Sábado, 04 Mai 2024

Anos atrás, guardei um recorte de jornal do início dos anos 1950, que encontrei entre as coisas deixadas por minha avó materna Bemvinda Giraud. Esse recorte continha um texto um tanto estranho contado por um viajante que vinha a bordo do transatlântico italiano Conte Grande, de Gênova para Santos, com escalas intermediárias em Lisboa e Rio de Janeiro. O fim da rota do navio era Buenos Aires, passando antes por Montevidéu, no Uruguai.

 

As partidas dos navios sempre obedeceram a um ritual
próprio,
onde amigos, parentes e curiosos iam se despedir
dos viajantes,
como a imagem que mostra a partida do nosso
Cisne Branco Rosa
da Fonseca, partindo para um Réveillon no
final dos anos 60.
Acervo: Laire José Giraud

 

Em certo trecho desse texto, o viajante, que se chamava Henrique, conta uma passagem de forma suscinta, o dia da passagem do Ano Novo, num ano da década de 1930. É bom lembrar que na época as pessoas se divertiam de uma forma mais conservadora e recatada. As festas não iam até tão tarde como acontece nos dias de hoje. Como exemplo: à uma hora da madrugada, as pessoas começavam a se recolher às suas cabines, ao contrário de hoje, quando as pessoas, nesse horário, estão chegando para a celebração. Portanto, os hábitos no decorrer do tempo se modificam.

 

O transatlântico espanhol Cabo San Vicente, da Ybarra Y Cia.

passando pela Ponta da Praia, próximo à antiga ponte dos
práticos, em 1970. Acervo: José Carlos Rossini.

 

Nesse trecho, notamos que o viajante estava só, a bordo, cheio de recordações e vivia na realidade, além de ser um homem de aspecto sério, não se deixando levar pelas tentações causadas por uma bela passageira. Para que o leitor entenda o que quero dizer, transcrevo abaixo parte do referido texto, cujo título era Doce Vida de Bordo:

 

Doce Vida de Bordo

Depois da sexta, quando me vestia para ir tomar um chá, o garçom me entregou um convite do capitão. Endereçada a todos os passageiros para que compareçam a uma recepção, no salão de festas para a comemoração do Réveillon. Traje à rigor. O salão está deslumbrante O luxo não pode ser maior. A decoração com capas de arminho, reflexos de pérolas e brilhantes. Passam as espáduas desnudas das senhoras, as bandejas de doces, as taças transbordantes. Não sei por que estas luzes, estes risos, este desperdício de jóias e de champanha me recorda outras festas, na Europa, nos anos de minha juventude, quando a Europa era o paraíso do mundo. San Sebastian Biarritz, Ostenta: aquelas praias dos meus vinte anos, de amores e de sonhos, hoje recordo momentos inesquecíveis.

 

O belíssimo Giulio Cesare, um dos navios mais conhecidos
no Brasil
em todos os tempos, ainda muito lembrado em
Santos, Cidade por onde
passou incontáveis vezes. Sua
armadora era a Itália di Navigazione. 
Sua viagem inaugural se
deu em 1952.  Acervo: Laire José Giraud

 

Clique aqui para ler a segunda parte deste artigo.

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