Sendo colecionador de cartões-postais, muitas vezes me deparo com interessantes imagens antigas da Cidade de Santos, como da Praça Mauá, que se estendia até a Rua Augusto Severo, prédios históricos, a área dos hotéis na orla da praia, ainda sem o jardim, diga-se de passagem, o maior jardim do mundo à beira-mar, da Santa Casa, que ficava na Avenida São Francisco, nas proximidades do Túnel Rubens Ferreira Martins, o histórico e mais famoso hotel de Santos em todos os tempos, o deslumbrante Parque Balneário Hotel, o Palace Hotel, onde está hoje o condomínio Universo Palace, a Ponta da Praia, ainda sem a famosa amurada, o calçadão de onde se avistavam – e ainda se avistam – navios de todas as bandeiras, trabalhadores embarcando sacas de café nos cargueiros atracados no Porto, dentre muitas outras coisas que não mais existem.
Fui testemunha de algumas imagens tão inesquecíveis que não se apagam da memória. De outras, tomei conhecimento apenas através de fotografias, cartões-postais e pinturas, ou então somente ouvi falar.
Vale ressaltar que a emoção que um cartão-postal traz à alma é quase inexplicável, porque desperta lembranças que estavam esquecidas em nossa memória, além de nos mostrar como era a Cidade, as mudanças ocorridas com o passar dos tempos, como eram os meios de transporte, como se vestiam e viviam as pessoas.
De tantas imagens que tenho no meu acervo, uma chamou a minha atenção. Era de um verdadeiro monumento que ficava no jardim da Praia do Gonzaga, ao lado da Praça das Bandeiras, mais precisamente em frente ao famoso Atlântico Hotel, por volta de 1940. O monumento era o relógio do Gonzaga.
Cartão-postal mostrando o relógio do Gonzaga, um verdadeiro
monumento que ficava no jardim da praia do Gonzaga, ao lado da
Praça das Bandeiras. Início da década de 1940. Coleção do autor.
O cartão-postal que retrata o relógio é simplesmente magistral, rico em detalhes.
A começar pela Avenida Presidente Wilson, que não apresentava sequer um prédio – e com pista única de mão dupla para automóveis e linhas de bonde.
Outros detalhes a observar são a praia e os banhistas, uma barraca e um guarda-sol de fotógrafo lambe-lambe, duas crianças, a menina com chapéu de palha e um menino com uma boina, moda naquele tempo, um cachorro preto, o estacionamento de automóveis, que não existe mais, com veículos da época, o antigo Clube XV, na esquina da Rua Marcílio Dias, o Hotel Avenida Palace, que – para a nossa alegria – ainda existe e, ao fundo, o Morro de Santa Terezinha, sem residências. No morro, anos mais tarde, surgiram a Igreja de Santa Terezinha, um hotel e um restaurante com belvedere.
Recentemente, ao deparar novamente com a bela e marcante imagem do relógio da Praia do Gonzaga, como era também conhecido, um pensamento antigo voltou a me intrigar. Explicarei melhor. A minha curiosidade de memorialista quis saber em que ano foi inaugurado. E por quem? Que fim teve e aonde foi parar?
Numa das mesas do tradicional Café Paulista, no Centro Histórico
de Santos, vemos o memorialista Dario Pereira, o historiador Jaime
Caldas e o poeta Narciso de Andrade. Os três sabaim tudo sobre o
passado da Cidade. Ao centro, o autor. Foto de 1996.
Uma coisa curiosa é que historiadores, pesquisadores e os admiradores do passado santista contam muitos fatos da Santos antiga, tudo bastante interessante, por sinal. Mas nada dizem sobre o relógio. Qual seria a razão desse esquecimento? Confesso que perdi várias oportunidades de saciar essa minha grande curiosidade.
Pois sentei várias vezes, no tradicional Café Paulista, por volta de 1995, na companhia dos ilustres santistas, como o poeta Narciso de Andrade, o historiador Jaime Caldas, o professor e escritor Nelson Salasar Marques e o memorialista Dario Gonçalves.
Em vida, eles resgataram, contaram e escreveram muitas coisas a respeito do glorioso passado santista e, no entanto, nunca citamos nada a respeito do relógio do Gonzaga.
Talvez isso tenha acontecido pela diversidade de assuntos interessantes por eles recordados.
O professor Nelson Salasar
Marques (falecido), autor de
várias obras, dentre elas
"Imagens de Um Mundo
Submerso" (03 volumes),
perfeito relato da Cidade
nos anos 20/30/40 e 50 do
século passado.
Finalizando, gostaria imensamente de saber a história e o paradeiro do famoso relógio que um dia ornamentou o jardim da mais conhecida praia de Santos.
Faço aqui um convite a quem tiver informações e pretende recuperar a história do relógio do Gonzaga para se manifestar. Entre em contato pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Boa viagem ao passado em busca do relógio perdido no tempo!