A ideia de um serviço regular de navios de passageiros entre o Rio de Janeiro e Santos surgiu durante a administração de Ney Garcia Sotello, quando presidente da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro (1967-1969).
A marcante logomarca do Lloyd Brasileiro nas chaminés
dos navios AUTOLLOYD - Roll-on /Roll-off e do navio de
passageiros Anna Nery. Imagem que pertenceu a
Roberto Botte (ex-chefe de máquinas do Anna Nery),
falecido em 2004.
Essa iniciativa teve como objetivo colocar em tráfego regular os quatro navios de passageiros que se encontravam parados no cais do Lloyd Brasileiro, no Rio de Janeiro, na época Guanabara. Era o efeito da maior procura pelas viagens rodoviárias e aéreas por parte dos passageiros por uma série de vantagens oferecidas, como menor tempo gasto nas viagens, bem como chegadas diretas nas cidades de destino. Já o navio navegava somente para determinados portos, obrigando os passageiros a baldearem para outros meios de transporte para seguirem viagem.
O galante Rosa da Fonseca entrando na Baía da Guanabara no início
da década de 1970. O navio construído na antiga Iugoslávia tinha
capacidade para 540 passageiros. Foi entregue à CNNC (Costeira) em 28/10/1962. Acervo do autor.
Com a Ponte Marítima, inaugurada em 09 de novembro de 1967 pelo Rosa da Fonseca, o déficit apresentado pelas embarcações eram menores do que quando permaneciam inativos. Na realidade, esses navios eram os transatlânticos conhecidos com Cisnes Brancos (pela alvura da pintura) da Cia. Costeira, que passaram posteriormente para o Lloyd Brasileiro em novembro de 1966: Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina. Seus comprimentos eram em torno de 150 metros e, capacidade para 540 passageiros. Chegaram ao Brasil no início da década de 1960.
Cartão-postal da Companhia Nacional de Navegação Costeira (CNNC), representando os Cisnes Brancos Princesa Isabel e Princesa Leopoldina,
construídos na Espanha. Acervo do autor.
A par disso, a linha Rio-Santos conseguiu despertar o interesse para o transporte marítimo de novos passageiros do estado de São Paulo e da antiga Guanabara, até então esquecido pelos paulistas e cariocas, e também de outros estados brasileiros. Ao mesmo tempo, a “ponte” possibilitou o desenvolvimento do intercâmbio turístico entre Rio e Santos, além de ter criado a base para o estabelecimento da linha regular entre Santos e Manaus.
Vale dizer que essa rota preconizada na administração Ney Garcia Sotello foi a que ofereceu a maior rentabilidade ao Lloyd em termos de navios de passageiros.
Desembarque de passageiros do Princesa
Isabel em Santos - 1967. Acervo do autor.
Mesmo com todos os esforços por parte do Lloyd Brasileiro, a linha Rio-Santos continuava deficitária. Os passageiros continuavam preferindo o avião e o ônibus cujas viagens (partidas de São Paulo) entre as duas maiores cidades do País levavam respectivamente uma e sete horas. Assim, a famosa Ponte Marítima Rio-Santos chegou ao fim no dia 16 de dezembro de 1968, há exatamente 42 anos.
Cartão-postal do N/M Anna Nery, com as cores do Lloyd Brasileiro.
Pintura óleo sobre tela de Antonio Giacomelli - 1976.
Aos 23 anos, tive o grande privilégio de fazer duas viagens de fim de semana nos navios Princesa Isabel e Leopoldina, em janeiro e abril (Páscoa) de 1968. Eram autêntilcos minicruzeiros, pois os embarques foram nas sextas-feiras, retornando do Rio nos domingos. Às 7 horas da manhã, os navios já estavam atracados. Vale lembrar que essas viagens foram excelentes em todos os sentidos.
Digo sem receio: eram melhores do que as realizadas nos atuais cruzeiros marítimos. Quem viajou nos Cisnes Brancos, com certeza assina embaixo. As passagens foram adquiridas na Casa Branco, estabelecida na Praça da República. Bons tempos!
Última passagem de um navio de passageiros do Lloyd Brasleiro por
Santos. O "Odysseus", ex-Princesa Isabel, deixando a Cidade no
entardecer de 02/04/1998, levando à popa a bandeira grega e na
chaminé as cores da armadora Royal Olympic Cruise (Sun Line).
Foto do autor.
Fechando o artigo com chave de ouro, o Rosa da Fonseca passando
pela passarela natural de navios de Santos, a Ponta da Praia. Meados
do anos 70. Foto enviada por Julio A. Rocha Paes.