Dia desses, num dos canais da tevê a cabo, assisti um documentário sobre a grande movimentação de carga e passageiros nos píeres do porto de Nova York, no passado.
O transatlâtico Queen Elizabeth2, sempre majestade, deixando o
Porto de Nova York, mais precisamente na baixa Manhattan. Ao
fundo, as fatídicas torres gêmeas do World Trade Center, vítimas de atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Reprodução.
O objetivo principal do referido documentário foi mostrar que era necessária a mudança urgente dos atracadouros marítimos para outros locais do estado de Nova Jersey, em razão do sistema viário de Manhattan se encontrar literalmente entupido e sufocado, devido ao elevado número de veículos de cargas que por lá transitavam. Isso nos anos 60/70 do século passado.
Esse documentário me trouxe uma triste visão, que encontrei ao passar pelo local portuário, que até os anos da década de 1970 era supermovimentado e cheio de vida, um tanto ermo e relaxado, em comparação aos filmes e fotografias que havia visto antes.
Vista do local onde fica o museu na margem do Rio Hudson,
vendo-se em destaque o porta-aviões Intrepid, condecorado por atos
de heroísmo durante a Segunda Guerra Mundial. Acervo: L.J. Giraud.
Para os leitores que desconhecem esse fato, repriso o artigo “Coisas da Nova York Marítima”, que mostrou o meu desapontamento, e concomitante alegria de ver novas atrações, como Píer 17. Eis o texto:
No verão de 1998, estive na cidade de Nova York, com o intuito de conhecer três importantes locais.
Em primeiro lugar, visitar o local onde ficavam os píeres de atracação dos célebres transatlânticos do passado, entre as Ruas 44 e 56 com o Rio Hudson, que, diga-se de passagem, era o terminal de passageiros mais importante do Mundo.
Chegada triunfal, na viagem inaugural do Queen Mary, em junho
de 1936. Atualmente o famoso transatlântico, que pertenceu à
Cunard Line é hotel flutuante e centro de convenções na cidade de
Long Beach - Califórnia. Acervo: L.J. Giraud.
Durante a visita, estava acompanhado de meu filho Gustavo Giraud. Deparei com o lugar com vários píeres demolidos ou em estado péssimo de conservação que nem de longe lembravam os movimentados píeres das grandes companhias de navegação como a French Line, Italian Line, United States Line, Holland American Line, Swedish-American Line, North German Lloyd, Cunard Line e a famosa MooreMcComarck Lines, que ficou conhecida junto aos brasileiros, foi proprietária dos transatlânticos Brazil, Argentina e Uruguay - que formavam a Frota da Boa vizinhança, entre outras grandes armadoras da época.
Durante algum tempo fiquei observando os lugares, agora ermos, onde atracavam célebres navios como o Ile de France, Conte di Savoia, Rex, Queen Mary, Queen Elizabeth, Normandie, Andrea Doria, Cristoforo Colombo, Leonardo da Vinci, Rafaello,
Rotterdam, France, Michelangelo e tantos outros navios de passageiros que marcaram uma época romântica, que felizmente hoje se encontra preservada em fotografias e filmes.
Através do poder da imaginação, visualizei uma grande movimentação de passageiros e pessoas ligadas às atividades que um terminal marítimo exige para um bom funcionamento, bem como esses transatlânticos nos berços de atracação.
Grande recepção da cidade de Nova York, na primeira escala do transatlântico americano S/S United States, o mais rápido navio de passageiros em todos os tempos. 1952. Acervo: L.J. Giraud.
Ao voltar à realidade, senti uma grande tristeza, pois restaram apenas alguns desses píeres para receber os transatlânticos de cruzeiros marítimos.
Afinal de contas, o Porto de Nova York e o do Brooklin mudaram de lugar, hoje ficam situados em Elizabeth – Nova Jersey, do outro lado do Rio Hudson.
Em segundo lugar, visitar o Intrepid Sea Air Space Museum, onde a principal atração é o porta-aviões Intrepid, que participou da Segunda Guerra Mundial, no Pacífico.
Um dos mais charmosos transatânticos da Itália, o Andrea
Doria, deixando a cidade mais famosa do mundo, em 1954.
O navio foi abalroado em julho de 1956, pelo sueco Stockholm,
e foi a pique. Acervo: L. J. Giraud.
Por fim, visitar o South Street Seaport Museum, que agrega quarteirões com edificações do Século 19, cujas construções estão totalmente restauradas e ficam junto à orla marítima de Manhattan. Esse complexo cultural, além do museu, é um verdadeiro centro de lazer que oferece muitas coisas interessantes, entre elas o Píer 17 Pavilion, que é um shopping que funciona sobre o antigo píer do mesmo número.
Lá encontramos lojas de artigos diversos, excelentes bares e restaurantes, além de uma filial da famosa casa Pizza One, cuja matriz é em Chicago, Illinois.
Naquele local estão atracadas em exposição permanente várias embarcações famosas, como o veleiro Peking, e outras tão importantes, como o barco-farol Ambrose, que no passado assinalava a entrada do Porto de Nova York.
O Constitution (1951), gêmeo do Independence, da American
Export Line, durante manobra de atracação, num dos piers de
Nova York, hoje desativados.
Daquele pitoresco píer são avistadas a Estátua da Liberdade e a também mundialmente conhecida Ponte do Brooklin.
O meu objetivo principal naquele complexo cultural foi encontrar imagens de navios antigos que passavam pelo Porto de Santos.
As minhas aquisições, no entanto, foram poucas em razão de o destaque ser dado para os navios que singravam pelo Atlântico Norte. Entretanto, as melhores imagens de transatlânticos que obtive foram encontradas em Santos, quando mantive contato com o fotógrafo José Dias Herrera, o seu Zezinho, para a aquisição de fotografias dos Anos 50. José Dias Herrera, que foi fotógrafo de A Tribuna durante várias décadas, documentou grande parte da História de Santos através das imagens.
Várias fotografias do seu Zezinho estão nos livros de minha autoria, como Transatlânticos em Santos – 1901/2001 (lançado em 2001), e no último lançamento, Transatlânticos de Cruzeiros Marítimos – O Passado no Presente, em 21 de janeiro de 2004, na Alfândega do Porto de Santos.
Fico pensando: o que seria da Ilha de Manhattan, hoje, se os píeres tivessem permanecido por lá? Certamente o caos total.
Vista aérea dos píeres que cercavam Manhattan, no East River.
Ao fundo, vemos inúmeros edifícios, e uma das torres do World Trade Center, em construção. Foto Port Autahority of New York & New
Jersey, publicada no livro, adquirido no Pier 17, "New York Shipping"
(1996), autoria de William H. Miller.
O transatlântico francês S/S France atracando no Pier 88, na
viagem inaugural, em 08/02/1962. Uma curiosidade, o local é o
mesmo onde o famoso Normandie pegou fogo, em 1942. A imagem é reproduzida do excelente livro S/S France - 1962, S/S Norway -1979,
de autoria de William H. Miller e Luís Miguel Ciorreia. Lançado em 2002.
Fechando com chave de ouro, o inesquecível Eugenio C, deixando
Nova York. Pintura óleo sobre tela de Stephen J. Card.