Sábado, 04 Mai 2024

Hoje, vamos praticar a arte do elogio. Para que não digam que só criticamos, que só vemos o lado mau das coisas. Se você vir algo ruim nesta página, tenha a certeza: a crise está na sua cabeça, como vive dizendo um amigo meu, o Aderbau, fotógrafo lá em Cubatão.

 

Comecemos elogiando a livre iniciativa, tão rara neste Brasil cheio de normas, leis e regulamentos...  tantos que se convencionou dizer que este é um país cartorialista. No Porto de Santos, por exemplo, não há necessidade de se participar de licitações para obtenção de áreas, é só mostrar que não há ninguém interessado na área em que você está de olho, e ela já é sua. Sem toda aquela burocracia, papelada legal, demora de meses para a realização de concorrência...

 

Aliás, para quê licitação? Em uma das raras já feitas, a empresa vencedora ofereceu realizar a obra por metade do preço básico estipulado, e ainda foi contestada por outra, que desejava oferecer menos ainda... Numa tal de avenida perimetral...

 

O Porto de Santos tem ainda uma incrível facilidade de transformar fabulosos prejuízos em maravilhosos lucros. São excelentes os seus contadores e auditores, tanto que conseguem ajustar débitos e créditos de acordo com as necessidades. Se o porto precisa de recursos federais, fabrica-se um prejuízo contábil. Se, pelo contrário, é preciso mostrar eficiência de seus gestores, rapidinho surge um lucro recorde. Ou então, há uma solução simples: cria-se uma nova empresa só com os ativos, dando-se os passivos para a Viúva (o que – é bom explicar – talvez pareça uma tremenda sacanagem, mas não tem nenhuma conotação sexual...)

 

Santos é um porto tão rico, que até dispensa recursos federais para investir em obras. Assim, ao mesmo tempo que economiza o dinheiro público, ajuda os co-irmãos de outros estados, mais necessitados desses recursos. E evita assim incomodar o governo federal com a apresentação de bons projetos de obras e melhorias da infra-estrutura.

 

E não se pense que é por falta de imaginação. Uma vez, sonharam fazer um tal de "mergulhão" na via de acesso ao porto. Iam mergulhar a via no lodo do estuário, com caminhão, trem e tudo o mais. Depois, surgiu outra idéia. Mas, como aquela era tão boa, já ouvi falar que estão de novo pensando nela, nestes últimos dias...

 

Também não é por falta de competência que os projetos deixam de ser encaminhados a Brasília, imagine. Em certa época, por exemplo, começaram a instalar um terceiro trilho entre as duas margens do porto. Dos dois lados, as equipes começaram colocando esse trilho à esquerda, alinhado com os dois já existentes. Quando as equipes se encontraram, os engenheiros rapidamente encontraram um jeitinho bem brasileiro de fazer as esquerdas se juntarem, por meio de um complexo sistema de desvios. Incrível!

 

Na verdade, as autoridades portuárias santistas compreenderam que é até melhor não investir em melhorias. Não se pode estimular os trabalhadores a continuarem atuando no cais, pois o serviço é cada vez mais feito por máquinas, e uma forma de reduzir o contingente de pessoal é deixar que as instalações se degradem, vitimando um aqui, outro ali. Assim, eles se retiram (ou são retirados) naturalmente, evitando o problema social causado pelas demissões em massa, como no passado. E os espertos dirigentes percebem ainda uma outra vantagem nesse processo: com a degradação das instalações, fica mais fácil entregá-las depois à gestão particular, por qualquer preço oferecido, já que "o que vier é lucro", como se dirá.

Nossas autoridades portuárias são muito honestas. Tanto, que não querem se envolver nesse mar de lama que cerca o porto. Não importa que as instalações portuárias santistas tenham hoje menos profundidade do que um século atrás, e não possam receber os grandes navios da atualidade, pelo menos com plena carga. Isso obriga a que venham mais navios ao porto, e assim Santos pode registrar novos recordes no número de navios entrados por ano, e na estatística esse número sempre salta aos olhos...

 

Por falar em números, tem um maravilhoso: na última temporada de cruzeiros, sete transatlânticos foram agendados, com pelo menos um ano de antecedência, para escalarem no porto no mesmo dia. Fizeram desfile na Ponta da Praia, teve até banda de música, milhares de turistas num só dia. As autoridades se jactaram, com justificado orgulho, de ter feito uma série de improvisos para atender a todo mundo...

 

Também são autoridades muito práticas. Essa história de ISPS Code, por exemplo, é só "para inglês ver", não justifica ficar perdendo tempo com isso. Afinal, desde quando essas maquininhas – que nunca funcionaram direito – vão impedir que o Bin Laden, se quiser, faça um festival no porto santista? Afinal, não é preciso ser treinado pela CIA como o famoso árabe para incursionar por entre os navios, com uma daquelas lanchas "voadeiras" que os piratas pés-de-chinelo usam, não é mesmo? Mais prático é comprar armamento pesado e aproveitar a experiência de um policial militar para promover a segurança do porto...

 

E que não se critique a conservação do porto, hein?!? Pois não é que no canal de navegação ainda subsistem destroços submersos de um navio incendiado em 1974, o Ais Giorgis, tão resistentes que conseguem até afundar um rebocador? Esse é um pessoal que conserva o que é seu, e respeita as tradições... Até o museu do porto é digno de ir para um museu...

 

Por fim, um elogio especial ao juiz que pretendia – por via de conseqüência – paralisar todo o transporte terrestre na área do porto e cidades próximas, através da ordem de fechamento de um pátio regulador de veículos destinados ao porto, situado em Cubatão. Tinha o juiz excelentes intenções, pena que seus superiores pensassem diferente. Queria o juiz regional colaborar com o meio-ambiente, reduzindo a poluição atmosférica ao paralisar o trânsito nas rodovias e cidades... Seria um bom exemplo para o País, quando se comemorava a Semana do MeioAmbiente. Além disso, evitaria que os produtos nacionais deixassem o Brasil, em troca de divisas que já pouco representam com o dólar derrubado: seria mais mercadoria sobrando, para gáudio de nosso povo...

 

É... talvez influenciado pela data de hoje, estou cada vez mais apaixonado pelo porto santista.

 

Então, caro leitor, deixo-lhe duas opções: se gostou desta matéria, está convidado a registrar aqui outros elogios como estes. Principalmente nos últimos anos, que o porto santista merece, e o leitor bem sabe. Se não gostou, lembre-se: a crise está na sua cabeça... como já me disse o Aderbau...


Santos tem sido muito criticado. Vamos elogiar um pouco?...

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