Terça, 07 Janeiro 2025

Em um dia deste verão de 2010, estava em devaneio... Recordava indeléveis acontecimentos da minha vida, sessentona, principalmente os vivenciados nesta encantadora – sempre! – Cidade de Santos, onde nasci. Foram tantos, que me é impossível enumerá-los. Colocados os momentos da existência nos dois pratos da balança, a maioria – com irrefutável certeza – pende para o lado dos momentos felizes e venturosos!


Cerimônia de casamento de meus pais Laire
e Aura Maria, na Igreja de São José - Rio de
Janeiro. Em 11 de dezembro de 1941.
Acervo: L.J.Giraud.

Dentre as recordações, há as de fatos inolvidáveis. Como o meu primeiro dia de escola, conduzido pelas mãos da minha mãe, Aura Maria, no longínquo 1950, mas ainda inesquecivelmente presente, como se fosse agora. Fui matriculado no jardim da infância do Instituto Andradas, que então tinha instalações na Avenida Epitácio Pessoa – posteriormente, mudou para a Avenida Conselheiro Nébias. Confesso que chorei muito, naquela data que marcou um novo ciclo na vida, deixar o aconchegante ambiente familiar para o escolar.

Em uma passagem da minha vida no Rio de Janeiro, cheguei a ver de perto o presidente Getúlio Vargas, durante o desfile de 7 de setembro de 1953 – o Rio era a capital federal. Também me lembro da primeira vez em que fui sozinho ao Centro de Santos, de bonde, em 1954. Outro presidente que me marcou foi Juscelino Kubitschek: ele passou a mão na minha cabeça, em 1957. Foi na inauguração do conjunto residencial do IAPI, na Rua Alexandre Martins.


Foto de família, com avós, tios e amigos. Minha mãe é a segunda,
em pé, a contar da esquerda. Ela estava a minha espera, pois nasci
no ano seguinte. A imagem foi clicada no interior do Restaurante
Marreiro, em outubro de 1944.

A minha mãe contava que vi também o presidente Eurico Gaspar Dutra, quando aqui esteve no ano de 1949, para uma série de inaugurações no Porto de Santos. Eu testemunhei a visita de Dutra durante a chegada ao inesquecível Parque Balneário Hotel, onde participou de um banquete oferecido pela Cidade de Santos. Não me recordo desta passagem, pois ainda não tinha completado 4 anos de idade. E, a título de curiosidade, para os fãs de almanaques: Dutra proibiu o jogo no Brasil, em 1946.

Recordo de muitos navios, de bandeiras diversas, que se tornaram conhecidos dos santistas e, particularmente, meus conhecidos, devido às numerosas, praticamente incontáveis, escalas no porto, como o Vera Cruz, Santa Maria, Conte Grande, Conte Biancamano, Giulio Cesare, Augustus, Rio de La Plata, Provence, Brasil e Ruyz – a lista é longa.


Fotografia clicada do jardim da infância e primeiro ano
primário do Instituto Andradas, em abril de 1950. Sou o
quinto sentado, contar da esquerda. Acervo: L. J. Giraud.

Guardo na memória boas lembranças do Colégio Mont Serrrat, na Rua Oswaldo Cruz, em prédio que hoje pertence à Universidade Santa Cecília (Unisanta), e do Colégio Dom Pedro II, na Rua Osvaldo Cochrane, onde fiz o curso de Contabilidade. Também está eternamente marcada no coração a primeira turma de Comércio Exterior do Centro de Estudos Unificados Bandeirantes (Ceuban), que se transformou na atual Universidade Metropolitana de Santos (Unimes).

Tenho saudades – demais! – das temporadas de verão, quando ocorriam namoricos com moças da capital e interior de São Paulo, dos carnavais do Clube Internacional de Regatas e dos corsos nos anos 60. Era tudo bastante salutar, quase não se ouvia falar em drogas, havia pouca violência. Eram tempos muito diferentes.


Assim era a Orla das praias de Santos, no início de 1952, com poucos edifícios e com um ar bucólico. Era tudo muito tranquilo. Pode-se notar
a  Igreja de Santo Antônio do Embaré. Acervo: L.J.Giraud.

Também não posso deixar de lembrar a primeira vez em que fui à chamada Boca de Santos, onde estavam as boates destinadas a marinheiros, as casas de tolerância e um restaurante famoso, o Chave de Ouro, cujo prato preferido pelos frequentadores era o delicioso frango à passarinho. Na incursão à Boca, fui em companhia de dez amigos da Avenida Almirante Cochrane, o Canal 5 (eu residia no 104). Na área do nosso destino, desembarcamos do bonde 4 – bons tempos, aqueles do bonde! – no ponto em frente da casa da famosa tia Ivone, na Rua General Câmara, 275. Resolvemos entrar, ficamos apenas minutos. Explicarei melhor: tia Ivone, gentilmente, pediu para nos retirarmos. Motivo: tínhamos em média 16 anos. A Boca era um dos locais mais alegres e divertidos da Cidade. Quem conheceu confirmará o que digo.

