Quarta, 08 Janeiro 2025

Recentemente, procurando por uma antiga matéria no jornal A Tribuna de Santos, deparei-me com outra na seção Porto & Mar, datada do dia 05 de agosto de 1953 (quarta-feira) com o título "100.000 Imigrantes agricultores Italianos para a argentina". Eis o texto:

Esteve ontem no porto durante o tempo que foi preciso para desembarcar seus 451 passageiros destinados a Santos, o vapor argentino “Salta”, consignado à Agência Brasileira das Linhas Dodero Ltda, e cuja atracação emprestou grande movimentação ao cais tendo em vista que aqueles passageiros de nacionalidade portuguesa, espanhola, italiana e libanesa, eram aguardados por um número enorme de parentes e conhecidos, principalmente os lusitanos. Tratava-se de imigração espontânea, representando numerosas profissões e ofícios, inclusive elementos técnicos que as comoções européias tornaram sem pátria e buscam agora, seu refúgio no Brasil.


O Salta foi resultado da conversão de um porta-aviões da Royal
Navy. Coleção José Carlos Rossini.

O desembaraço desses 451 passageiros também movimentou muitos funcionários das nossas repartições portuárias e, também do serviço de vacinação conta a febre amarela, que continua funcionando em todos os vapores de longo curso. Todo trabalho dessas autoridades ainda foi desenvolvido cercado por um numero bem maior de passageiros em trânsito, 706, e dos quais 523 imigrantes italianos, os primeiros de um plano para encaminhamento de 100.000 filhos da península itálica com destino à Argentina. Todos destinados  agricultura A prioridade era para os que já tinham parente na Argentina. Tratava-se de um convênio feito por uma comissão inter-governamental. As passagens eram divididas entre os dois governos.


Grande número de imigrantes em trânsito para Argentina,
debruçados na amurada do Salta, no dia 04 de agosto de 1953.
Esses passageiros não tiveram auatorização para saírem
do
navio. Acervo: Jornal A Tribuna de Santos.

Vale dizer que entre 1945 e 1954, só na Argentina, entraram 558.000 imigrantes italianos. Nesse mesmo período, 200.000 retornaram para o seu país de origem. O que representa só aí uma movimentação de 758.000 passageiros.

Quanto ao Salta, gêmeo do Corrientes, foi resultado da conversão de um porta-aviões que nunca entrou em atividade, cedido pela Marinha dos Estados Unidos a Marinha britânica. Na verdade, o projeto inicial era para ser um cargueiro.


Fila de desembarque no Salta de
imigrantes libaneses destinados ao
Brasil - 04/08/1953. Acervo: Jornal
A Tribuna de Santos.

Com o término da Segunda Guerra Mundial  (1939-1945) foi devolvido a U.S Navy, permaneceu desativado até 1949, quando foi comprado pela Dodero Line. Media 142 metros de comprimento, deslocava 12.053 toneladas, velocidade 16 nós. Tinha capacidade para 1.343 passageiros, sendo só 04 na primeira classe. Na verdade era um navio para emigrantes e passageiros que não podiam pagara viagem em navios mais confortáveis. – Em 1964 o par foi desativado: Salta e Corrientes.

Vale lembrar que entre 1949 e 1951 a Companhia Dodero lançou oito navios de passageiros na linha Buenos Aires Europa (leia ’O transatlântico argentino Alberto Dodero’).


O transatlântico Corrientes da Linhas Dodero, gêmeo do Salta,
fundeado no Funchal - Ilha da Madeira. Coleção do autor.

A intenção deste artigo é dar uma pequena idéia de como era  grande a movimentação no cais santista, na época dos navios de passageiros, quando era normal atracar em média 03 transatlânticos por dia. Por extensão movimentava grande número de pessoas nas mais diversas categorias profissionais..

Fontes: Rota de Ouro e Prata de J.C. Rossini e Jornal A Tribuna de Santos.


Cartão-postal datado de outubro de 1951, do transatlântico argentino Presidente Peron da Lineas Dodero, que tinha sede em Buenos Aires.
Coleção do autor


Cartão-postal do início da década de 1950, editado pela Casa J. Frizzo
& Cia. (Banqueiros). Rua 15 de Novembro, 307 - São Paulo - SP -representando os navios Yapeyu, Maipu e Alberto Dodero.
Coleção do autor.

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