Uma das despedidas mais emocionantes vistas no Porto de Santos, litoral de São Paulo, foi a do transatlântico Cristoforo Colombo, no dia 5 de abril de 1977. A emoção pode ser notada no trecho da matéria publicada pelo jornalista José Carlos Silvares no caderno Porto & Mar, do jornal A Tribuna de Santos, no dia seguinte ao acontecido, e transcrito abaixo.
Ilustração da capa do livro Passenger Liners - Italian Style,
de William H.Miller, publicado em 1996, onde é visto o
Cristoforo Colombo passando pelo navio Saturnia.
“Há quem diga que todas as despedidas são iguais. Quem diz isso não tem razão. Pelo menos é o que pensa aquele senhor de cabelos brancos, agitando um lenço amarrotado, terno escuro e sapatos folgados. A lembrança, desta vez, durou apenas 30 segundos. O baile, os jantares, os confetes e serpentinas e as brincadeiras na linha do Equador passaram da boca à mente daquele homem, durante 30 segundos. Para ele, acostumado a despedidas de todas as formas, este adeus foi especial e rápido. Durou exatamente o tempo em eu falava interrompido pela sequência de apitos graves, quase gemidos. Um personagem à parte, sem nome. Uma figura que já teve os seus dias de luxo e que, talvez pelas constantes despedidas, os tenha trocado pelos dias atuais.
O indisfarçável sotaque ialiano e o balanço das mãos contavam por que aquela era uma despedida diferente: eu já viajei muito nesse navio, tenho boas recordações, maus momentos e, agora, saudades. É isso.
A última escala do Cristoforo Colombo no Porto de Nova
Iorque, em 1973. Estava sendo transferido para a linha da
América do Sul. Imagem do livro Passednger Liners - Italian
Style (1996), de William H. Miller.
Cada um dos três apitos durou exatamente 10 segundos. Às 18 horas de ontem, o luxuoso transatlântico Cristoforo Colombo despediu-se de Santos, um adeus final. No cais, os parentes dos passageiros embarcados acenavam, escondendo pessoas como aquele senhor de cabelos brancos que tinha outro motivo para estar ali.
Era o fim de uma era. Nos anos sessenta, penas 5 em cada 100 passageiros, cruzavam o Atlântico em navios. Assim, pouco a pouco os transatlânticos de linha regular começaram a desaparecer – era a era dos aviões. Para complicar mais essa situação, o custo do óleo combustível pulou de US$ 35 para US$ 95, que somado ao custo operacional, tornou impossível o lucro dos amadores.”
A triste e emocionante despedida do Cristoforo Colombo de
Santos, ocorrida no dia 05 de abril de 1977. Foto: A Tribuna.
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