crises não existissem.

 

Ou, mais inteligentemente, incorporando essa informação como um dado a mais em seus cenários de planejamento. Observando que enquanto os outros se retraem e ficam discutindo a crise, mercados se abrem para quem a ignora, ou se escancaram para quem se preparou e tem fundamentos sólidos para aproveitar essas oportunidades.

 

Agora mesmo, no setor ferroviário, justamente no possível auge de uma crise mundial, chega a notícia de que na cidade paulista de Paulínia, uma pequena empresa brasileira de restauração e manutenção de locomotivas, a EIF, entregou a primeira locomotiva totalmente projetada e construída por ela. Cliente, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Que usará essa locomotiva numa nova fábrica de cimentos, que começa a operar em Volta Redonda (estado do Rio de Janeiro) no início de 2009.

 

São duas empresas brasileiras que dão o exemplo de conduta, investindo na produção e seguindo em frente em meio ao temporal armado pelos estadunidenses. Talvez seja uma pequena marola, no mar tormentoso da economia internacional, mas não importa o tamanho e sim a atitude. As duas empresas encontram meios de continuar crescendo, sinalizando caminhos para o restante da economia.

 

A locomotiva é uma só, e de baixa potência (1.000 HP), mas emblemática, pois é a primeira produzida no Brasil após décadas de estagnação do setor ferroviário, e marca a importante recuperação que as ferrovias vêm obtendo após a mudança nas regras que abriu o segmento à exploração pela iniciativa privada. Basta dizer que, nos últimos 12 anos, a participação ferroviária no transporte de cargas no Brasil aumentou de 18% para 26%,  devendo atingir os 30% nos próximos cinco anos. O número de locomotivas em uso no país, cerca de 1.500 em 1996, já atinge 2.800 unidades e a previsão é de entrarem em operação mais mil unidades até 2013.

 

A EIF é uma empresa pequena, com 55 funcionários. Seus dois sócios, gerentes de engenharia, querem um parceiro que injete capital no empreendimento. Começaram importando locomotivas usadas, reformando-as e fazendo a sua adaptação aos padrões brasileiros. Agora, com pés firmes no chão, dão passos importantes para o setor.

 

Perceberam que um país cujas exportações de commodities vêm crescendo firmemente a cada ano, e que vem obtendo avanços importantes no uso do modal ferroviário, é um mercado potencial importante para um equipamento nacional, de qualidade, e que já de nascença seja adequado aos padrões brasileiros.

 

Resolveram em 2007 projetar a unidade, apresentaram suas idéias a vários clientes, e agora colhem os primeiros frutos. O mesmo cliente quer mais duas locomotivas, o que já garante o ano de 2009. Outras 12 estão sendo negociadas com diferentes clientes. E isso significará investimentos, expansão, crescimento.

 

Eles não falam em crise. Apenas trabalham.

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