Um dos capítulos mais fascinantes, gloriosos e brilhantes de Santos foi – sem dúvida! – a Era Pelé, do final da década de 1950 até meados da de 1970. Se Garrincha, no Rio, era a alegria dos cariocas, na privilegiada Cidade de Santos, a alegria dos santistas era Pelé, o Eterno Rei! A população falava entusiasticamente e comemorava as infindáveis vitórias da Baleia, como o Peixe (o Santos Futebol Clube – aos fãs de almanaques: houve tempos do nome oficial Santos Foot-Ball Club) era então expresso na boca do povo: “Mais uma vitória da Baleia!”.


O cartão-postal, mostra o transatlântico italiano. Conte Grande,
entrando em Santos pela primeira, no pós-Guerra - 1949.
Acervo: L.J.Giraud.

Vivi a época em que os cinemas de Santos estavam espalhados pelos bairros e havia a célebre Cinelândia, salas cinematográficas superconcentradas no Gonzaga – Meus prediletos eram, os cines Atlântico e Iporanga. Vivenciei os tempos em que todos ouviam rádio, que transmitia programas que causavam sensação e até comoção, como ocorre hoje com os da tevê. – Vi a chegada da tevê no Brasil, a Tupi em 1950. Era também uma época em que todos se visitavam. As pessoas eram mais amigas e receptivas.

Uma das minhas eternas lembranças da Cidade está no Restaurante Atlântico, nele tudo era bom, principalmente o sanduíche de frango, acompanhado de presunto, maionese e tomate – que delícia! Inesquecíveis recordações também me vêm do Café Atlântico – na minha opinião, o melhor café, em todos os tempos, de Santos! Inclusive a inigualável laranjada. Ah, a Confeitaria Yara! E também era inesquecível a Belas Artes, no local onde estão as Lojas Americanas, ao lado da Rua Othon Feliciano. A Belas Artes era vizinha do Cine Gonzaga. Me lembro do restaurante São Paulo, que ficava na Praça da Independência, em prédio que não mais existe. Quanto ao bar instalado dentro do antigo Parque Balneário Hotel, não havia melhor milk shake e sanduíche de misto quente em Santos. Ah, quase me esquecia do hot dog’s, como era bom! No meu entender, foi nele que surgiu o hábito, entre os santistas, de comer sanduíche, em especial o de hambúrguer, antes chamado de bife de velha, por ser de carne moída. E o hot dog, o popular cachorro-quente, era divinamente maravilhoso.


O Hotel Atlântico, local onde ficavam três grandes atrações da
Cidade: o restaurante, o café e o cassino, todos com o nome Atlântico.
O cartão-postal é rico em detalhes, com a fonte luminosa, o
estacionamento de automóveis e até um cachorrinho atravessando 
a rua - 1952. Acervo: L. J. Giraud.

Conheci, o célebre Restaurante Marreiro, que ficava na Praça da República, o Grande Hotel do Guarujá (Hotel de La Plage), o Palace Hotel e o Hotel Internacional, este último ficava na areia da Praia do José Menino. 

Cheguei a frequentar, também o Restaurante Dom Fabrizio e as cantinas La Fiorentina e Firenze, entre outras.

Como era bom passear na companhia do meu pai, Laire Giraud, médico e grande shiplover, pelas ruas XV de Novembro e do Comércio, para ver as maquetes de navios nas vitrines das agências de navegação... Ou então, na famosa – tão célebre, que se tornou uma das marcas registradas de Santos – calçada murada da Ponta da Praia, avistar a passagem dos cargueiros e transatlânticos, a entrarem e saírem do porto... Como diz aquela canção do nosso cancioneiro, eu era feliz e não sabia!


Na minha infância, as avenidas da praia tinham uma só pista de mão
dupla para o tráfego de veículos motorizados. A pista mais clara à
esquerda era destinada aos bondes. 1952. Acervo: L. J. Giraud.

           
A minha primeira ocupação profissional foi em 1960, na exportadora de café Volkart Irmãos. Depois, fui para o Sindicato dos Operários Portuários (1964), hoje o Sintraport. Também marquei ponto na agência de publicidade Hugo Paiva. Em 1973 comecei a atuar na atividade de despachos aduaneiros, depois consegui a promoção a ajudante de despachante, até conquistar a posição de despachante aduaneiro. Onde estou até hoje.

Graças à profissão e a todos – todos! – que contribuíram para a minha trajetória, consegui dar continuidade a uma expressiva coleção de cartões-postais. Escrevi livros sobre navios e sobre Santos. Visitei o antigo transatlântico Queen Mary, hoje um hotel flutuante, permanentemente atracado em Long Beach, na Califórnia. Conheci a base naval de Pearl Harbour, no Havaí, onde estive no memorial do encouraçado Arizona, naufragado em 7 de dezembro de 1941 durante o ataque dos japoneses. E muitos outros acontecimentos.


