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O desastre
Por volta das 2 horas da madrugada do dia 3, a cerca de 10 milhas ao sul da Ponta do Boi, Ilha de São Sebastião, ocorreu colisão, em plena rota de navegação, entre o rebocador de alto-mar Guarany, pertencente à Marinha Brasileira e participante dos exercícios da Esquadra na ocasião, e o vapor cargueiro Borborema, do Lloyd Brasileiro.
Este último, sob o comando do capitão-de-longo-curso Thimoteo Évora da Silveira, encontrava-se em passagem de Santos ao Rio de Janeiro. Procedente do sul após escala no porto santista, zarpara no dia 2 para a então Capital Federal, onde chegaria na manhã do dia 3.
As circunstâncias do choque nunca foram perfeitamente esclarecidas, sabendo-se, porém, que, na noite do acidente, a visibilidade era boa e, embora não houvesse luar, também não havia neblina ou chuva.
Tripulantes do Minas Gerais, durante viagem aos Estados Unidos,
em 1913. Col. do autor.
A colisão ocorreu com a proa do Borborema entrando no costado do Guarany, este indo, em consequência, imediatamente a pique. Levou consigo para o fundo do mar 28 de seus ocupantes e, entre estes, oito jovens guardas-marinhas da Escola Naval do Rio de Janeiro embarcados para adestramento.
Os demais eram tripulantes de serviço ou oficiais do rebocador e, entre os desaparecidos, o próprio comandante, primeiro-tenente Eleutério do Couto, 28 anos. Foram salvos sete guardas-marinhas.
O Borborema, que no choque sofreu apenas leves danos, prosseguia viagem até o Rio de Janeiro escoltado por unidades da Marinha. Seu comandante, acusado de “omissão de salvamento”, respondeu a inquérito naval.
Nas proximidades da área onde ocorreu o sinistro, navegava rumo sul o transatlântico francês Espagne, da armadora SGTM, com 1.423 passageiros a bordo, sob o comando do capitão Talon. O citado oficial declarou às autoridades da Capitania dos Portos, em Santos, onde o vapor atracou no mesmo dia 3, que em determinado momento avistara as luzes de duas embarcações em rota de colisão, mas que nada pudera fazer para evitar o acidente. Declarou também não ter invertido a rota de seu navio para prestar qualquer socorro para não colocar em perigo a vida de centenas de passageiros.
A tragédia ocorrida com o Guarany comoveu a opinião pública e provocou o cancelamento da visita que a Esquadra faria a Santos.
O então presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, proclamou luto nacional para o dia 4 e, em todo o País, as bandeiras foram hasteadas a funeral.