Quinta, 09 Mai 2024

A cada cinco anos dobra o comércio internacional brasileiro, mesmo com o governo rezando para que não cresça muito a nossa economia, senão ficará ainda mais evidente a precariedade, por exemplo, da infra-estrutura nacional de geração de energia. Infra-estrutura? Palavra bem apropriada, é infra mesmo, pequena para as necessidades de um país que deveria crescer a passos ainda mais largos, para gerar as condições dignas de vida para seus habitantes. E que poderia crescer bem mais, se fossem criadas as condições para isso, como fizeram China e outros países, que em período semelhante da história recente saíram da quase nulidade em termos de comércio internacional e hoje são apontados como as grandes potências do século XXI.

 

Em 1867, o Brasil resolveu um de seus problemas mais cruciais, em matéria econômica. Como escoar a produção agrícola do interior de São Paulo, em direção ao porto de Santos, vencendo o desnível de 800 metros da Serra do Mar, que separa o planalto paulista da baixada santista? Aliando a tecnologia ferroviária inglesa ao arrojo de empreendedores brasileiros, surgiu a S. Paulo Railway, considerada então um marco na engenharia mundial.

 

Menos de 30 anos depois, com a exportação de café crescendo vertiginosamente, providenciava-se a duplicação dessa ferrovia. Mais 30 anos, a poderosa SPR ganhava enfim uma concorrente, pouco mais ao Sul, porém igualmente chegando ao porto santista. Ao mesmo tempo, começava-se a pensar em uma rodovia ligando a importante capital São Paulo à cidade portuária de Santos. Surgia a Via Anchieta, primeiro com uma pista, depois com duas, por onde inicialmente raros automóveis passavam.

 

Novo salto econômico brasileiro, década de 1970, era preciso duplicar aquela rodovia, e começou a surgir a Imigrantes, outro marco na engenharia viária. Também com uma pista: só no início deste século seria duplicada, e mal foi inaugurada, já está congestionada, fala-se na necessidade de mais uma rodovia. E diante dos problemas enfrentados também pelo porto de Santos, fala-se em um novo – e super – porto mais ao Sul, em Peruíbe. Gerando demanda de tráfego rodoviário e ferroviário.

 

Santos talvez seja a cidade brasileira com maior número de automóveis por habitante, e mesmo com toda a sua área urbana contida nos limites de uma ilha, compartilhada com a vizinha cidade de São Vicente, continua crescendo, para o alto.

 

Todo esse crescimento, que deveria ser motivo de alegria, é entretanto muito preocupante: é que, tanto na cidade, como em termos estaduais, e mesmo em nível nacional, não se nota qualquer planejamento efetivo desse crescimento. Idéias existem muitas, mas a inércia vence, pois nenhuma dessas idéias tem a defendê-la uma força política que determine a sua efetiva aplicação. No choque das idéias, o tempo passa. E a movimentação de cargas por via marítima cresce. E os gargalos logísticos vão se estreitando. As oportunidades de solução vão sendo perdidas, pois vão sendo rapidamente ocupadas as poucas áreas necessárias para se implantar os projetos salvadores. Os custos sobem.

 

Até que, em algum momento, essa verdadeira panela de pressão explodirá. Pode ser com um movimento maciço de transferência de plantas industriais e de cargas para outros locais do Brasil (ou da América do Sul). Pode ser com a inviabilização do porto para o tráfego de longo curso, que vai aos poucos sendo tomado pelos super-navios. Pode ainda ser pelo encarecimento das operações, com a demora na movimentação terrestre das cargas, provocada pelos congestionamentos viários e pela falta de terminais para recebimento de contêineres. E ainda pela elevação nos custos, causada pela falta de oferta e excesso de demanda, conforme dita uma eterna lei econômica, a da oferta x procura...

 

Já não se fala mais em planejar para daqui a vinte anos, ou mesmo para os próximos cinco anos. A situação é tal que é preciso planejar para os cinco anos que já se passaram, os problemas apontados não estão em um distante futuro, são a realidade atual. Citamos Santos, aliás, como poderíamos ter citado outros dos principais portos brasileiros, não é um problema apenas local, mas nacional. E sem solução, nem ao menos o remédio imediato.

 

Os portos, que há 200 anos um rei português abriu ao comércio internacional, hoje estão se fechando. E os portos são as portas econômicas de uma nação. No mercado mundial, abrem-se portas monumentais, espaçosas, brilhantes de tão novas. Para concorrer com elas, o Brasil oferece portas estreitas, que rangem e emperram quando se tenta abri-las. Cheias de correntes que é custoso retirar. Com dobradiças cada vez mais enferrujadas, dificultando a movimentação.

 

Entre a moderna e espaçosa porta escancarada, e a antiga passagem cheia de correntes e ferrugem, você, que não é nenhum Indiana Jones, qual escolheria?

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