Sexta, 10 Mai 2024

Em próximas colunas falaremos sobre um tema que interessa diretamente aos portos, que é o tamanho do contêiner. Ele pode mudar a qualquer momento, a despeito de toda a padronização existente, a despeito até mesmo da lógica e do bom senso. Mas, não vamos discutir isso já. Por agora, e encerrando esta série, queremos mostrar o quanto os portos brasileiros estão fechados à realidade internacional.

 

Fechados, por não estarem participando desses debates, como agentes ativos do processo de transporte, como entidades do Direito Econômico que sofrerão as conseqüências – boas ou más – das mudanças que surgirem, e que terão de arcar (e repassar...) os custos das adaptações que precisarão fazer para manter a competitividade nos novos tempos. E eu disse "manter", nem estou sonhando com a possibilidade de "elevar" a competitividade...

 

Até que ponto os portos brasileiros estão preparados para lucrar com o cumprimento das novas normas de proteção ambiental que estão exigindo cuidado cada vez maior com o descarte de resíduos dos navios? Possuem instalações adequadas e certificadas, internacionalmente reconhecidas para receberem e processarem tais resíduos? Pois é, bem recentemente uma autoridade portuária nacional declarou que em boa parte dos portos sequer há um gerente ambiental ou equivalente, capacitado para tratar de tais assuntos (leia ’’Antaq reprova gestão ambiental de 38 portos do Brasil’’).

 

Estão os portos brasileiros preparados para trocar eletronicamente informações relevantes com os demais portos do mundo, com os armadores, transportadores terrestres, embarcadores? Pois se o simples encontro de dados para produzir uma estatística nacional básica da movimentação no setor pode levar meses...

 

Os complexos portuários estão preparados para absorver as novas tecnologias do setor, operar com os novos equipamentos e de tudo isso tirar proveito econômico, benefício social? Tenho minhas dúvidas, ainda mais quando lembro que no moderno sistema de escaneamento de contêineres, o motorista da carreta também passa pelo feixe de radiação junto com a carga... – e a conta dessa irresponsabilidade vai ser apresentada logo adiante.

 

Além do quê, se nas mais modernas empresas vigora o conceito de que o grande patrimônio está nos recursos humanos, em saber utilizá-los para garantir condições competitivas face às rápidas mudanças de cenário, então os portos brasileiros praticamente não têm patrimônio. Até existem competências em seus quadros funcionais, mas isso de nada serve, se tais potencialidades não são valorizadas e aproveitadas efetivamente. Pelo contrário, o que se vê é o desrespeito, a desconsideração para com o profissional experiente, que teria muita contribuição a oferecer se existisse um sistema capaz de recebê-la.

 

São claras as regras do jogo, para que empresas privadas possam investir no setor? É só tentar ver como são tratadas as renovações de concessão para exploração de terminais portuários, para perceber que as regras até existem, mas são bem irrelevantes no contexto...

 

Têm agilidade as administrações portuárias para fazer face às mutantes necessidades de um mundo em rápida transformação? Ora, se elas ainda não conseguiram se adaptar às mudanças criadas pela Lei de Modernização dos Portos, que data de 1993... Quem duvida, que verifique como há empresas inteiras "penduradas" hierarquicamente no organograma de outras com as quais nunca tiveram relação, a exemplo das hidrovias paulistas sob o comando de uma companhia docas nordestina... só para exemplificar.

 

É a tudo isso que me refiro, quando me preocupo com a forma como os portos brasileiros estão sendo administrados, e o futuro que se vislumbra quando se expande para a frente os atuais cenários. Se há dois séculos, enfim, os portos brasileiros foram abertos ao comércio com as nações amigas, parece que esse ciclo está chegando ao fim, e as portas vão se fechando, seja pelo apodrecimento das antigas estruturas, seja pela falta de novas estruturas que ocupem efetivamente o seu lugar.

 

Fica a esperança: toda ação carrega em seu bojo a reação. O fundo do poço é a base para uma nova ascensão. Depois de tempestade vem a bonança. Mas também fica a pergunta: a tempestade está terminando, ou apenas começou?

 

Leia também

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* Fechamento dos portos às nações amigas (2)

* Fechamento dos portos às nações amigas (3)

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