Sexta, 19 Abril 2024

Como indiquei em artigos anteriores, durante a minha adolescência, visitava com freqüência os navios de guerra da Marinha do Brasil que faziam escala no Porto de Santos. Assim, conheci navios da Marinha do Brasil, que deixaram seus nomes gravados na sua história, como os contratorpedeiros de escolta da Classe B, “Beberibe”, “Bocaina”, “Baependi”, “Bertioga” e “Babitonga”.

O cruzador ’’Tamandaré’’, entrando na Baía da
Guanabara nos Anos 60 do Século 20. (Reprodução)

Também tive oportunidade de conhecer outra classe de contratorpedeiros, constituída de três unidades: o “Marcílio Dias”, o “Mariz e Barros” e o “Greenhalgh”. Conheci ainda as corvetas “Imperial Marinheiro”, “Bahiana” e “Forte de Coimbra” e os rebocadores de alto-mar “Triunfo”, “Tridente” e “Tritão”.

E também os navios-escola “Saldanha da Gama” e “Guanabara” (o atual “Sagres”, da Marinha de Portugal) e os últimos cruzadores da Marinha do Brasil, “Barroso” e “Tamandaré” – este era o meu preferido entre todos os navios de guerra.


Os inesquecíveis cruzadores ’’Barroso’’ e ’’Tamandaré’’,
durante visita ao Porto de Santos na Década de
1950. Fotografia tirada a partir da popa (parte de
trás) do contratorpedeiro ’’Mariz e Barros’’, também
integrante da frota da Marinha do Brasil.
(Reprodução: Acervo Laire José Giraud)

Vale lembrar, que o último cruzador da Marinha do Brasil, o “Tamandaré”, foi um navio bélico destinado a ter muita sorte. Com o nome original de “Saint Louis”, a serviço da Marinha dos Estados Unidos, escapou ileso do ataque japonês à Base Naval de Pearl Harbour, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941.

O legendário encouraçado “Arizona”, da Esquadra americana, estava também em Pearl Harbour, mas não logrou ficar livre da destruição, afundando juntamente com outras embarcações.

Durante os embates navais no Pacífico, em plena Segunda Guerra Mundial, já com a participação dos Estados Unidos, o “Saint Louis” tomou parte de várias batalhas. Ele deu, por exemplo, cobertura ao desembarque de fuzileiros americanos nas ilhas em poder dos japoneses.


O cruzador ’’Saint Louis’’, posteriormente batizado
de ’’Tamandaré’’, em Tulagi, nas Ilhas Salomão, na
Melanésia, em 1943, durante a guerra do Pacífico
(Reprodução)

O início
O “Saint Louis” foi comissionado (entrou em serviço) em 1939, ano em que os Estados Unidos assistiam à Segunda Guerra Mundial de longe, do outro lado do Oceano Atlântico. Em determinada ocasião, durante a Segunda Guerra Mundial, o “Saint Louis” foi atingido na proa (frente) por um torpedo.

Em outra oportunidade, recebeu ataque de um piloto de avião kamikaze (suicida). Em ambos, a embarcação se manteve firme, a flutuar. Escapar de tal série de investidas fez com que os marinheiros dos Estados Unidos passarem a chamar o “Saint Louis” de “Luck Lou” (Lou, o Sortudo).

Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Marinha dos Estados Unidos passou para a reserva excelentes navios de combate, desde lança-torpedeiras a encouraçados e porta aviões. Entre esses navios bélicos, estavam o “Saint Louis” e o “Philadelphia”, adquiridos pela Marinha do Brasil e rebatizados, respectivamente de “Tamandaré” e “Barroso”.


O comandante, o imediato e os oficiais superiores
da primeira tripulação do cruzador ’’Tamandaré’’; 1952.

(Reprodução: Marinha do Brasil)

Incorporação
O cruzador “Tamandaré” foi incorporado à Armada do Brasil na Base Naval de Filadélfia, na costa atlântica dos Estados Unidos. A data: 6 de fevereiro de 1952.

O primeiro comandante do “Tamandaré” foi Paulo Bosísio. A embarcação chegou ao Rio de Janeiro em 20 de abril seguinte. Vários foram os feitos do bravo guerreiro, quando desfraldava a nossa bandeira: viagens de instrução para aspirantes (cadetes) da Escola Naval e grumetes da Escola de Aprendizes Marinheiros, participação em operações navais em conjunto com navios de outras Marinhas, como a Operação Unitas, em 1977, e a Operação Caribe, em 1971.

 

Em 1955 o ’’Tamandaré’’ foi designado para conduzir

o presidente da República em visita oficial a Portugal.

O roteiro da viagem foi Rio-Recife-Casablanca-Lisboa.

O então presidente João Café Filho embarcou no

navio em Casablanca, Marrocos, sendo recebido pelo

terceiro comandante do navio, capitão-de-mar-e-

guerra Paulo Antonio Telles Bardy, em 21 de abril de

1955. (Reprodução: Marinha do Brasil)

Acontecimentos
Na Década de 50, ocorreram dois fatos ainda lembrados pelos saudosistas da Marinha. O primeiro foi a escolha do “Tamandaré” para transportar o presidente da República, então Café Filho, para uma visita a Portugal, onde chegou em 22 de abril de 1955.

