Sexta, 10 Mai 2024

Em países como o Brasil, 1º de abril é o chamado Dia da Mentira, lembrança de antigas eras em que o calendário começava nessa data. Depois de inúmeros comentários sobre os riscos provocados pelo escaneamento de contêineres nos portos, é então hora de buscar um pouco de verdade em toda essa história.

 

É fato que o risco de exposição do trabalhador à radiação durante o escaneamento de contêineres é menor que o que ocorre durante uma radiografia, mas sabe-se bem que é um risco cumulativo, e trabalhadores submetidos continuamente à radiação talvez possam desenvolver doenças profissionais daí decorrentes.

 

Vale citar que existem nos portos outras fontes de radiação, mesmo que se trabalhe apenas com cargas neutras. Um exemplo é o radar dos navios, que nos portos deve estar desligado, fato que nem sempre ocorre. Em tese, com a aparelhagem bem regulada, o risco é menor do o do indivíduo que usa um telefone celular... Com a aparelhagem bem regulada...

 

Para os especialistas, o risco nos portos é mínimo para trabalhadores que exerçam suas funções a uma distância mínima de 10 metros das fontes de radiação. Mas, e os motoristas que passam com os veículos sob o feixe de radiação do scanner?

 

Em portos como os do Reino Unido, verificou-se haver até mesmo o risco marginal de a emissão resultante de um radar provocar a ignição de tanques de combustível próximos, da mesma forma que nos postos de gasolina existe a instrução de não provocar faíscas elétricas ou campos elétricos como os resultantes de um telefone celular em operação. Um relatório inglês, embora minimizando tal risco, não deixa de mencioná-lo.

 

As minuciosas pesquisas internacionais consideram inclusive a quantidade de radiação incidente em cada centímetro cúbico da carga, para verificar se alimentos e outros produtos expostos a essa verificação podem ser alterados ou contaminados. No Brasil, as próprias autoridades reconhecem que os portos, em sua maioria, estão desaparelhados para tratar de questões ambientais. Estarão entretanto preparados para lidar com radiação e saúde do trabalhador? Este colunista tem sérias dúvidas a respeito, bastando ver como ocorrem mortes nos portos por falhas operacionais, falta de equipamentos de proteção etc.

 

Um relatório da Alfândega australiana indica que a operação dos scanners de contêineres é segura, explicando porém que durante essa verificação os motoristas são levados para instalações de segurança contra radiação, que garantem níveis de exposição inferiores a 50% do limite permitido pelos padrões da Comissão Internacional de Proteção de Radiação. Será que essas instalações existem em todos os lugares onde funcionam tais aparelhos no Brasil? Não ria, caro leitor. É sério.

 

Os equipamentos em operação nos portos australianos têm múltiplos níveis de intertravamento, para evitar que um acidente libere radiação em níveis intoleráveis, havendo inclusive severo controle sobre o acesso às chaves que colocam o equipamento em atividade. E os operadores recebem treinamento específico, do mesmo modo como são treinados os operadores de equipamentos radioativos dos hospitais e clínicas.

 

No Brasil, os equipamentos apareceram nos portos, e nenhuma explicação foi dada à sociedade sobre sua segurança, as medidas preventivas, eventual uso de crachás detetores de radiação pelos operadores e demais pessoas que tenham contato constante com tais equipamentos.

 

Um relatório da USP, por exemplo (Modelo Intermodal de Controle de Carga – Simba Projetct), analisa formas de rastreamento dinâmico no transporte de cargas ao Porto de Santos, incluindo a verificação com o caminhão em movimento, por equipamentos fixos no seu percurso. Pelo menos o arquivo disponível na Internet nada cita quanto aos aspectos de segurança e saúde do trabalhador, e nenhuma imagem desse arquivo indica que eles estejam sendo levados em consideração.

 

Ou seja: no Brasil, a garantia é a palavra da autoridade, que nunca admitirá riscos. Será que se pode confiar que o Grande Irmão de Orwell - aquele que tudo vê e tudo provê – garantirá a segurança de cada um, ou cabe a cada um investigar em que condições tais equipamentos são operados, se as normas de segurança existentes são satisfatórias e, principalmente, se todas elas são respeitadas?

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