Segunda, 15 Setembro 2025

Desde os meus tempos de menino, escutava vários episódios ocorridos com a Força Expedicionária Brasileira (FEB), da parte de meu tio Kepler Alves Borges, hoje com 83 anos de idade, capitão reformado do Exército. Ele participou da Segunda Guerra Mundial, no teatro de operações da Itália, na Terceira Seção do Estado Maior da Primeira D.I.E sob chefia do então tenente-coronel Humberto de Alencar Castello Branco, e autor do livro “O Brasil na Guerra” (1947). O livro está registrado na biblioteca do Imperial War Museum, em Londres.

 

A cobra fumando, emblema da FEB,

que participou na Itália, durante a

II Guerra Mundial

 

Entre esses acontecimentos, meu tio conta até os dias de hoje que a FEB era formada por 25.334 pracinhas em seis escalões de embarque, sob o comando do general Mascarenhas de Moraes. Nossos heróis foram a bordo de dois navios-transporte de tropas dos Estados Unidos: “General Meighs” e “General W.A. Mann”.

 

Vale recordar rapidamente fatos que levaram o Brasil à guerra – o único país da América do Sul a participar do conflito.

 

A partir de 1941, submarinos alemães começaram a interferir nos navios da Marinha Mercante brasileira. A agressão alcançou nível extremo em agosto de 1942, quando, em cinco dias, por ação de U-boats (submarinos alemães que tinham o prefixo U seguido de número), a Marinha da Alemanha torpedeou cinco navios do Brasil na costa de Sergipe, com a perda de 607 vidas. Sendo que um número considerável era de soldados do Exército a caminho do Nordeste.

 

Essa ação levou o Brasil a reconhecer o estado de beligerância com o Eixo – Alemanha, Itália e Japão, em 23 de agosto de 1942, e o estado de guerra no dia 31 daquele mês.

 

Roteiro de combate da FEB no Teatro de Operações na Itália

 

Com a entrada do Brasil no conflito, foram adotadas diversas providências, entre elas a criação da Força Expedicionária Brasileira. Uma força armada de modelo americano, onde foi necessário encontrar especialistas para os vários setores como operadores de teletipos, telégrafos, detectores de minas, motoristas, enfermeiros, médicos, engenheiros, escriturários, mecânicos e tudo que é necessário no Exército. A FEB cumpriu tudo que lhe foi confiado. Foi integrada ao Quarto Copo do Quinto Exército Americano. A baixa foi de 2.000 homens, nos campos de batalha.

 

No final da guerra, em 1945, o Cemitério Militar da FEB em Pistóia, tinha 451 brasileiros sepultados, sendo 8 aviadores da Força Aérea Brasileira.

 

O batismo de fogo aconteceu em 16 de setembro de 1944, quando o primeiro e o segundo Batalhão do Sexto Regimento de Infantaria tomaram Massaroca. A partir daí, foram várias vitórias frente aos alemães, entre elas a mais famosa de todas, a tomada de Monte Castelo. Por essas vitórias o Brasil teve reconhecimento mundial.

 

Soldados da FEB em Monte Castelo no aguardo para entrar em combate

 

Como se saiu a FEB? A resposta é curta: muito bem!, disse o historiador norte-americano Frank McCann, que escreveu um livro sobre as relações Brasil-Estados Unidos, naquele período.

 

Resumindo, a FEB completou todas as missões que lhe foram confiadas, e era comparada às forças semelhantes do Exército dos Estados Unidos.

 

Dentre esses heróis que seguiram para a Itália, estavam presentes 320 santistas, um orgulho para a Cidade de Santos.

 

Com isso quero dizer, que recentemente saiu nos noticiários do País, que o Museu da FEB por falta de verbas fechou suas portas. O referido museu tem como mantenedora a Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira. Esse ocorrido é uma grande decepção.

 

Na foto aparecem os generais Zenóbio da Costa, Mascarenha de

Moraes, e o coronel Castello Branco, que foi presidente da República,

na época da ditadura

 

Para o seu presidente, o coronel Hélio Mendes, tudo isso é um grande descaso com a memória da FEB e do País.

 

Em protesto, os veteranos da gloriosa FEB, membros da Associação, não compareceram na cerimônia do Dia da Vitória, junto ao monumento das Forças Armadas, no Aterro do Flamengo – Rio de Janeiro.

 

Tomara que essa situação lamentável reverta, voltando assim o Museu da FEB exibir o seu rico acervo de armas, uniforme, fotografias que poderá se perder em razão desse descaso para com a memória da FEB. Vamos lembrar mais uma vez: o Brasil foi o único país da América Latina que participou da Segunda Guerra Mundial. Por isso teve o reconhecimento mundial.

 

Sempre que houver comemorações lembrando acontecimentos do maior conflito de todos os tempos, na Europa, Estados Unidos, França, Inglaterra, lá estará tremulando a Bandeira do Brasil.

 

Na foto vemos, o atual presidente da Associação dos Veteranos

da FEB, Coronel Hélio Mendes (o quarto da última fila, da esquerda

para a direita) e que na época era tenente - 1944. Acervo que pertenceu

a Henriqueta Mendes do Rego.

 

Em Santos, também é decepcionante o que foi oferecido aos grandes heróis da FEB, que fica numa praça com esse nome, no Jardim Rádio Clube, na Zona Noroeste. Trata-se de um simples pedestal, cuja placa de metal já foi furtada.

 

Resumindo, isso é muito pouco em relação à grandeza do que foi a Força Expedicionária Brasileira. Além do mais o lugar é distante, onde só quem tem oportunidade de ver é que mora nesse local distante.

 

O pedestal que homenageia os 320 santista e demais

participantes da FEB das diversas partes do Brasil, é muito

pouco para a grandeza da FEB. Foto: L. J. Giraud

 

No meu parecer, a exemplo de outras nações, a FEB merecia uma estátua em local nobre, como nos jardins das praias, ou em local compatível com a sua grandeza e relevância. Realmente a nossa memória é curta, ou talvez quem mandou fazer não sabe dessa importância.

 

Governantes, salvem o Museu da FEB, caso contrário um grande capítulo da nossa História se perderá para sempre.

 

Estribilho da Canção do Expedicionário, que foi cantada por jovens cheios de amor pela Pátria:

 

“Por mais terras que eu percorra

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá,

Sem que leve por divisa,

Esse “V” que simboliza

A vitória que virá”

 

Na foto tirada no Instituto de Geografia e História Militar do Brasil,

vemos o capitão Kepler Alves Borges, ladeados por duas capitães

de fragata de nome Edna e Mônica, além da major Elza. Na época (04/11/2006) eram as únicas oficiais do sexo feminino a fazerem

parte do Instituto. Acervo - L.J. Giraud

 

Finalizando – Glória Eterna ao soldado de Monte Castelo, ao homem de Montese, de Camaiore, de Monte Prano, de Castelnovo, de Zocca, Collechi, Fornovo di Taro, glória eterna aos homens da FEB. Pelo Pracinha que não voltou, artigo de Wilson Veado (Magistrado). publicado na Revista do Clube Militar – Fevereiro de 2000.

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!