Quarta, 01 Janeiro 2025

Dois belíssimos transatlânticos espanhóis ficaram muito conhecidos nos anos dourados, em Santos e pelos portos onde escalavam. Seus nomes eram Cabo San Vicente e Cabo San Roque, da armadora Ybarra Y Compañia. Certamente muitos ainda se lembram deles. Esses dois navios de passageiros são da época em que o Porto de Santos dividia os passageiros em viagens internacionais, com os aeroportos de Congonhas e de Viracopos.

 

O belíssimo cartão-postal do Cabo San Roque, gêmeo do Cabo San

Vicente (deslocamento: 18.000 toneladas), impresso em 1959.

Acervo: L.J.Giraud.

 

O primeiro a ser construído foi o Cabo San Roque, que fez viagem inaugural para a América do Sul, em abril de 1957. O Cabo San Vicente teve a viagem inaugural em 1959. Suas dimensões eram: comprimento 169,55 metros, largura 21,09 metros. Transportavam 241 passageiros na classe cabine e 582 na turística. O estaleiro construtor foi Sociedade Española de Construcción Naval – Bilbao. Tinham seus cascos e superestruturas na cor branca e chaminé em preto fosco com o emblema da Ybarra. Os gêmeos eram vistosos e tinham um belo designe, o que chamava atenção por onde passavam.

 

O conhecido empresário Armênio Mendes, quando emigrou para o Brasil, veio no Cabo San Vicente, conforme conta no prefácio do livro de minha autoria – “Transatlânticos de Cruzeiros Marítimos, O Passado no Presente”, lançado em novembro de 2003, na Pinacoteca Benedito Calixto. Eis parte do texto: “Confesso que vi o mar pela primeira vez em 1963, quando saí da minha aldeia – Chão de Couce – Ansião – Distrito de Leiria, viajando no transatlântico espanhol Cabo San Vicente. Fiquei muito apaixonado por meio desse transporte, tanto que já fiz diversos cruzeiros, sempre com renovada emoção”.

 

O transatlântico Cabo San Roque, navegando pelo Estuário do Porto

de Santos, no início da década de 1960. Acervo: Jones Pereira Walfall.

 

Ézio Begotti, pessoa, muito conhecido na navegação, onde trabalhou por muitos anos, hoje aposentado, fez um cruzeiro marítimo em 1965, com escalas em Buenos Aires e Ushuaia (a cidade mais austral do mundo), a bordo do Cabo San Vicente. Begotti contou muitas coisas interessantes da viagem. Houve muitas festas naquele cruzeiro realizado há 43 anos. – A santista Ingrid Sarti foi a Rainha do Cruzeiro.

 

Os transatlânticos operavam regularmente na linha Europa/América do Sul, escalando os portos de Genova, Marselha, Barcelona, Malhorca, Algeciras, Lisboa, Tenerife, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires. Realizavam cruzeiros de verão pelos Estados Unidos, Europa, Extremo Oriente e pela América do Sul. Segundo informações confiáveis, ambos ultrapassaram a marca de 600 cruzeiros marítimos. Naquela época os cruzeiros nos Estados Unidos e na Europa já tinham uma boa participação nesse na área do turismo, onde vários navios eram fretados. No Brasil estavam surgindo, como contamos em recentes artigos neste espaço com os títulos “Os Cruzeiros Vieram para ficar 1 e 2”.

 

O Cabo San Vicente, em foto de J.C.Rossini, passando

pela Ponta da Praia, em Santos,  no início de 1970.

 

Vale recordar que a célebre Ybarra, fundada no século XIX, na cidade de Sevilha, possuiu dezenas de navios, todos começando com Cabo, no Brasil os de passageiros que ficaram famosos foram: Cabo San Antonio (1929), Cabo San Augustin (1931), Cabo San Antonio (1931) e Cabo San Tomé (1931).