Foto de José Dias Herrera, o Seu Zézinho, mostrando o Parque
Balneário Hotel, poucos anos antes de sua demolição. O Parque
Balneário dispensa comentários e informações - 1969. Acervo L.J.Giraud.

            
Também não posso me esquecer dos que partiram desta vida, como os meus pais, avós, tios, parentes e amigos: sou imensa e eternamente grato a todos. Confesso que, no momento em que escrevia estas linhas, os olhos ficaram rasos de lágrimas – porque esses maravilhosos seres fizeram parte importante da minha existência!

Conheci o poeta Narciso de Andrade, o pesquisador Jaime Caldas, o jornalista Olao Rodrigues, Pedro Bandeira Jr., Dário Gonçalves, e o professor Nelson Salasar Marques, que contavam tudo sobre Santos, em deliciosas e memoráveis histórias. Eles já se foram, mas contribuíram muito para a memória santista com narrativas sobre a Cidade, casos que ainda me inspiram a escrever textos para esta coluna.


Foto de casamento, realizado na Igreja de Santo Antônio
do Embaré, no dia 06 de dezembro de 1974 (parece que foi
ontem). Dentre nossos padrinhos,Sebastião e Lucia de Oliveira
Martins e Gerson (91) e Arlete Praça Fonseca  (82).
Acervo da família.

Lembro que vivenciei o tempo dos “cisnes brancos” do Lloyd Brasileiro, navios de passageiros que marcaram época, nos anos 60 e início dos 70 – Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Leopoldina e Princesa Isabel.

Sou do tempo em que só serviam quatro tipos de pizzas: de mussarela, aliche, presunto e calabresa. Não existiam pizzarias. As pizzas eram servidas em restaurantes ou churrascarias que acrescentavam pizzaria ao nome, como a inesquecível Churrascaria e Pizzaria Tamoio, que ficava na Av. Pedro Lessa com Almirante Cochrane.


Creusa com nossos filhos Roberta
e Gustavo, no carnaval de 1981.

No inesquecível 1971, conheci a minha esposa Creusa Giraud, terna companheira dos bons e maus momentos, com quem ainda compartilho as minhas alegrias e tristezas. Com ela, tivemos, ainda temos, dois maravilhosos filhos, Gustavo e Roberta. Recentemente, em dezembro de 2009, completamos 35 anos de feliz vida conjugal.

Gostaria de narrar todos os bons acontecimentos da minha vida, mas é impossível, na prática. Por isso ficam aqui registradas algumas doces recordações – que a memória trouxe à tona, que marcaram o coração, que estão eternamente registradas na retina...


Fotografia oficial do famoso Luau do Germaine,
durante nosso visita ao Havaí, em 1996.

Para mim – que sempre desejo guardar no baú as mais gratas recordações – as fotografias são uma bênção. Elas mantêm as imagens congeladas, de modo que podemos acompanhar as fases da nossa vida pessoal. Além, disso, têm a função de registro histórico da realidade de uma época. Retratam as pessoas, os cenários e as fachadas de prédios, entre outras coisas, no decorrer dos tempos.

Por isso, abrirei o baú e mostrarei, nesta crônica, ilustrações que envolvem algumas recordações.

Aliás, caro amigo, cara amiga que me lê, sabe a razão deste escrito? É que hoje, 19 de janeiro, completo 65 anos de uma longa e feliz existência. É o dia do meu aniversário!


A bordo do inesquecível Rebrandt, durante comemoração do
nosso 23º aniversário de casamento. 1997. Acervo L.J.Giraud

Fico imensamente feliz de aniversariar em janeiro, mês do aniversário da minha querida Santos (26 de janeiro), de São Vicente (22 de janeiro), Guarujá (15 de janeiro), Praia Grande (19 de janeiro), da Cidade Maravilhosa, o eterno Rio de Janeiro (20 de janeiro), e de São Paulo (25 de janeiro). É também do aniversário de um amigo que está no lado esquerdo do peito, o jornalista Armando Akio (5 de janeiro), natural de São Paulo, mas que tem Santos guardado no coração.

Aproveito o ensejo para agradecer a Deus, e ao Santo da minha devoção - São Judas Tadeu, por tudo de bom que me ocorreu nesses anos de vida. Também agradeço à minha família, aos amigos e a todos os que foram importantes na jornada até aqui. Saúde, harmonia, reconhecimento e sucesso são os meus mais sinceros desejos – a todos!


O casal na companhia dos filhos durante a celebração
das bodas de Coral - 35 anos, no último 06 de dezembro. 
Foto: L. J. Giraud.

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