Sábado, 28 Dezembro 2024

200 anos depois do ato do rei português d. João VI, que em janeiro de 1808 abriu os portos brasileiros às nações amigas - que, na prática, significava entregar o comércio marítimo brasileiro aos ingleses, mas aí já é (outra) História -, vemos preocupados uma tendência inversa, isto é, o fechamento dos portos brasileiros, não só aos amigos, como também aos inimigos e aos próprios naturais da terra... E nem será necessário um documento assinado pela autoridade máxima para isso, é só deixar que a situação atual dos portos evolua naturalmente...

 

Delírio? Não. De fato, o comércio marítimo brasileiro está crescendo, e com ele a movimentação de cargas nos portos. O problema é parecido com o de um balão de gás: incha, incha... até que explode, pois a frágil estrutura do balão não resiste a tanto crescimento.

 

E são vários, demasiados, os fatores que poderão levar a essa explosão. Todos conhecidos por quem acompanha minimamente o noticiário sobre a movimentação de cargas no Brasil. Fartamente comentados, debatidos. As promessas de solução também são muitas, tantas que o leitor mais desavisado teria motivos para acreditar que estamos no melhor dos mundos. Afinal, cada autoridade do setor tem seus planos para tudo, qual é a que vai declarar o contrário, que desconhece o que vem acontecendo bem debaixo de seu nariz? Só mesmo um certo presidente pode afirmar impunemente que não sabe o que se passa à sua volta, mas não vamos aqui falar de alta (?) política nacional, e sim de sistema (?) portuário.

 

Acesso terrestre é um dos fatores preocupantes. De mãos dadas com as montadoras de veículos, há 50 anos o governo cria estradas de rodagem ("governar é abrir estradas", disse em 1957 o presidente Juscelino Kubitscheck), abandonando ferrovias, navegação costeira e fluvial. Projetos existentes desde o século XIX, todos viáveis e necessários, em pleno século XXI continuam apenas como hipótese remotamente lembrada. Exemplos? Interligação das bacias hídricas brasileiras, criando uma hidrovia do Amazonas ao Rio Grande do Sul, ligada ainda com outra entre o Sul e o Nordeste do Brasil. Interligação ferroviária nacional. Um sistema efetivo de transporte costeiro de cargas e passageiros desde o Rio Grande do Sul até os confins da Amazônia.

 

Em anos recentes, nem a manutenção das rodovias existentes é feita, quanto mais a construção de novas. Os buracos já começam a se juntar, de tantos que são, e cada um deles tem a história de uma carga destruída, de um grave acidente, de inúmeras vidas perdidas. Faltam acostamentos para veículos e motoristas que precisem parar em situação de emergência. Falta sinalização diurna e noturna, e toda a infra-estrutura que se imagina que uma rodovia possa e deva ter. Nem falemos da estrutura que se esperaria de uma estrada do século XXI. A que existia por volta de 1950 já estaria de bom tamanho...

 

Há muitas razões para as nossas preocupações. Tantas, que ficarão para a próxima coluna...

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