 

Marcaram época, também, dois transatlânticos da década de 1920, de construção estadunidense, que originalmente foram o Presidente Wilson e Presidente Lincoln, adquiridos em 1940 pela Ybarra  e batizados respectivamente com os nomes, Cabo de Hornos e Cabo de Buena Esperanza, com a chegada dos novos e modernos transatlânticos Cabo San Roque e Cabo San Vicente foram desmanchados em 1959.

 

O cardápio de almoço do Cabo San Vicente,

no dia 5 de março de 63. Acervo: L.J.Giraud.

 

O presente artigo não tem a finalidade de contar a história dos navios da Ybabra, mas sim de mostrar como eram esses navios que trouxeram muitos emigrantes espanhóis e portugueses, e de outras nacionalidades para o Brasil. Os que prosperam viajavam com seus familiares para suas terras de origem para rever parentes e amigos, nesses navios que marcaram época.

 

Vale recordar, que em 9 de janeiro de 1968, o Cabo Yzarra, a mais nova unidade da armadora espanhola, fez um cruzeiro que terminou em 19 de fevereiro. Os portos visitados foram Montevidéu, Buenos Aires, Punta Arenas, Valparaiso, Calão, Balboa, Colón, Ilhas Santo Anrdrés, Oito Rios, San Juan de Puerto Rico, St.Thomaz, Antigua, La Guayra, Port of Spain, Salvador –Bahia, Rio de Janeiro e Santos.

 

No salão de festas do Cabo San Vicente, o amigo Ezio Begotti, se

divertindo à valer, durante uma das várias comemoraçoes, no cruzeiro

de dezembro de 1965, a bordo - Acervo: L.J.Giraud.

 

No final de 2005, a germânica Hamburg-Sud adquiriu a direção da Ybarra. Cia. Sudamerica S/A, que passou a ser a Ybarra Sud.

 

Por volta de 1955, ainda menino, na companhia de meus amigos, os irmãos Arleson e Alfeu Praça Fonseca (Engenheiro Certificante da Alfândega de Santos) estávamos no Studbaker Comander, ano 1952, de propriedade do pai deles, o prático aposentado Gerson da Costa Fonseca, hoje com 90 anos de idade, meu tio por afinidade, quando próximo às balsas, na Ponta da Praia, avistamos o Cabo de Hornos, deixando a Cidade, rumo a mais uma viagem com destino à Europa. Essa foi a única vez que vi esse navio. Já o Cabo de Buena Esperanza, nunca cheguei a vê-lo, mesmo com as suas inúmeras passagens por Santos.

 

Jogos no convés do Cabo San Roque. Catálogo

publicitário da Ybarra, que apresntava as atrações

de bordo do belo navio - 1960.

 

Ressalto que tive o privilégio de estar a bordo dos gêmeos cabo San Roque e Cabo San Vicente, nos anos 60. Caso não me falhe a memória, algumas das suas dependências lembravam um pouco o interior dos cisnes brancos Anna Nery e Rosa da Fonseca.

 

Quem desejar saber mais sobre a História da Ybarra Y Compañía, recomendo a leitura do livro “Navios e Portos do Brasil, nos Cartões-Postais e Álbuns de Lembranças” (2006), de autoria dos amigos João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo (veja reportagem sobre o lançamento da obra).

 

Cartão-postal apresentando um dos salões dos navios Cabo

de Hornos e Cabo de Buena Esperanza. Acervo-L.J.Giraud.

 

O salão de estar dos gêmeos Cabo San Augustin e cabo San Tomé.

Anos 30 - Acervo: L.J.Giraud.

 

Cartão-postal original da Ybarra Y Cia., estampado com o belo

Cabo de Buena Esperanza. Acervo: L.J.Giraud.

 

Fechando com chave de ouro, o Cabo San Augustin, que

fez viagem inaugural em 1931, media 152,5 metros de

comprimento, transportava 512 passageiros. Reprodução.

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