Segunda, 06 Janeiro 2025

“Home libre, toujours tu chériras la mer!”. O mistério da poesia que faz do verso antigo de Baudelaire uma legenda de perene atualidade: “Homem livre, sempre amarás o mar!”. Pois é, o relacionamento da França com o Brasil nasceu através do mar, citado por Narciso de Andrade, no Escritos (A Tribuna 09/03/1997) - O Porto de Santos em Fotografias e Photografias, cujo tema foi um livro que lancei na companhia de José Carlos Rossini, Jaime Caldas e Nelson Antonio Carrera, em dezembro de 1996.


Cartão-postal da primeira década do século 20, mostrando uma
fazenda de café do Estado de São Paulo, e o escoamento do ouro
verde em sacos de 60 quilos, pelo Porto de Santos (SP).

Com isso quero dizer que recentemente visitei uma belíssima exposição comemorativa ao Ano da França no Brasil. Confesso que fiquei extasiado com o que vi em matéria de imagens, que contam o velho relacionamento do café do Brasil com a França.

As imagens estão expostas em diversos painéis colocados no interior do Museu do Café, antigo Palácio da Bolsa Oficial de Café, inaugurado em 1922, e conta com três pinturas de Benedicto Calixto, relacionadas ao surgimento de Santos.

Essas imagens mostram um pouco de tudo do nosso ouro verde, em relação à França, desde propagandas, cafés de outrora e seus frequentadores, e até uma foto do tradicional Café Paulista, do meu acervo, presenteada pelo inesquecível pesquisador e historiador Jaime Caldas, e até da célebre Confeitaria Colombo do Rio de Janeiro. Entretanto, uma imagem chamou a minha atenção. Trata-se de um descarregamento, no início do século XX, de sacas de café brasileiro no porto do Havre, imagem que nunca havia visto.


Folder explicativo da belissima
exposiçao do Museu do Café que
homenageia o ano da França no
Brasil. Reprodução do Livro
propaganda no Brasil Através do
Cartão-Postal - 1900-1950, de
Samuel Gorberg.

Essa mostra, cuja curadora é Marjorie Medeiros, é imperdível, tanto que garanto, quem visitá-la, além de tomar um delicioso café na cafeteria do Museu, sairá maravilhado com o que viu.

Para maior compreensão do que digo, repasso abaixo informações recebidas do Museu do Café (Centro Histórico de Santos).

A exposição retrata a importância do café no intercâmbio cultural entre França e Brasil. Em comemoração ao ano da França no Brasil, o Museu do Café apresenta a exposição “O intercâmbio entre as culturas – França e Brasil – cafés, feiras e ciência”. A mostra destaca a importância decisiva do país europeu na chegada do café ao Brasil, a influência francesa na consolidação das cafeterias como espaços de socialização e as parcerias comerciais e científicas entre os dois países. Em cartaz até 31 de março de 2010, a exposição é uma realização do Museu do Café – Organização Social ligada ao Governo do Estado de São Paulo, e patrocinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


O interior do maravilhoso Museu do Café. Reprodução: Santos
Caminhos da Memória, FAMS - Prefeitura Municipal de Santos.

Se atualmente o Brasil é o principal produtor e exportador de café do mundo, a França tem papel fundamental nesse processo. Basta citar que as primeiras mudas e sementes que desembarcaram no país vieram da Guiana Francesa em 1727, como presente da esposa do governador, Sra. d’Orvilliers, ao capitão Francisco de Melo Palheta. No entanto, o hábito francês de beber café é bem anterior a esse período. Prova disso são registros como o livro “O bom uso do chá, do café e do chocolate para a preservação e para a cura de doenças”, escrito pelo médico Mr. De Blegny, ainda sob o reinado de Luís XIV.

O raríssimo exemplar, publicado em 1687, é um dos principais destaques da exposição.

A viagem no tempo, proporcionada pela mostra, contempla ainda a chegada das cafeterias à França, em 1672. Por meio de postais e imagens da época, está registrado um modelo de estabelecimento que se espalharia pelo mundo como ponto de encontro para discussões políticas e culturais, ou mesmo para momentos de descontração e prazer. No Brasil, as cafeterias chegaram ao final do século XIX e início do XX, fortemente influenciadas pelo modelo francês, como é possível perceber em painel dedicado ao Café do Rio, tradicional reduto dos jornalistas cariocas.


Cartão-Postal mostrando o reduto do café,
Rua do Comércio com Ruja XV de Novembro.
Ao fundo, o Palácio da Bolsa do Café - 1929.
Acervo: L. J . Giraud.

O acervo contempla ainda a participação brasileira nas Exposições Universais. As feiras, sediadas nas cidades de Paris (1855, 1867, 1878 e 1889) e Beauvais (1885), tinham como objetivo oferecer um panorama das riquezas das nações participantes. O Brasil, além das madeiras da Amazônia e do Pará e dos diamantes de Minas Gerais, exibia o café como principal produto agrícola nacional. Esses eventos foram fundamentais para a expansão da exportação do café brasileiro para solo francês. Atualmente, a França é a nona maior importadora do café produzido no Brasil.

A mostra termina com o panorama das cooperações entre os dois países no estudo e pesquisa com vários produtos agrícolas, entre eles, o café. A parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o francês Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica pelo Desenvolvimento (Cirad) já existe há mais de trinta anos e visa o desenvolvimento de variedades mais resistentes e de melhor qualidade.


O ator de hollywood, Cary Grant (1904-1986), na companhia
da família, no aguardo do delicioso café. Foto clicada no
interior do restaurante do famoso Waldorff Astoria Hotel, de
Nova York. Reprodução.

O Museu do Café é uma Organização Social ligada à Secretaria de Estado da Cultura e fica à rua XV de Novembro, 95, no Centro Histórico de Santos. Seu horário de funcionamento é de terça a sábado das 9h às 17h. Aos domingos, funciona das 10h às 17h. Os ingressos para visitação custam R$ 5. Estudantes e pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada.

Certamente, essa seria a exposição que Narciso de Andrade, Jaime Caldas, Nelson Salasar Marques, Olao Rodrigues, Bandeira Júnior e Roldão Mendes Rosa, entre outros, não perderiam, caso ainda estivessem entre nós. Mas lá do Céu eles, com certeza, também se extasiaram.

Não percam!


Imagem típica do interior de uma cafeteria, reproduzida do folder
da exposição.


Cartão utililizado no final da década de 1940, do quase centenário
Café Paulista, da Cidade de Santos. Acervo: L. J. Giraud.

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