Terça, 07 Janeiro 2025

Os embarques de café no início do século passado são de deixar pasmos os atuais técnicos em transportes para bordo. Explicando melhor: em 1909 foram exportadas 13.130.728 sacas do ouro verde através do porto de Santos com destino à América do Norte e Europa. Na verdade foi o recorde do século 20.


Na Rua do Comércio, esquina com Gaspar
Ricardo, vários carretões sendo carregadas
com sacas de café para entrega nos navios.
Acervo do autor.

Até aí nada demais, Santos já era conhecido perante o mundo como o Porto do Café, só que na época não existia a tecnologia aliada à logística atual, como guindastes especializados, dalas, caminhões, contêineres, big bags, informática e todo aparato necessário que temos na atualidade. Era tudo primitivo e na base da força humana.

As sacas de café oriundas do interior paulista desciam a Serra do Mar em trens da S.P.R  - São Paulo Railway Company Ltd (1867-1948), mais conhecida como a Inglesa, por ser britânica, depois de encampada pelo governo brasileiro passou a ser denominada Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Da estação do Valongo iam para os diversos armazéns gerais da Cidade em carroças ou carretões puxados a burros.


O cartão-postal da época, mostra carretões puxados a burro, sendo descarregados por trabalhadores p/entrega das sacas de café a bordo
do navio cafeeiro. Acervo do autor.

Quando os navios estavam atracados e os lotes de sacas de café desembaraçados eram novamente carregados nos carretões com destino ao cais, onde trabalhadores portuários estavam no aguardo para recebê-las e levá-las nas costas até os porões dos navios, após subirem do cais para o convés através de uma estreita prancha de acesso. Isso formava um verdadeiro formigueiro humano, como comprovam os antigos cartões-postais.

Muitos carregavam várias sacas sobre a cabeça, fazendo exibição, como demonstram fotografias da época. Os carregadores de café recebiam por unidades entregues no navio.


As sacas de café eram levadas para os navios nas costas dos
carregadores, alguns levam duas, pois o recebimento era de acordo
com as sacas carregadas. Nota-se um trabalhador com um balde
servindo água. Cartão-postal datado de 1910. Acervo do autor.

Antes da construção do cais em 1892, o serviço era ainda mais dificultoso, pois os carregadores de café tinham que percorrer uma longa distância através das pontes que ligavam os navios aos trapiches. Era necessário ter muita força e equilíbrio para agüentar essas sacas nos ombros.

Também não pode ser esquecido o árduo trabalho dos carroceiros, que chegavam a trabalhar até 18 horas seguidas. Eles ficavam nas grandes filas de carroças formadas nas vias próximas ao cais, aguardando a vez para serem descarregadas pelos trabalhadores que entregavam as sacas nos navios.


O postal do início do século passado, mostra a intensa movimentação
do produto para embarque - 1908. Acervo do autor.

Narciso de Andrade, que contou tão bem as coisas do nosso espaço portuário, não se esqueceu desses trabalhadores que sob calor intenso desempenharam papel fundamental nas exportações de café.

Em um dos seus artigos publicados em A Tribuna de 09/03/1997 (há exatamente 13 anos), quando abordava o livro Photografias & Fotografias do Porto de Santos (1996), de minha autoria juntamente com José Carlos Rossini, Jaime Caldas e Nelson Antonio Carrera, com grande maestria o poeta Narciso de Andrade comentou: “No pátio, os carroções esperando a vez para receberem o carregamento – Café du Brésil. E, em outro trecho do cais, a indefectível e emblemática fila de carregadores, sessenta, eu disse sessenta quilos de café em sacas nas costas de cada um”.

Na seqüência, Narciso testemunha: “Na foto, contei 19 posando para a posteridade, no ano de 1908. Não havia problema de desemprego nessa ocasião, creio, o homem não fora substituído pela máquina e os políticos eram menos sujos...creio”


Trabalhadores ensacando grãos de café, no interior de um dos
inúmeros armazéns de café que existiam espalhados próximo ao porto.
Acervo do autor.

Hoje, nesses tempos em que as máquinas substituem cada vez a força física, dificilmente alguém agüentaria tanto peso.

Não custa lembrar que o café apareceu como produto de exportação no fim do século 18, substituindo o açúcar. Com sua chegada a Santos, os trapiches (armazéns particulares de mercadorias junto ao cais) com suas pontes estendidas sobre as águas do cais passaram a ser cada vez mais disputados. Existiam vários em Santos, antes da chegada da Companhia Docas de Santos, a famosa C.D.S.

Depois da construção do cais de pedra, e principalmente a partir do raiar do século 20, aumentaram os embarques do produto, valorizando ainda mais a vontade e o vigor dos trabalhadores do porto.


O grande trânsito na Rua Xavier da Silveira de carretões e carroças transportadoras de café. A construção com uma chaminé era a casa
de força, que fornecia pressão aos guindastes portuários. Ela ainda é
vista pelos que fazem passeio no bonde turístico. Acervo do autor.


O Porto do Bispo, que ficava próximo a Pça. Barão do Rio Branco, antes
do início do cais de pedra. O postal mostra as pontes dos trapiches, local
por onde os carrregdores tinham que passar para chegar nos navios, no
século 19. Acervo do autor.

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