Conheço grandes admiradores de navios, mas poucos com a paixão de Dimas Almada, amigo virtual e colecionador de cartões-postais que conheci recentemente.
O shiplover Dimas Almada, a bordo do Star Princess, da armadora
Princess Cruises, numa das escalas na Ilha da Madeira.
Explicando melhor, meses atrás recebi um simpático e-mail, de um jovem, de 33 anos (completados no último 5 de agosto), nascido e residente na simpática Ilha da Madeira, mais precisamente no Funchal. Essa encantadora Ilha portuguesa, com população de 260 mil pessoas, anualmente é visitada por turistas de todas as partes do mundo, vindos através dos transatlânticos de cruzeiros, ou em aviões.
Vale lembrar, que a Madeira, como é chamada pelos portugueses, recebe anualmente uma quantidade incrível de navios de cruzeiros, das mais variadas armadoras. Assim se pensarmos num determinado navio de lazer, com certeza ele passou por lá, como exemplo: Seven Seas Navigator, MSC Orchestra, Amadea, Queen Mary2, Minerva II, Norwegian Jade, Ocean Majesty, Sga Rose, Marco Polo, Westeram, Aurora, Oceana, Arcadia, Crystal Serenity, Monterey, Queen Elizabeth2, Black Watch, e muito mais.
Vários navios de cruzeiros (12) atracados e fundeados em Funchal,
Ilha da Madeira, na passagem de ano - 2007. - AIDAdiva, Albatros,
Athena, Aurora, Black Watch, Costa Serena, Princes Danae, Saga Rose, Saga Ruby, The World, Thompson Destinity e Van Gogh - Foto: Nuno
Davide Jesus.
Dimas Almada, casado com a jovem Bárbara, pais de Tomas, um lindo menino de 3 anos, que já conhece alguns navios (filho de peixe, peixinho é), trabalha na conceituada agência de navegação Agentes de Navegação Blandy, Lda., mais conhecida por Blandy Shipping.
Pelo que relata em seus e-mails, sempre ricos em detalhes, Dimas com certeza está entre os maiores shiplovers que conheço. Dentre eles José Carlos Silvares, José Carlos Rossini, Miguel Luis Correia, Paulo Lapa, Cte. Gabriel Lobo Fialho, Emerson Franco R. da Silva, Edson Lucas, Rafael Viva, Marco Antonio Pedro, João Emilio Gerodetti, Antonio Giacomelli, Fabio Melo Fontes, Bruno Pricoli, Daniel R. Carneiro e Sergio de Oliveira. Fecho a grande lista com o amigo Silvio Roberto Smera, sempre nos contemplando com lindas fotos de navios que escalam Santos.
Belíssima foto noturna no Rèveillon de 2007, com transatlânticos
no aguardo da grande queima de fogos de Funchal.
Foto: Nuno Davide Jesus.
Fã de todos os tipos de navios mercantes do passado e presente, seu acervo particular de cartões-postais de navios ultrapassa as 40.000 unidades.
Com isso quero dizer que iniciamos uma sincera amizade através dessa maravilha que é a Internet. Vale dizer que quase todos os e-mails vão e vêm repletos de novidades e informações, sobre o nosso tema preferido: os navios.
Por ser pessoa dedicada a tudo que faz, gostaria que os leitores soubessem, um pouco desse apaixonado por navios. Para isso, peço ao amigo, licença para repassar, trecho do texto de um e-mail recebido recentemente, isto é, quando pedi que contasse como começou. A sua paixão pelos reis dos mares.
O elegante cruzeiro Oosterdam, da conhecida Holland America
Line. Acervo: D. Almada.
Na verdade suas palavras equivalem como uma breve apresentação aos amigos leitores da coluna Recordar do PortoGente. Eis o texto de Dimas:
“Quanto ao Dimas Almada, bem posso dizer que desde criança me deslumbrei com os navios, nasci em 1976, e desde sempre recordo-me de ver o mar e os navios, e já com cerca de 4 anos, lembro-me de ir ao miradouro das Cruzes, que ficava perto da casa dos meus avós, pela mão do meu Avô Arnaldo de Freitas, ver o movimento diário do Porto do Funchal, na década de 80, década de ouro dos paquetes soviéticos escalando a Madeira semanalmente com uma frequência impressiona-te.
Destes tempos recordo-me com carinho do Canberra da P & O, que foi o navio mais emblemático que alguma vez passou na Madeira, e é sem duvida o meu navio predileto de todos os tempos. Segue-se o mítico Queen Elizabeth 2, onde tive o privilegio de sonhar em criança de estar a bordo e na realidade conseguir ser o agente dele, tendo inúmeros episódios a bordo quando das suas visitas, ate a data da sua ultima escala na nossa região no ano passado.
O célebre e simpático Black Watch, da Fred. Olsen Cruise Line, velho conhecido da Madeira, em bela foto noturna. Acervo: D. Almada.
Dos meus gostos pessoais admiro ainda a linha lindíssima dos míticos paquetes da classe Ivan Franko, da classe Mikhail Kalinnin, do Fedor Shalyapin, e jamais esquecerei o meu paquete amigo, o meu “ Van Gogh” ex Gruzya que tão boas memorias me deixou…
Curiosamente foi vendido nos mês passado após arresto na Grécia, devido à falência da Club Cruise à Salamis Lines para substituir o cisne branco “ Salamis Glory” que está perto do fim da sua vida…
Ao contrario das outras crianças, brincava com navios e os carros, bem esses ultimos eram cargas apenas dos navios, e uma vez mais o meu avô era um artesão incrível, pois fazia-me os navios em madeira replicas dos paquetes que nos visitavam...
