Mesmo com mais um acidente da ALL em Campinas (com morte), vamos abordar os trens chineses de alta velocidade neste artigo.
A China investiu fortemente nos últimos anos numa rede de trens de alta velocidade, a qual atinge atualmente 9.000 km (já se tornou a maior rede de trens de alta velocidade do mundo) e já chega a diversos pontos de um país que é ainda mais extenso que o Brasil. A rede de alta velocidade, a partir da capital Beijing já chega a pontos bastante distantes, como Guangzhou, cidade vizinha de Hong Kong (2.400 km, percorridos em 8 horas) e Shanghai (1.348 km em 4 horas e meia). A previsão é que a China chegue até 2020 com uma rede de 16.000 km de linhas de alta velocidade.
Os primeiros trens de alta velocidade que começaram a operar na China são sem dúvida de tecnologia alemã (como também é o Maglev de Shanghai), dado seu design ser o mesmo dos ICE alemães. Porém, uma nova geração de trens já está sendo fabricada na China.
Fotos: Paulo Roberto Filomeno
Duas composições paradas na estação de Beijing
O trem que liga Shanghai a Beijing parte da estação Hongquiao, junto ao aeroporto de mesmo nome, que é um dos dois aeroportos internacionais de Shanghai. A construção impressiona pelas suas dimensões e sua modernidade, nos dá impressão que estamos em um aeroporto ao invés de uma estação ferroviária. Felizmente, todas as indicações e informações também são apresentadas em inglês.
Estação ferroviária Hongqiao, em Shanghai
Partimos de Shanghai às 11h00 num trem de 18 carros, composto de três classes (econômica, executiva e primeira) e um carro restaurante. Esse é um dos 34 trens diários que fazem esse percurso (além de outros 4 horários noturnos, de menor velocidade, mas que partem da estação central de Shanghai). Dez carros eram de classe econômica, cinco de executiva e dois de primeira, além do carro restaurante. A viagem durou 4h53 min, num percurso de 1318 km com duas paradas, ou seja, a uma velocidade média de 269 km/h. Todos os carros tem um painel com um velocímetro, vê-se que a velocidade de cruzeiro do trem varia entre 295 e 305 km/h.
Vistas do carro restaurante e das três classes do trem (econômica, primeira e executiva)
No carro restaurante são servidos salgados e doces em pacotes, bebidas e refeições prontas, que são esquentadas na hora que são pedidos. Porém, não adianta muito perguntar o que é servido nos pratos prontos, primeiro porque você não vai entender, segundo, se entender, não vai saber o que é. É melhor olhar e ver se agrada. Como existe um ditado que diz “Em Roma, aja como os romanos”, deve existir também o ditado equivalente para a China, então, já sendo mais que 1h30 da tarde e a fome apertando, o que eu fiz foi pedir um dos pratos e comê-lo.
Uma das opções de pratos servidos no carro restaurante e o balcão de atendimento
A região que o trem Shanghai-Beijing atravessa tem um relevo bastante favorável, sem montanhas ou acidentes geográficos dignos de nota, existem alguns túneis que o trem atravessa, mas não houve nenhuma travessia de cadeias de montanhas ou grandes rios. Porém, os próprios chineses que nos acompanhavam fizeram questão de dizer que a maioria das linhas de alta velocidade atravessa relevos montanhosos, nos quais diversas obras de arte tiveram que ser construídas para permitirem a circulação de trens de alta velocidade. Para corroborar este fato, vale mencionar que a linha aberta alguns anos para Lhasa (capital do Tibete), apesar de não ser de alta velocidade, foi construída grande parte em via elevada sobre permafrost (tipo de solo pantanoso que se congela no inverno) e atinge altitudes de 5000 metros, com carros pressurizados e suprimento de oxigênio disponibilizado aos passageiros.
Como já mencionamos anteriormente, os chineses não estão brincando de trenzinho. Haja vista que apenas cinco anos após a inauguração do sistema de trens de alta velocidade da China, ele já transporta mensalmente quase duas vezes mais passageiros do que os voos domésticos nacionais. Com o tráfego crescendo em média 28 por cento ao ano durante esses anos, a rede de trens de alta velocidade da China transportará mais de 54 milhões de passageiros até o início do ano que vem.
Referências adicionais
The New York Times (em português) - Sistema de trens de alta velocidade faz sucesso na China - Keith Bradsher – 8/10/2013
The Man on the Site 61 – Site (www.seat61.com/china) – Informações sobre viagens de trem em todo o mundo (página em inglês)