Terça, 07 Janeiro 2025

Na semana passada, ao procurar uma foto antiga para ilustração de um artigo, deparei com uma velha foto minha, clicada na Praia do Gonzaga por um fotógrafo lambe-lambe. A fotografia estava com a data de 18 de março de 1964, e foi tirada com o intuito de enviar para uma moça de Araraquara, que conheci na temporada do verão daquele ano, e por quem tive uma paixão meteórica, ou seja, da mesma forma como veio, foi embora.


Foto de um elegante cavalheiro tirada por um lambe-lambe, no
reduto hoteleiro da Praia do Gonzaga. Ao fundo estão os hotéis
Avenida Palace, Belvedere, dos Bandeirantes, Atlântico e uma
pequena parte do prédio do Parque Balneário. Nota-se na imagem
que o jardim da praia ainda não tinha sido construído. 1933. 
Acervo do autor.

Os fotógrafos lambe-lambes (assim eram chamados por lamberem as pontas dos dedos durante a revelação das fotos), fotógrafos de praças, ou de jardins eram muito comuns até o início dos anos 1960. Era fácil de encontra-los, principalmente nas areias das praias do Gonzaga, José Menino, Monte Serrat, e na Praça dos Andradas, no Centro. Havia vários deles, também em são Vicente e no balneário do Guarujá, bem como em outras cidades brasileiras.

Para quem não sabe, eram fotógrafos que utilizavam grandes máquinas fotográficas, que consistia de uma caixa de madeira uma lente fixa num fole e na outra extremidade um pano de fundo branco. Essas caixas eram apoiadas em tripés, além de serem verdadeiros laboratórios fotográficos ambulantes. As fotografias eram entregues em poucos minutos.


Na Praia do Gonzaga, por volta de 1925, membros de uma família
posando para a posteridade. Acervo do autor.

Assim muitas lembranças de famílias em férias, convescotes (nossa, que termo antigo), eram tiradas por essas câmeras.

Muitas vezes esses fotógrafos eram contratados para casamentos, bodas, festas de aniversários, eventos e tudo que fosse digno de ser lembrado para todo o sempre.


Na divisa Santos/São Vicente é visto à direita da foto um fotógrafo
lambe-lambe e sua máquina com tripé à espera de clientes. Ao fundo,
a Ilha de Urubuqueçaba - 1940. Acervo do autor.

Pela rapidez das revelações, era grande o número de pessoas que procuravam esses profissionais para obtenção de fotos 3X4 para fins diversos, desde oferecimento para uma namorada (o) como também para tirar carteira de trabalho, carta de motorista, e outros tipos de documentos. Muitas pessoas importantes do passado foram clicadas por lambe-lambes.

Todo lambe-lambe que se prezasse, tinha os seguintes equipamentos: uma antiga cadeira, um balde, uma tesoura (para cortar as fotos no tamanho solicitado), e uma armação para um pano de fundo, um paletó (no estilo: o defunto era maior), uma gravata (para serem emprestados ao fotografado), um espelho (com armação cor de abóbora, que ainda são encontrados em camelôs) e um pente para o cliente dar uma arrumada nos cabelos, além de um datador. Hoje isso chega a ser engraçado, mas naquele tempo era fato normal e corriqueiro ser fotografado por um desses profissionais ao ar livre. Vale dizer que eram sem retoques, mas sempre de boa qualidade.


Casal de turistas com seu cãozinho de
estimação nas areias da Praia do
Gonzaga por volta de 1927. Ao fundo,
o prédio do Paque Balneário Hotel, do
lado que dava para Rua Carlos Afonseca.
Acervo do autor.

Alguns desses lambe-lambes, quando o serviço ficava a contento, saiam com uma câmera fotográfica (de filme), pelas principais ruas da Cidade e fotografavam casais e famílias passando pelo local. Entregando a seguir um cartão com o endereço para retirada da foto. 

Eu tenho uma foto dessas na companhia de minha mãe, quando tinha 4 anos de idade. O local foi nas proximidades da Casa Sloper, que ficava na Rua General Câmara, entre as praças Mauá e Ruy Barbosa.


A Biquinha de Anchieta, na vizinha São Vicente era um dos locais
preferidos dos fotógrafos lambe-lambes, pela grande frequência de
turistas. Meados da década de 1950. Acervo do autor.

Com a chegada das câmeras modernas na época (anos 50), das de fotos instantâneas, e das atuais digitais, essas verdadeiras testemunhas das modificações da Cidade, dos hábitos e vestimentas da população, foram aos poucos sumindo, não só em Santos como nas outras cidades.

Não sei dizer se ainda existe algum desses profissionais por aqui, mas no Rio de Janeiro, e outras cidades ainda é possível encontrar alguns deles em plena atividade.


Na Praia do Gonzaga havia um considerável número desses
abnegados fotógrafos prontos para congelar no tempo uma
recordação do passado -  1939. Acervo do autor.

Este artigo homenageia aqueles abnegados profissionais da fotografia, que congelaram imagens dos nossos antepassados, acontecimentos e das cidades. Naquele tempo que não volta mais. 

Se pararmos para pensar, o registro fotográfico é tão importante na narrativa da história, tanto como um documento literário. Na verdade, uma imagem vale mais do que mil palavras.


Flagrante de um dia de 1956, onde são vistos dois equipamentos
de lambe-lambes na areia da praia. Acervo do autor.


Veranista na Praia do Gonzaga - 1931. Acervo do autor.


Foto de lambe-lambe na Praia do José Menino, onde é visto sobre o
carro o escritor e pesquisador marítimo José Carlos Rossini (radicado
na Suíça) na companhia de sua madrinha Gloria Cafalli Lazzarini, em
1950. Acervo: J.C. Rossini.


Banhistas sendo clicados em plena areia por um
lambe-lambe - 1930. Acervo do autor.


Nos jardins da Praia do Gonzaga, uma bela pose de uma família,
por volta de 1930. - Acervo do autor.

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