O Queen Elizabeth2, sempre majestade, é um dos mais charmosos transatlânticos de todos os tempos, fez viagem inaugural em 1969 e navegou até novembro de 2008. Brevemente será hotel flutuante, na cidade de Dubai. Acervo: D. Almada.
Recordo-me de ir crescendo com esta paixão, a ponto de um dia o meu Pai - José Carlos Amada, ter me dado quando fiz 9 anos a colecção de postais de navios que ele tinha quando era juvenil ( era tradição na Madeira fazer colecção de postais de navios, algo semelhante aos " figurinhas do futebol" sendo que na altura não existiam por cá), cerca de 82 postais, e desde então, nunca mais parei e hoje possuo uma colecção de cerca de mais de 40.000 postais de navios, sendo todos eles oficiais de companhia.
Fiz o liceu, mas cedo exclui a hipótese de ir para a marinha para ser comandante e depois piloto ( pratico), pois devido a um acidente, tive de ser operado e coloquei uns parafusos no braço, que me excluíram de seguir esta carreira.
Porem nada me fez parar e cada vez mais os navios estavam presentes a toda a força.
O esplendoroso Vistafjord, por seu belo visual dispensa maiores comentários. Acervo: D. Almada.
Segui para relações internacionais, na vertente de direito marítimo, e conclui a licenciatura da Universidade Lusíada na cidade do Porto.
Tive apenas uma semana " desempregado" pois surgiu da parte da Blandy Navegação, o convite imediato para integrar a empresa líder na Madeira neste ramo de actividade.
Havia estagiado dois anos antes nas ferias de verão nesta empresa, e desde então integrei esta equipa.
O Norwegian Gem, da Norwegiam Cruise Line, é uma verdadeira
joia, como diz o nome. Fazer um cruzeiro a bordo dele parece chamar
a prosperidade. Acervo: D. Amada.
Estou ligado ao agenciamento de navios, parte operacional, essencialmente onde representamos cerca de 75% das companhias de cruzeiros mundiais, cerca de 120-150 paquetes por não, mais outras 30-50 escalas de navios mercantes, operações em alto mar para mudança de tripulação, navios com cargas especiais, militares e mega-yachts de luxo.
Como operacional a minha função é fazer tudo para que a escala seja perfeita, desde a nomeação que poderá surgir no ano anterior ao dia de escala até a hora que o navio sai do porto.
O AIDAbella, com sua bela pintura decorativa, faz com seja um navio vistoso. Acervo: D. Almada.
A minha função é ser o elo de ligação entre o navio e as autoridades, preencher todos os requisitos que possa haver da parte do navios, quer sejam de passageiros, tripulação e ate de carga, coordenar todas as operações inerentes.
A titulo de exemplo, um paquete médio do presente tem cerca de 2.000 pax mais tripulação, pois bem cabe a mim satisfazer as necessidades desta " pequena cidade" flutuante, desde casos médicos, mantimentos, pedidos técnicos do próprio navio, desembarques de emergência, cadáveres, etc, ou seja é fazer a " cidade fluir a seu ritmo normal".
O holandês Rotterdam, é um dos belos navios de cruzeiros, que
passou por Santos. Sua capacidade é de 1.316 passageiros. Deslocamento, 59.885 tons. Acervo: D. Amada.
O meu sonho concretizou, pois vou a bordo de quase todos os paquetes do mundo, posso vê-los no seu interior, comunicar com comandantes, cruise directors, etc, mas, além disso, existe o prazer de actuar com todos os demais navios, a titulo de exemplo, acredite que estar a 7 milhas da Madeira e subir a bordo de um vlcc( very large crude carrier) de 380 metros e mais de 300.000 tons é algo arrepiante e para poucos...mas não existem palavras para descrever o quanto sou feliz por graças a Deus fazer aquilo
que gosto”.
Os postais dos transatlânticos (paquetes como são chamados em Portugal) aqui exibidos na forma de painel foram enviados por Dimas, como presente. Dado a quantidade e qualidade dos mesmos, a escolha foi um tanto difícil. Segui o meu coração. Espero que estejam ao gosto de todos, bem como imaginarmos um cruzeiro a bordo de um deles.
Fica aqui o sincero agradecimento, ao nosso novo (alguns já o conhece) amigo Dimas Almada, pelo interessante relato e pelas maravilhosas ilustrações que muito enriquecem este artigo.
O navio preferido por Dimas Almada, em todos os tempos, o
britânico Canberra da armadora P&O, de 1961. Fazia a linha da
Austrália e Nova Zelândia. Posteriormente foi utilizado em
cruzeiros. O transatlântico não foi vendido, mas demolido, para
que fosse evitada a procura por seus passageiros cativos, caso
estivesse na mão de outra armadora. Tinha capacidade para
2.272 passageiros. Acervo: Dimas Almada.
Esperamos que um dia o amigo venha ao Brasil na companhia da família para que junto com a minha possamos participar de um feliz cruzeiro, num dos transatlânticos que fazem de Santos o seu porto âncora (base), pela maravilhosa costa brasileira.
Até lá, Dimas, e um grande abraço.