Em Lisboa, a capital portuguesa, o “Tamandaré” recebeu escolta de honra dos contratorpedeiros (destróieres) portugueses “Dão”, “Tejo” e “Vouga” e do navio-aviso “Nuno Tristão”.

Saiu ileso
O segundo fato digno de registro aconteceu em 11 de novembro, também de 1955. Por questões políticas, o “Tamandaré” deixava a Baía de Guanabara, levando a bordo o presidente da República em exercício, Carlos Luz. Conduzia ainda Carlos Lacerda e autoridades civis e militares.

De terra, foram disparados tiros de canhões, lançados pelas várias fortalezas existentes na costa. O heróico “Tamandaré” não deu um só tiro.

Embora o cruzador tivesse condições de disparar de forma devastadora, não o fez, evitando assim uma tragédia que seria desnecessária. O episódio apenas confirmou a fama do velho “Luck Lou”. Mais uma vez, o navio saiu ileso de ataques.

Sucata
Após mais de 23 anos de bons serviços à Marinha do Brasil, o Tamandaré foi descomissionado, desarmado e colocado à venda para sucata.


Em 22 de abril de 1955, o cruzador ’’Tamandaré’’ foi

escoltado por uma força naval portuguesa constituída

pelo aviso ’’Nuno Tristão’’ e pelos contratorpedeiros

’’Dão’’, ’’Tejo’’ e ’’Vouga’’. A chegada a Lisboa foi um

evento extraordinário, com grandes festas e home-

nagens ao presidente brasileiro, João Café Filho.

Na imagem, o ’’Tamandaré’’ ancorado em frente ao

Terreiro do Passo, em Lisboa, Portugal.

(Reprodução: Marinha do Brasil)

O fato não passou despercebido para uma comissão de veteranos dos Estados Unidos que serviram no “Saint Louis”. Eles se mobilizaram para angariar fundos para adquirir o navio.

A iniciativa não teve sucesso. O “Tamandaré” foi vendido para sucateiros de Taiwan (Formosa). Durante o reboque, ao passar pela África do Sul, em 24 de outubro de 1980, afundou.

Resistência
Não restam dúvidas, o valente “Tamandaré” não aceitou ser cortado por maçaricos e virar sucata.

O comandante Domingos Pacífico Castelo Branco Ferreira, que serviu no “Tamandaré”, assim definiu o navio, em artigo na Revista Marítima Brasileira, da Marinha.


O ’’Tamandaré’’, navegando durante viagem de
instrução de cadetes da Marinha do Brasil em 1962.
(Reprodução: Revista Marítima Brasileira)

O “Tamandaré” foi indiscutivelmente um navio macho. As formas esguias, o armamento compacto e bem distribuído em perfil agressivo formavam um todo sólido, porém ágil, à semelhança de cão de guarda feroz, pronto a estraçalhar o primeiro intruso.

A lacuna deixada pelo “Tamandaré” é preenchida pela recordação dos heróicos feitos, eternizados na memória dos que viveram a história do bravo navio e também na memória dos que o admiravam nos portos onde fez escala.

Características técnicas
Nome:
Tamandaré
Bandeira: Brasil
Nome anterior: Saint Louis, a serviço da Marinha dos Estados Unidos
Armador: Marinha do Brasil
País construtor: Estados Unidos
Estaleiro: New Port News Shipbuilding, Virgínia
Incorporação à Marinha dos EUA: 1939
Incorporação à Marinha do Brasil: 1952
Comprimento: 185,40 metros
Boca (largura) 18 metros
Deslocamento: 13.400 toneladas
Propulsão: Turbinas a vapor, 4 hélices
Potência: 100.000 cavalos-vapor
Velocidade: 32 nós (59 km/h)
Armamento: 15 canhões de 152 mm em 5 torres tríplices, canhões de 127 mm em 4 torres laterais, 28 canhões de 40 mm antiaéreos e numerosas metralhadoras
Helicópteros: 1
Tripulação: 58 oficiais, 32 suboficiais, 168 sargentos e 809 marinheiros

Veja mais imagens:


O ’’Barroso’’ - 1956. Atracado a contrabordo, o cruzador
’’Tamandaré’’. (Reprodução: Foto José Dias Herrera do
Acervo: Laire José Giraud)


Operação Caribe 71: os contratorpedeiros ’’Amazonas’’
e ’’Santa Catarina’’ se aproximando para iniciar faina
de passagem de carga leve. Notam-se as torres tríplices
com canhões de 152 mm. (Reprodução: Revista Marítima
Brasileira)


Um Helicóptero Wasp, operando no último cruzador
da Marinha do Brasil, em 1974. (Reprodução: Revista
Marítima Brasileira)


Reprodução do periódico NOMAR, do Centro de Comunicação da
Marinha do Brasil

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