Sábado, 22 Novembro 2025
Opinião | Gabriela Guimarães e Ícaro Medeiros
Gabriela Guimarães é VP de Novos Negócios e Ícaro Medeiros é gerente de contas para empresas chinesas, ambos na DHL Supply Chain Brasil
Gabriela Guimarães

Mesmo com as longas distâncias geográficas e culturais, a forte parceria comercial entre China e Brasil deve continuar crescendo. Os investimentos chineses já estabelecidos até agora, que somam US$ 66 bilhões investidos no Brasil nos últimos 14 anos e, ainda, projeções de que companhias chinesas dominarão 50% do e-commerce brasileiro em pouco tempo, mostram que essa cooperação deve ser duradoura.

Apesar da grandeza dessa parceria entre as duas potências globais, ainda existem muitos desafios a serem superados, com as operações logísticas tendo um papel fundamental. Entre os desafios presentes, podemos citar as diferenças culturais, a complexidade do ambiente de negócios e as particularidades regulatórias. As peculiaridades do cenário logístico nacional, com suas longas distâncias e concentração no modal terrestre, também se somam a este cenário.

Diante desse cenário, separamos cinco recomendações práticas que podem apoiar as empresas chinesas a aumentar sua competitividade e eficiência logística no Brasil.

1 - Melhorar o aproveitamento de estruturas de armazenagem
Uma estratégia importante é aproveitar o potencial de estruturas logísticas descentralizadas, como Centros de Distribuição (CDs) e hubs (XDs) em regiões estratégicas fora do Sudeste. Embora o foco seja o maior mercado consumidor do país, é possível chegar a uma escala nacional com eficiência de custo e melhor experiência do cliente avançando com CDs e XDs em estruturas no Nordeste e em outros polos regionais. No setor automotivo, por exemplo, há espaço para desenvolver estratégias robustas de inbound to manufacturing (I2M), ou seja, o abastecimento direto das linhas de produção com alto nível de controle, sincronização e qualidade.

Ícaro Medeiros

2 - Escolher um parceiro local flexível e adaptável
Ter um parceiro logístico que conheça as exigências do mercado brasileiro é essencial para garantir precisão nas entregas, visibilidade da cadeia e custos sob controle. As empresas chinesas estão acostumadas a trabalhar com contratos sob demanda, logo é necessário que seus parceiros tenham também flexibilidade para se adaptar às flutuações de volume. Um case da DHL Supply Chain com um marketplace de moda ilustra isso: a chegada da empresa ao Brasil exigiu um modelo focado em um centro de recebimento (receiving center), com soluções sob medida capazes de absorver volumes variáveis, adaptar a operação em tempo real e manter o SLA exigido — mesmo durante picos significativos de demanda — assegurando estabilidade operacional e custos competitivos.

3 - Estabelecer suporte jurídico e regulatório de qualidade
As companhias chinesas precisam ter suporte amplo nas áreas jurídica, regulatória e tributária brasileiras, assim como um parceiro logístico capaz de implementar rapidamente estruturas complexas. No Brasil, o transporte de cargas exige muitos procedimentos burocráticos, especialmente em operações domésticas. Um operador experiente nesse contexto facilita a antecipação de riscos, orienta decisões estratégicas e adapta soluções às necessidades regionais, garantindo conformidade e eficiência.

4 - Adaptar-se às exigências do e-commerce brasileiro
No e-commerce, o consumidor brasileiro é um dos mais exigentes do mundo quanto a prazos de entrega. O crescimento sustentável desse mercado continental, com mais de 200 milhões de habitantes, só existe com uma logística robusta, planejada e adaptada às particularidades regionais. Além da demanda, é essencial prever vendas com alta acurácia — volume, sortimento e posicionamento do estoque — além de estruturar soluções de armazenagem e transporte capazes de absorver os picos, como na Black Friday. Investimentos em tecnologia e automação tornam-se cada vez mais decisivos.

5 - Relacionamento e confiança: a chave para bons negócios
Os parceiros logísticos brasileiros devem estar preparados para lidar com diferenças culturais, especialmente nas relações China–Brasil. As empresas precisam se adaptar ao estilo de trabalho e às expectativas dos parceiros chineses, construindo confiança no curto e no longo prazo. Os chineses utilizam o termo “guanxi”, conceito que vai além do networking e que se baseia em confiança, reciprocidade e compromisso contínuo. Em relações comerciais duradouras, esse pilar é determinante.

A parceria Brasil–China abrange setores econômicos de grande porte, e a logística se coloca como eixo estratégico, desde a entrada das companhias no país até o processo de consolidação nos próximos anos. Para essas grandes empresas, o Brasil não é apenas um mercado em expansão: é também uma base aberta à experimentação, tornando-se um dos principais destinos estratégicos para a internacionalização de marcas chinesas.

Gabriela Guimarães e Ícaro Medeiros
Gabriela Guimarães é VP de Novos Negócios e Ícaro Medeiros é gerente de contas para empresas chinesas, ambos na DHL Supply Chain Brasil
 

 

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

Deixe sua opinião! Comente!