Segunda, 20 Mai 2024

Clique aqui para ler a primeira parte deste artigo.

A maioria dos medicamentos eram de origem estadunidense. O modo de vestir, pentear e fumar era no estilo dos artistas de Hollywood.

Os refrigerantes eram Coca-Cola e Crush, mas claro, também tomávamos o nosso Guaraná!


O antigo Parque Balneário Hotel, local onde a Marinha do Brasil
prestou homenagem à Marinha dos Estados Unidos. A fotografia
foi clicada em 1970. Foto: José Dias Herrera. Acervo do autor.

Em suma, por essas e outras razões os americanos gozavam de grande prestígio nos quatro cantos do planeta.

Sob esse clima de admiração pelos yankees, como também eram chamados os estadunidenses, chegou no dia 27 de junho de 1953 uma divisão da esquadra dos Estados Unidos, composta de 14 navios de guerra.

O primeiro a entrar foi o cruzador Macon, às 7h20. Três horas depois, às 10h20, todas as unidades já estavam atracadas, entre o Cais dos Armazéns 14 e 23 da Companhia Docas de Santos.

Vizinhos ao Macon, ficaram atracados o cruzador Albany e o porta-aviões Saipan.


Foi um grande acontecimento social o baile oferecido pela
Marinha, por intermédio do capitão-de-Mar-e-Guerra Bertino
Dutra, aos representantes da Marinha dos Estados Unidos.
Compareceram à elegante reunião elementos de destaque da
sociedade santista e paulistana. Foi uma encantadora festa,
segundo o jornal A Tribuna de Santos. Esplêndido serviço de
buffet foi oferecido aos convidados. Xerocópia do exemplar
de A Tribuna da sexta-feira - 03/07/1953.

Entre outras belonaves, estavam os contratorpedeiros C.H. Roan, Benner, Delog, J.D. Blackwood, Coates, Parle e Tweed.

A guarnição era de 6.000 homens, entre oficiais, sargentos, praças e guarda-marinhas, estes pertencentes não apenas à Academia Naval de Anápolis, como a unidades da reserva naval de universidades americanas.

O comandante da esquadra era o contra-almirante Richard F. Stout, da 6.ª Divisão de Cruzadores.

Santos ficou em festa e mais alegre, com marujos americanos por toda a parte, trocando palavras em inglês e até arranhando o português com os jovens.

Eram marinheiros saindo das lojas do Centro (Modas Teixeira, Camisaria de Paris, Lojas Americans) com muitos embrulhos.


Assim era Santos na época da visita dos marujos americanos.
Avenida da praia com mão dupla, linha dos bondes à esquerda e
poucos edifícios na Orla da praia. Acervo do autor.

Os restaurantes ficaram cheios, como o caso do Atlântico, que se situava onde hoje é a C&A, na Avenida Ana Costa –  ao lado do Atlântico Hotel.

Os americanos, gentilmente, ofereciam cigarros Chesterfield, Camel e L&M, entre outras marcas. – Na época era chique.

Resumindo, pela simpatia e educação fizeram o maior sucesso entre a população!

Houve churrascadas, grandes bailes em clubes, passeios pela Cidade e até à Capital.

Autoridades visitaram os navios de guerra, dentre elas o governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez. – Vários colégios levaram seus alunos.

Em Santos, o ponto alto foi a homenagem da Marinha do Brasil à Marinha dos Estados Unidos.

A Marinha do Brasil ofereceu grandioso baile nas dependências do Parque Balneário Hotel. Sim, o antigo, histórico e luxuoso hotel ainda existia! – O Capitão dos Portos era Bertino Dutra.

Compareceram pessoas de destaque de Santos e de São Paulo. O serviço de buffet foi esplêndido!

A despedida da esquadra aconteceu em uma segunda-feira, 6 de julho de 1953.

Numerosos cidadãos foram à amurada da Ponta da Praia, para avistarem a saída. Foi muito emocionante e havia fraternidade de ambas as partes!

Muitas pessoas, principalmente moças, foram se despedir em lanchas que navegavam próximas das unidades bélicas.

Em gratidão, os marujos atiravam quepes e bonés!

Nem sempre atingiam o alvo e muitos bonés e quepes ficaram a flutuar nas águas, com se fosse um desfile de lembranças deixado pelos visitantes.

Vale dizer que o comandante Hélio Leôncio Martins (autor de várias obras que contam passagens pitorescas da Marinha)  ficou à disposição do contra-almirante Stout.

Na ocasião eu tinha 7 anos de idade e visitei o USS Macon junto com os alunos da minha escola – o Instituto Andradas.

No convés do grande cruzador, avistei uma máquina de água e corri para sentir o gosto da água americana! Como se pode notar, eu já estava americanizado...

Na partida dos navios de guerra, fiquei na amurada da Avenida Saldanha da Gama, na companhia do meu pai, para dar o meu adeus à maior esquadra que visitou o Porto de Santos.

Lembro o meu tio Gerson descendo de um dos navios! Ele era um dos 18 práticos da barra.

A visita rendeu histórias de amor. Um guarda-marinha americano voltou a Santos para casar com uma santista!

Outra parte da esquadra não veio a Santos, foi para o Rio de Janeiro, onde o navio-capitânia era o famoso couraçado Missouri. No seu convés fora assinada a rendição do Japão, em 1945.

Com certeza, Santos exteriorizou seu sentimento de saudade, com a bela e emocionante partida dos marujos de Tio Sam.

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Nota de falecimento

Com tristeza, a coluna Recordar informa o falecimento do capitão-de-mar-e-guerra Gabriel Lobo Fialho, da Marinha de Portugal, aos 80 anos, em Lisboa. O comandante Fialho foi diretor da Revista de Marinha e um amigo da cidade de Santos, sempre escrevendo matérias sobre o porto santista.

Esteve na Cidade por duas vezes. A primeiro foi em janeiro de 1954, quando veio a bordo do aviso oceânico Gonçalves Zarco. Nessa viagem, vieram vários guardas-marinha, que desfilaram na didade de São Paulo na celebração do IV centenário da capital paulista.


O comandante Fialho e sua esposa Luísa, durante almoço,
ladeados pelos amigos Creusa e Laire Giraud - 2001

A segunda vez foi em 2001, quando veio a convite da Marinha do Brasil ao Rio de Janeiro, durante aniversário da Escola Naval. Apoveitou a oportunidade para rever Santos, onde participou de um jantar no Rotary Porto, visitou a Praticagem de Santos, onde foi ciceroneado pelo seu presidente Fábio Mello Fontes, e deu um passeio de lancha pelo estuário do porto santista.

Uma das coisas que mais o impressionou foi a vista da Cidade a partir do mirante do Monte Serrat. Muitas outras coisas poderiam ser escritas sobre ele. Fica aqui registrada a nossa gratidão e amizade. Esteja com Deus.

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