Quarta, 08 Janeiro 2025

Quem não recorda da telenovela Esperança da Tevê Globo, que teve grande elenco e tanto sucesso fez em 2002/2003?

Pensarão os leitores: O que têm a ver a novela com o porto e navios? Eu explico: em 2002, recebi uma chamada telefônica da Central Globo de Produções do Rio de Janeiro, solicitando informações de como eram os navios italianos nos anos 30 do século passado.


Os personagens da novela esperança, que
se passa nos anos 30: Toni (escultor e pianista)
e a jovem judia Camile. Reprodução.

No início não acreditei que a chamada era da conhecida emissora. Pensei que fosse brincadeira por parte de algum amigo espirituoso. Fiquei desconfiado e perguntei como tinham chegado a mim, e me explicaram que fora através da assessoria de imprensa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

A produção queria saber em que horário os navios chegavam naquele tempo, bem como o nome de companhias.

Depois de convencido da origem da ligação, fiz o envio material variado para a Globo, que incluía informações e cartões-postais de navios que traziam emigrantes, inclusive de seus interiores.


Cartão-postal do Lloyd Italiano, uma das
várias armadoras italianas que mantinha linha
para América do Sul no passado. Acervo do autor.

Informei que os navios podiam entrar a  qualquer hora, pois havia bóias luminosas e faroletes que demarcavam à entrada dos navios. Mas a maioria entrava na primeiras hora da manhã. Os navios de grande porte atracavam ente os armazéns 15 e 18 e os menores do 07 ao 09, embora pudessem atracar em outros lugares. Vale lembrar que os vagões de passageiros da São Paulo Railway, chegavam até os costados dos navios atracados para apanhar os emigrantes.

Na verdade essas informações eram para serem incluídas no roteiro da  novela Esperança. Lembrando: No ano de 1931, o mundo estava em recessão causa pela quebra da bolsa de Nova Iorque (1929). Em busca de uma vida melhor, o italiano Toni (Reynaldo Gianecchini), emigrou para o Brasil, e desembarcou no Porto de Santos. Era essa a visão que a Globo necessitava para saber  como era a chegada dos viajantes naquele passado distante.


O famoso transatlântico italiano Conte Grande com a pintura
usada antes da Segunda Guerra Mundial. O navio fez sua viagem
inaugural em 1928. Acervo do autor.

Os navios italianos eram uma sensação em todo o mundo, e a partir de 1932, as três principais armadoras italianas se unificaram. Dentre as embarcações se destacavam o Principessa Giovanna e o Principessa Maria,outros muito conhecidos na época eram o Conte Grande e o Conte Biancamano, entre outros.

Nos anos 30, muitos navios eram fretados e outros de linha regular, e que homens e mulheres, mesmo casados, viajavam em camarote separados, isto é na classe destinada aos imigrantes. Na verdade eram verdadeiro alojamentos. A viagem de um porto italiano para Santos levava em média 17 dias e, depois de registrados na Inspetoria da Imigração (Rua Riachuelo com Tuiuti), os emigrantes eram levados de trem para Hospedaria dos Imigantes em São Paulo. Lá descansavam antes de seguir para o interior do Estado.


Nos anos 30 do século passado, os
imigrantes já não eram camponeses. Na 
sua maioria eram pintores, escultores,
médicos, engenheiros que fugiam da crise
econômica mundial. Acervo do autor.

Esses imigrantes não eram camponeses como no início do século. Muitos eram pintores, escultores, carpinteiros, marceneiros, professores, barbeiros, mecânicos, músicos, médicos e engenheiros, que fugiam da crise econômica em seus países, e vinham tentar sorte no Brasil.

Essa foi a esperança de Toni (Gianecchini, pianista e escultor em barro. Ele deixa sua pequena cidade na Itália e, clandestinamente vem se aventurar numa terra desconhecida, mas promissora: O Brasil. Mais exatamente em São Paulo, onde encontra vários italianos, como o artista plástico Agostino (Chico Anysio) que foi na novela o cupido de Toni e da jovem judia Camile (Ana Paula Arósio).


O Colombo da armadora NGI - Navigazione Generale Italiana,
transportava na terceira classe 2.000 passageiros, já na primeira 100
e na segunda 700. O navio foi construído em 1917. Acervo do autor.

Na ocasião da gravação da novela não havia navios de passageiros na costa brasileira, e a Globo utilizou um cargueiro para as cenas da chegada de Toni, e o porto carioca fez a vez do cais santista.

Já não recordava desse episódio até receber recentemente  e-mail de um amigo do cônsul da Itália em Santos André Lettieri solicitando imagens de alguns navios italianos que trouxeram imigrantes italianos do início do século 20 para o Brasil. Esse foi o motivo que originou o presente artigo.


Fechando com chave de ouro, um panorama do Porto de Santos
em 1930, vendo-se o encouraçado São Paulo navegando pelo Estuário. Acervo do autor.

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