Terça, 07 Janeiro 2025

Há 83 anos, nas primeiras horas da manhã do dia 3 de dezembro de 1927, entrava no Porto de Santos pela primeira vez, e em sua viagem inaugural, o transatlântico germânico Cap Arcona, pertencente à armadora Hamburg-Sud, representado pela agência Theodore Wille, cujos escritórios ficavam na Praça dos Andradas.


O transatlântico alemão Cap Arcona, atracado na Dársena Norte
(onde atracam os atuais navios de cruzeiros), no Porto de Buenos
Aires - 1929. Acervo do autor.

Eram 6h30 de uma manhã de fim de primavera, quando na Ponta da Praia, o Cap Arcona foi abordado pela lancha da Praticagem que conduzia o prático Henrique da Luz ao belíssimo transatlântico.

Apesar da hora matutina, havia um razoável número de populares no local onde está situada a famosa amurada da Ponta da Praia, que, diga-se de passagem, na época era apenas um caminho e uma praia. Dizem que o navio ao passar rumo ao Armazém de Bagagem, causou muita emoção nas pessoas, principalmente alemães e descendentes que residiam na região e na capital paulista. Uma hora depois já estava devidamente atracado no cais do Armazém 14, para desembarque dos passageiros.


O imponente navio de passageiros de três chaminés, navegando
em pleno Atlântico rumo à Europa - 1930. Acervo do autor.

O transatlântico, que ficou conhecido como o Rei da América do Sul, pela sua imponência e velocidade, procedia de Hamburgo e portos de escala, sob o comando do capitão-comodoro da Hamburg-Sud, Ernest Rolim, trazendo 193 passageiros para Santos – grande parte embarcados no Rio de Janeiro, e 1.025 em trânsito para Montevidéu e Buenos Aires.

A chegada do Cap Arcona fechou com chave de ouro 1927, ano que impressionou, devido ao grande número de navios novos que surgiram em viagens inaugurais, dentre os quais: Almeda, Ávila, Andalucia, Avelona e Arandora (da armadora Blue Star), Alcântara (Royal Mail), e Saturnia, da Cosulich.


O Cap Arcona em manobra de desatracação no armazém 15 da
antiga Companhia Docas de Santos, sendo auxiliado por um dos
rebocadores da conceituada empresa Wilson,Sons, em 1935. No
cais, nota-se uma concentração de populares se despedindo dos
que estavam no belo navio. Acervo do autor.

De sua primeira viagem até a última, em agosto de 1939 (estava prestes a ser deflagrada a Segunda Guerra Mundial), quando saiu de Santos conduzido pelo prático Antonio Reis Castanho (pai do prático aposentado Ismael Castanho), o Cap Arcona marcou com sua imponente e soberba silhueta a paisagem da barra e do cais de Santos, assim como a mente e os corações de inúmeras pessoas que utilizaram seus serviços, ou que simplesmente o admiraram de fora.

Alguns de seus passageiros na década de 30, que residiam em Santos, testemunharam com emoção a grandiosidade do navio, o esmero e a qualidade dos serviços de bordo, a pontualidade das escalas e o prazer de nele terem viajado. É o caso de minha mãe Aura Maria, que viajou na companhia de minhas tias Elza e Sylvia (83 anos), única que ainda vive. Ela recorda em particular o ambiente do enorme salão de jantar...”As mesas eram redondas, em fileiras, podiam acomodar seis passageiros.


O belo e requintado salão de jantar, que ainda permanece na
lembrança de Silvia Alves Borges (83), residente do Rio de Janeiro.
Acervo do autor.

Quando eram servidos almoços e jantares, cerca de 250 pessoas ali se reuniam. Além é claro, da meia centena de garçons, ajudantes e maitres. O serviço era impecável, com a precisão germânica e refino europeu, o ambiente era elegante. O que Sylvia mais gostou nessa viagem a Lisboa, Portugal, foram as sobremesas – inesquecíveis.

Esse salão de primeira classe, media 35 por 18 metros, ocupando uma área de 630 metros quadrados, e com dois decks de altura.

A cada lado possuía dez janelões que se abriam para o convés de passeio. Entre essas grandes janelas, os lambris das paredes eram decorados com motivos floreados com fundo em seda verde.


O Cap Arcona era um navio tão especial que possuéa até uma grande
quadra de tênis, situada a ré (termo marítimo que significa atrás) das chaminés. Anos 30. acervo do autor.

Esse enorme salão era dominado por um piso superior, onde ficava a orquestra de bordo, que dava um toque animado no ambiente.

Um dos vários passageiros ilustres que o Cap Arcona recebeu, foi Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação, que chegou ao Rio de Janeiro na manhã de 28 de dezembro de 1928.


Cartão de Natal (1928) oficial da Hamburg-Sud oferecido aos
passageiros para envio aos familiares e amigos. Acervo do autor.

Para aqueles que gostariam de conhecer mais detalhes do Cap Arcona, vale lembrar que nas datas de 6, 13 e 20 de janeiro de 1996, na coluna Rota de Ouro e Prata de A Tribuna, foram narrados os históricos da construção, utilização e destino desse inesquecível navio de passageiros. O navio, também é mencionado nos livros Navios Iluminados, de Ranulpho Prata; Imagens de um Mundo Submerso, de Nelson Salasar Marques; e em diversos escritos de Narciso de Andrade (colaborador de A Tribuna), todos autores de Santos, já falecidos. Eles nos deixaram um legado de informações de fatos ocorridos na Cidade.

O fim do Cap Arcona, um dos navios de passageiros mais marcantes, que passaram pelo Brasil foi trágico. Naufragou em 1945, quase no final da Segunda Guerra Mundial, após ataque de um esquadrão aéreo da RAF.  Essa tragédia será contada mais detalhadamente, num próximo artigo.


A velha fotografia, com marcas do tempo, exibe as três irmãs,
Aura, Elza e Sylvia (ainda vive), que tiveram a honra de viajarem 
à Europa, em 1935. Acervo do autor.

Este artigo contém informações do pesquisador marítimo José Carlos Rossini, radicado em Genebra – Suíça.

FICHA TÉCNICA
Nome: Cap Arcona
Calado máximo: 8,70 m
Armadora: Hamburg Sud
Arqueação bruta: 27.560 t.
Amerikanischen D. G.
Hélices: 2
Tipo: Transatlântico
Velocidade máxima; 21 nós (39 km/h)
Estaleiro: Blohm & Voss – Hamburgo
Passageiros: 1.594 em 3 classes
Tripulação: 640
Bandeira: Alemã
Sinal de chamada: DHDL
Viagem inaugural: 1927
Comprimento: 205 m
Boca (largura) 25 m


Fechando com chave de honra, o Cap Arcona em
óleo sobre tela, que foi presenteado ao autor
em 1998, pelas amigas e jornalistas Helena Maria
Gomes e Viviane Pereira.

 

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