Sábado, 28 Dezembro 2024

Li na manhã desta segunda-feira no caderno Aliás, publicado aos domingos no Estadão, que um editor inglês vem pregando a adoção pelas casas editoras de critérios mais seletivos na escolha dos títulos que serão publicados. Sua intenção é reduzir o uso de papel para poupar algumas árvores.

 

O que o editor britânico poderia fazer é ler a série latino-americana Dulcinéia Catadora, projeto que edita livros com capas feitas de papelão comprado de catadores por um real o quilo, enquanto o preço normalmente fica em torno dos 30 centavos. Além disso, cada livro é um objeto único, pois a arte das capas é desenhada depois do livro pronto por crianças filhos dos próprios catadores. Os editores escrevem que o projeto Dulcinéia Catadora “se propõe a oferecer a pessoas que nunca tiveram contato com a produção artística, a possibilidade de desfrutarem da criação”:

 

Todas as iniciativas do Dulcinéia Catadora têm sempre o compromisso com a distribuição do conhecimento e da renda, num ambiente de criatividade.

 

A coordenadora do Dulcinéia no Brasil, Lúcia Rosa, explicou no lançamento do projeto aqui em Santos, no comecinho de setembro lá na livraria Realejo, que o projeto é caracterizado como um coletivo de intervenções urbanas, sem hierarquias entre os escritores, catadores e crianças, afinal sem papel não há livro nem leitura do jeito que conhecemos hoje (o projeto conta com o apoio do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis). E os livros são baratíssimos, custam cinco reais.

 

Entre os nomes lançados, estão alguns já conhecidos na literatura nacional como os poetas Manoel de Barros, Haroldo de Campos e Glauco Mattoso, que lançaram pela Dulcinéia Catadora, respectivamente, os títulos Auto-retrato aos 90 anos, O anjo esquerdo da poesia e Delírio líricos. Wilson Bueno, com Chuvosos, e Jorge Mautner, com Susi, são outros dois nomes de envergadura nacional que publicaram pelo projeto.

 

Em Santos, o lançamento ocorreu em 01º de setembro e trouxe à Realejo dois garotos que faziam capas nas mesas da calçada do Gonzaga e quatro autores: Carlos Pessoa Rosa, Daniel Faria, Marcelo Ariel e Flávio Viegas Amoreira. Amoreira, escritor santista que já passou algumas vezes aqui pelo Porto Literário, publica pela Dulcinéia Catadora seu sexto livro, Os contornos da serra são adeuses do oceano ao cais.

 

Carlos Pessoa Rosa, companheiro de Lúcia, publica sua primeira ficção, Não sei não, mas já milita na literatura como editor do site Meiotom. Faria e Ariel, que podem ser lidos na internet, chegam também ao papel pela primeira vez: “Foi a primeira chance de ver minha poesia, que já estava na internet, em outra materialidade. Agora posso passar a mão pela capa”, revela Faria, autor de Matéria-prima.

 

Ariel chega ao papel com Me enterrem com a minha AR 15 (Scherzo-Rajada). Sobre sua obra, ele disse o seguinte no lançamento: “Eu não acredito em marginalidade. Marginalidade é coisa de Brasília”. Dica com que Porto Literário deixa a leitura dos livros de Ariel e Amoreira para a próxima semana. 

 

Epílogo

Dulcinéia Catadora integra a rede latino-americana de “projetos-irmãos” ao lado de Eloisa Cartonera (Argentina), Sarita Cartonera (Peru) e Yerba Mala Cartonera (Bolívia). Lúcia Rosa conta que há a possibilidade de troca de autores entre os quatro núcleos, sendo que o núcleo brasileiro já publicou Picolés, do argentino Cristian De Napoli, Cara de anjo, do peruano Oswaldo Reynoso, e Anotações para uma cúmbia, do costa-riquense Luis Chaves.

 

Referências:

Dulcinéia Catadora: http://paginas.terra.com.br/arte/dulcineiacatadora/

(se o link não funcionar, há outro pela página principal do Meiotom)

Meiotom: www.meiotom.art.br

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