Sexta, 10 Mai 2024

Nos últimos dias, o governo brasileiro lançou um amplo programa de incentivo ao desenvolvimento industrial. Já antes havia lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinado principalmente à solução de gargalos logísticos, geração de empregos e habitação. Criou ainda outra superestrutura para o setor portuário, na forma de uma secretaria especial (SEP), com status de ministério. Se o programa para as indústrias é novo demais para ser avaliado, a SEP e o PAC vêm encontrando todas as grandes dificuldades previstas para se firmarem como programas de ação, e talvez sirvam mesmo apenas como uma sinalização para que o mercado desperte, indicando caminhos a seguir.

 

Ao mesmo tempo, o Brasil recebe uma benigna pressão externa, no sentido de ampliar a sua oferta de alimentos ao mundo faminto, e eleva o suprimento internacional de energia renovável, através do álcool combustível. Também não devem faltar investimentos externos, uma vez que o País comemora sua reclassificação em termos de risco de investimento, e a falta de opções melhores para investir no chamado Primeiro Mundo vem desviando para o Brasil os olhares de muitos investidores. Afinal, dos quatro países em desenvolvimento mais atrativos para investimentos – Brasil, Rússia, Índia e China, o chamado Bric -, é o único ocidental e latino, o que facilita atrair negócios.

 

Portos brasileiros não podem estar fechados para a prática ao comércio marítimo com grandes complexos como Le Havre (foto), na França

 

Se "o gigante desperta", como dizem jornais estrangeiros, o perigo é, ao se levantar, escorregar no barro e sofrer grandes tropeços e tombos. De que adianta haver produção agrícola, se ela se perde nas estradas esburacadas, nos trens descarrilados, nos armazéns avariados? Para quê incentivar a industrialização, se isso pode trazer novos black-outs e prejuízos às antigas e novas empresas, por causa dos atrasos nos programas de geração elétrica? E, mesmo que toda essa produção chegue aos portos, com financiamentos e incentivos de todos os tipos, de que adiantará, se eles estiverem fechados na prática ao comércio marítimo?

 

Já discutimos nesta série as muitas questões relacionadas à infra-estrutura sucateada dos portos, à falta de dragagem e de acessos terrestres, equipamentos etc. Mas, há um outro motivador, talvez o mais importante, para o fechamento dos portos brasileiros. É a péssima gestão de recursos humanos, de gente – pois é, gente que faz o porto funcionar. E quando os portos param por uma greve, e acidentes ou atrasos ocorrem por falta de quem os saiba evitar, o que se vê é apenas a "ponta do iceberg", ficando ocultas do observador superficial todas as mazelas que formam a sua base.

 

É gente, com sua experiência prática, com os conhecimentos que acumula em sua profissão, que resolve as complicadas equações, cheias de variáveis, que garantem o sucesso de um embarque ou provocam o fracasso de toda uma negociação internacional, iniciada bem antes da produção do produto exportado. Pois, se essa mercadoria não chega ao destino dentro do prazo previsto, ou chega em más condições, há um prejuízo que não se esgota no pagamento do seguro, já que o importador não se arriscará novamente a comprar do Brasil. E, mesmo que a carga chegue em ordem e no tempo certo, o alto custo de transporte tira muito da competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Uma das principais razões para a participação do Brasil no comércio mundial ser ainda tão pequena.

 

Os portos brasileiros são tão importantes para a economia nacional que deveria ser considerada um absurdo indescritível a forma como o governo escolhe seus administradores, gente que às vezes nem sabe que porto está "administrando", já que não tem compromisso com resultados: tanto faz se o porto funciona ou não, desde que o polpudo ordenado do administrador – e paremos por aí, esquecendo propositalmente todos os outros inúmeros benefícios de tais cargos – pingue na conta bancária a cada mês...

 

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