Nas décadas de 1960 e 1970, o inesquecível jornalista Olao Rodrigues, autor do Almanaque de Santos, mantinha aos domingos no Jornal A Tribuna a coluna No Tempo de Nossos Avós, que lembrava fatos do passado santista.
O reduto do café e de agências de navegação, a Rua XV de Novembro
com a Frei Gaspar. Era conhecido por Quatro Cantos. Col. do autor
Em uma das lembranças, de 1920, são citadas algumas agências marítimas e os navios por ela representados.
Por ser eu um apreciador de navios de todos os tempos e de imagens antigas da Cidade, guardei a matéria que aqui repasso, ilustrada com cartões-postais.
O transatlântico britânico Avon, da famosa classe. Os nomes dos
navios começavam todos com A: Avon, Aragon, Amazon, Araguaya
e Astúrias. Foram construídos entre 1905 e 1907. Deram uma nova
dimensão ao serviço de passageiros na época. Col. do autor
Eis o texto do memorável Olao Rodrigues:
No dia 20 de fevereiro de 1920, o Lloyd Brasileiro anunciava a chegada ou espera dos navios Maranguape, Cuiabá, Benevente, Purus, Sírio, Oyapoch e Laguna.
A Mala Real Inglesa, com agência na Rua 15 de Novembro, n.º 191, publicava a lista dos navios aguardados no porto: Avon, Deseado, Desna e Desmerara, custando a passagem de terceira classe para Lisboa 325$000, incluídos todos os impostos.
A Praia do Gonzaga nos anos 1920, na altura da Avenida Ana Costa.
O cartão-postal é rico em detalhes. Destaque para o bonde Y e
os automóveis que circulavam na época. Col. Wanderley Duck
A United States and Brasil Steampshire Line, de que eram agentes William Loway & Cia., estabelecida na Rua 15 de Novembro, 161, aguardava a chegada dos navios norte-americanos Opequan e West Hobomre.
No dia 20 de fevereiro de 1920, chegava ao ancoradouro o navio espanhol Martin Saenz, da frota Pinilos Izquierdo & Cia., de que eram agentes Troncoso Hermanos, estabelecidos na Praça da República, 40.
Os barcos franceses, tanto de passageiros como de carga, frequentavam quase diariamente o porto. Da frota da Chargeurs Réunis eram esperados em fevereiro de 1920 o Caromma, Ceylan, Belle, Isle, Asie, Liger, Samaia, Ango, Bougainville, St. Elena, Port de Troyon, Amiral e Vilaret de Joyeuse.
Um dos navios da armadora francesa Chargeurs Réuni. Todos
eles eram muito conhecidos. Na imagem o Groix. Col. do autor
Antunes dos Santos & Cia., que tinha agência na Rua 15 de novembro, n.º 167, anunciava a chegada do navio japonês Negato Maru e a firma Wilson Sons & Cia., com escritórios na rua 24 de Maio, n.º 58, a dos navios ingleses Aidan e Francis. Os barcos suecos Balboa, Oscar, Fredik, Valparaizo e Deutning Sophia eram anunciados em fevereiro de 1920 pelos agentes Luís Campos & Cia., com escritórios na Praça da República, 22.
Não custa lembrar que na época eram exportados cachos de bananas que vinham de várias localidades do Litoral paulista para o mercado europeu e argentino. Quanto ao café eram exportadas milhões de sacas anualmente. Em relação à importação, importávamos de tudo, desde alfinetes até maquinários. Por essas razões existiam inúmeras agências de navegação nacionais e estrangeiras, principalmente nas ruas XV de Novembro e do Comércio e na Praça da República.
A classe D da Mala Real Inglesa (Royal Mail Line) era composta pelos
seguintes navios mistos: Deseado, Demerara, Darro e Drina. Mediam
157,5 metros de comprimento. As viagens inaugurais desses navios
aconteceram a partir de 1912. A cantora Carmem Miranda foi passageira
do Deseado e passou por Santos nos anos 1930, rumo a Buenos Aires. Col. do autor.