Sábado, 28 Dezembro 2024

A armadora epanhola Pinillos Y Ysquierdo Cia, fundada em 1884, começou operar na linha da Costa Leste da América do Sul em 1908 com dois navios: Cadiz e Barcelona.

Em 1911 e 1913 foram construídos dois novos transatlânticos de porte médio para o transporte de passageiros e cargas, o Infanta Isabel e o Príncipe de Astúrias.


Cartão-postal original do transatlântico espanhol Principe de Asturias,
que naufragou após forte colisão na lage da Ponta da Pirabura,
no dia 5 de março de 1916. Col. do autor.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a Espanha era um país neutro, o que permitiu que esses navios cotinuassem operando na linha Barcelona/Buenos Aires e portos intermediários. A viagem redonda, Barcelona-Buenos Aires-Barcelona, levava 30 dias.

As principais características desses novos navios eram: duplas hélices, casco de fundo duplo, ventiladores elétricos nas principais dependências e nos camarotes de primeira classe. Deslocavam 8.371 toneladas e tiham o comprimento de 145 metros. Foram construídos nos estaleiros Russel & Co. de Glasgow, na Escócia.


O vapor Infanta Isabel, gêmeo do desafortunado Principe de Asturias,
da armadora espanhola Pinillos, Isquierdo Y Cia, fazia a linha
Barcelona, Cadiz, Las Palmas, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e
Buenos Aires. Foi construído na Escócia, em 1912. Col. do autor.

O Príncipe de Astúrias, o transatlântico protagonista deste artigo, saiu de Barcelona em 17 de fevereiro, iniciando assim a sua sexta viagem. Escalou Cadiz dia 21 e Las Palmas dois dias depois. Após deixar as Canárias, o navio atravessou o Atlântico rumo a Santos - porto que não alcançaria. A bordo estavam 578 pessoas entre passageiros e tripulantes.

Por volta das 4h30 do domingo 05 de março, em plena navegação, colidiu com as pedras da Lage da Ponta da Pirabura, no extremo leste da Ilha de São Sebastião, também conhecida como Ilhabela. Após violento choque de proa contra as pedras, o Príncipe de Astúrias começou a afundar rapidamente em águas pouco profundas. Sofreu um enorme rasgo por boreste (lado direito do navio), por onde o mar invadiu o seu casco.


Cartaz publicitário da Pinillos Izquierdo Y Cia, de 1909. Col. do autor.

A maioria de seus passageiros e tripulantes dormiam - depois de um animado baile de carnaval - no momento do acidente. O clima a bordo foi de pânico e não houve tempo para organizar a evacuação. O navio desapareceu em cinco minutos, levando consigo 477 vidas. Os sobreviventes salvaram-se a nado ou agarrados a objetos de bordo como pedaços de cortiça. Muitos foram salvos pelo cargueiro francês Veja da Sociéte Générale de Transports Maritimes, que navegava pelo local

O motivo do abalroamento foi a forte chuva e o denso nevoeiro na área de navegação, impedido que tanto o comandante José Lotina como o oficial de quarto (serviço) avistassem a fatídica rocha. O corpo do comandante não foi encontrado e muitos afirmam que ele se suicidou na ponte de comando após o acidente mais trágico ocorrido na costa brasileira. A agência marítima Troncoso Hermanos representava em Santos a Pinillos Izquierdo Y Ca.


O Príncipe de Astúrias indo a pique de proa, num dos mais
trágicos naufrágios na costa nacional. Reprodução.

Vale lembrar que uma das cargas que estava em um dos porões era um conjunto de 20 estátuas, aguardadas ansiosamente em Buenos Aires. Elas fariam parte do moumento La Carta Magna y Lãs cuatro Regiones Argentinas, que seriam erguidas em comemoração ao Centenário da Independência Argentina. Mais tarde, foi encomendado um outro conjunto de estátuas, hoje erguidos na capital portenha.

A história do Príncipe de Asturias é contada em maior profundidade no livro do mesmo nome do amigo e jornalista José Carlos Silvares, bem como nas obras, dos também amigos José Carlos Rossini - Sinistros Marítimos na Costa do Estado de São Paulo (1999) - e da dupla João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo - Navios e Portos do Brasil - Nos Cartões-postais e Álbuns de Lembranças (2006). Todos de ótima qualidade.

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