Segunda, 06 Janeiro 2025

No último dia 16, fui ao Teatro Coliseu para visitar uma exposição diferenciada das demais até hoje apresentadas em Santos, por tratar-se de uma mostra sobre a propaganda. O título da exposição é 100 Anos de Propaganda em Santos, uma parceria realizada entre a Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS), Museu da Imagem e do Som (MIS), e Instituto Histórico e Geográfico de Santos.


O Teatro Coliseu, local onde está a bela exposição. Foto: Reprodução.

A exposição vai até o próximo 4 de outubro. O curador é o Prof. Marco Antonio Batan; pesquisa e texto, Professora Dra. Cinara Augusto, e muitos outros participantes como Lucimar Pergolizzi M. Oliveira, Rogério Bomfim, entre outros. Os acervos são da FAMS, jornal A Tribuna, Sociedade Humanitária e do historiador Waldir Ruedas. Todos estão de parabéns.

Cerca de 140 peças publicitárias mostram um século da propaganda em Santos, através de interessantes cartazes e anúncios que vão do final do século XIX até fins do século passado, o 20. Essas peças na verdade destacam momentos da Cidade, alem de demonstrarem a sua importância não só junto aos anunciantes locais, como também de outras partes do Brasil.


Na entrada do salão, no piso superior do Teatro Coliseu, está exposto
um painel de apresentação dos colaboradores da exposição, tendo
uma foto da Ponta da Praia no início dos anos 60, onde aparecem na
margem esquerda anúncios do Leite Sol e da caninha Tatuzinho. 
Foto: Laire J. Giraud

A exposição, que merece ser vista pela originalidade do tema, na verdade é um autêntico mergulho no tempo, apresenta anúncios marcantes, como exemplo o da Cerveja Braz Cubas, que teve seus momentos de prosperidade graças à qualidade da água santista. Outros anúncios que chamam atenção do visitante são os da Viação Aérea São Paulo (Vasp), que indica o vôo diário de Santos/Rio de Janeiro/ Santos, com escala na Capital Paulista, bem como o da Panair, do final dos anos 1930, onde apresenta o maior avião comercial do mundo, que tinha o nome de Brazilian Cliper, utilizado na rota para os Estados Unidos pela Pan American Airways. Outros anúncios notáveis são os do lançamento de prédios de apartamentos na década de 1950, entre eles o do Parque Verde Mar, bela construção situada na Av. Vicente de Carvalho próximo à Av. Conselheiro Nébias. Tudo isso e muito mais, como anúncios que marcaram época, dentre os quais, os das lojas Sears, A.D. Moreira, Gomes, Casa Leipzig, entre outros.

Esses 100 anos da propaganda santista é nostalgia pura e nos fazem recordar muitos fatos ocorridos em Santos através dos cartazes e anúncios. Um deles lembra da época do vibrião colérico (1978), através da grande campanha que teve o apoio do comércio varejista de Santos.


Cerca de 140 peças permitem a visão da cidade no campo da
publicidade e propaganda de Santos. Foto: Laire J. Giraud

Fiquei até sabendo, através do folder da exposição que o maior “recall” da propaganda brasileira na primeira metade do século XX é de autoria do médico e poeta santista Martins Fontes, mas foi atribuído indevidamente ao dono da agência de propaganda. A controvérsia inclui até o crédito para o farmacêutico dono do produto.

Trata-se da propaganda fixada nos bondes de todo o Brasil. – “VEJA O LUSTRE PASSAGEIRO O BELO TIPO FACEIRO QUE TEM AO SEU LADO,  E NO ENTANTO, ACREDITE, QUASE MORREU DE BRONQUITE, SALVOU O RHUM CREOSOTADO” – Martins Fontes (1918). Isso é só uma pequena idéia do que é a impecável exposição, que merece ser visitada, não só por estar nas dependências de um dos cartões-postais da Cidade, como pela ótima qualidade da mesma.


Painel dos anúncios das cervejas fabricadas em Santos.
Foto: Laire J. Giraud

 
Recordando
Ao adentrar o saguão do belo Teatro Coliseu, aonde já não ia desde 1956, prontamente me veio à memória, as semanas santas da minha infância, precisamente nos anos de 1955 e 1956, quando pelas mãos de minha mãe era levado para assistir uma antiga película muito triste em preto e branco, sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na época era cinema e teatro. As sessões ficavam repletas de crianças acompanhadas geralmente por suas mães. Vale lembrar que a Semana Santa, no passado, era muito respeitada, tanto que as rádios só tocavam músicas religiosas.


O cartaz da cerveja Braz Cubas mostra uma marca que
prosperou na Cidade, graças à qualidade da água santista.
Foto: Reprodução.

O grande cartofilista carioca Elysio de Oliveira Belchior, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no prefácio do livro “A Propaganda no Brasil Através do Cartão-Postal – 1900 – 1950”, de 2002 e autoria de Samuel Gorberg (autor de outra significativa obra – “Estampas Eucalol”), conta em certo trecho o seguinte: “A propaganda nasce com a vida social, pois nela os homens precisam informar ou persuadir, Mas esta necessidade traz consigo outro objetivo que se encontra na própria etimologia latina do vocábulo: propagare, estender, dilatar; popagatio, ampliação, dilatação. Informar ou persuadir para atingir objetivos mais amplos, mais dilatados”.

Finalizando, dentro do pensamento de Paul Ricoeur “o que o historiador deseja em última análise explicar e compreender são os homens”. Compreender a memória da propaganda é compreender aspectos do homem em sua circunstância histórica.


,Em 1929 a Panair começou no Brasil
com a linha Santos-Belém de transporte
aéreo de correspondência. Dai passou
a transportar passageiros para o Brasil
e o mundo. Foto:
Reprodução.


Em 1978 o comércio varejista de Santos
toma as dores da comunidade no caso do
vibrião colérico. Foto: Reprodução.
 

A linguagem publicitária valorizava a
ilustração nos anúncios de jornais e revistas.
Foto: Reprodução.
 

Antigo anúncio do medicamento
Guaraina. Era um dos medicamentos
usados pela população santista contra
dores, gripes e resfriados.
Foto: Reprodução.
 

O autor quando menino era levado pelas mãos de sua mãe Aura
Maria da Costa Giraud, nas matinês do Cine Coliseu no início do ano
de 1950. Acervo? Laire J. Giraud.
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