Sábado, 19 Abril 2025

Relendo alguns artigos da Rota de Ouro e Prata, escrito pelo pesquisador marítimo José Carlos Rossini, na década de 1990, em A Tribuna, me deparei com uma série que contava passagens do cais de Santos no passado. No caso, o texto escolhido recebeu o título “O Porto de Santos em Maio de 1930”.

 

Dois trechos do Porto de Santos visto do Monte Serrat: parte do

Valongo ao Paquetá e do Paquetá ao Outeirinhos (dois montes que

existiam no começo do século 20 próximo a Santa). No cartão-postal,

nota-se as três chaminés do maior transatântico que vinha para a

América do Sul, o germânico Cap Arcona - 1930. Acervo: L.J.Giraud.

 

Por achá-lo interessante, peço licença ao grande escritor para repassar aos leitores alguns trechos do interessante artigo, para que juntos possamos retroceder 78 anos no tempo e espaço do local mais genuíno da Cidade de Santos: o Porto.

 

Eis o texto:

 

“O mês de maio de 1930, iniciou-se em Santos de forma bem curiosa. No dia primeiro de maio, uma quinta-feira, a cábrea guindaste Titan, da Companhia Docas de Santos (CDS), levantava do fundo do canal, junto ao armazém 2, o rebocador Coronel,ali afundado em 23 de janeiro desse mesmo ano. O Coronel fora construído na Holanda em 1910, deslocava 227 toneladas de arqueação bruta (Tab). O rebocado que havia entrado em 9 de janeiro, procedente do Rio de Janeiro, então capital do País, tendo a bordo 180 toneladas de pólvora entre outros produtos inflamáveis. Essas cargas já haviam sido descarregadas, quando recebeu um carregamento de ferro. A faina da estiva não foi bem executada e o Coronel teve uma grande inclinação que o levou a pique.

 

No cartão-postal, vemos o trecho do cais entre Outeirinhos e o

Paquetá. Na imagem, nota-se o armazém frigorífico em construção;

hoje faz parte do terminal de passageiros do Concais - 1930.

Acervo: L. J. Giraud.

 

Foram necessários três meses de trabalho preparatório, antes que a cábrea Titan pudesse erguer o rebocador do fundo do canal. A sua proa estava voltada para o Valongo.

 

Nesse mesmo dia, enquanto o Coronel era içado, estavam atracados nada menos  que 24 navios. Alguns de passageiros, dentre os quais o célebre transatlântico germânico Cap Arcona, da Hamburg-Sud, o maior da época, Estava atracado no armazém 15, pela sua popa , no 16 estava o veterano Martha Washington, que pertencia a armadora italiana Cosulich Societá Triestina di Navigazione, que fazia a linha Trieste,Buenos Aires com escalas intermediárias. O armazém 17 estava vazio, mas no 18 via-se o Eastern Prince atracado por boreste (lado direito do navio), era um navio misto (carga e passageiros) da Furness Prince Line. Essa armadora possui outros navios idênticos:Northern Prince, Southern Prince e o Western Prince. Esses navios eram empregados na linha Nova Iorque/Buenos Aires com escalas em Trinidad, Rio de Janeiro e Montevidéu. No 22 estava o germânico Cap Norte.

 

A cábrea Titan, que tinha capacidade para

içar 50 toneladas, participou na operação

de resgate do rebocador Coronel  no dia

01/05/1930 - Acervo Viviane Pereira.

 

Já no dia 12 de maio, por volta das 22 horas, deixava pela última vez a Cidade, o veterano Icarahy pertencente a armadora Pereira Carneiro & Cia. Fora construído na Holanda no início do século 20, especialmente para navegação fluvial. Durante muitos anos navegou entre o Rio de Janeiro e portos do Amazonas.. Sua viagem tinha como destino Porto Alegre com passagem por Rio Grande. Levava a bordo uma tripulação de 35 homens. Em seus porões estavam automóveis da marca Ford, 800 tambores de gasolina, 200 barris vazios, 300 toneladas de sal e 150 volumes diversos. No dia 16, o Icarahy foi arremessado contra o molhe do Porto  do rio Grande devido a  forte vento e mar agitado. Sendo despedaçado pelos vagalhões. Sete tripulantes pereceram na tentativa de salvá-lo.

   

Nesse mesmo dia, e que o Icarahy soçobrava, estava atracado no armazém 13, o novíssimo transatlântico misto de bandeira espanhola Cabo San Antonio, da Ybarra que fazia sua viagem inaugural. No dia 20, um outro transatlântico espanhol escalava Santos, o Cabo Quilates. Sua linha era Genova/Buenos Aires, passando pelos portos de Montevidéu, Rio de Janeiro, Las Palmas,Cadiz, Málaga, Almeria, Valência e Barcelona.

 

O Cap Arcona da Hamburg-Sud estava atracado no

armazém 15 da Companhia Docas de Santos. Aqui vemos o

belo transatlântico desatracando para mais uma viagem rumo

à Europa. Acervo: L.J.Giraud

 

Voltando ao início de maio de 1930, transitava pelo Porto, em sua segunda viagem o navio de passageiros japonês Buenos Aires Maru, proveniente de Yokohama, Kobe, Hong Kong, Cingapura, Colombo, Durban, Natal, Cidade do Cabo e Rio de Janeiro, num percurso de 11.600 milhas náuticas (21.483 quilômetros).Sua armadora era a gigantesca Osaka Shosen Kabushik Kaisha (OSK), foi construído pelo estaleiro Mitsubishi, e entregue em novembro de 1929. Na viagem inaugural atracou no armazém 20. O Buenos Aires Maru era o maior da OSK Line, numa frota de 20 navios de passageiros e 80 cargueiros,  o que dá uma idéia da potência da armadora. Pouco tempo depois, nesse 1930, entrava em serviço o seu gêmeo, o Rio de Janeiro Maru. Esses dois navios conseguiram passar a década de 30 com serviços regulares para a América do Sul na chamada Rota de circunavegação do Globo, ou seja , Japão-Brasil –Argentina (via Canal do Panamá) e Oceano Pacífico na volta, rota de 21.543 milhas náuticas (39.900 quilômetros. Sua capacidade era 1.200 passageiros. Ambos foram perdidos durante a Segunda Guerra Mundial, após ataque da aviação norte- americana”.

 

Essas foram algumas passagens do porto de Santos no distante maio de 1930, pesquisadas por J. C. Rossini, a quem apresento meus agradecimentos por tão brilhantes  informações. Vale lembrar que Rossini é o pioneiro nas pesquisas das Histórias dos navios. Escreveu vários livros sobre o tema navios. Sendo, ao meu ver, a sua obra prima o livro Rota de Ouro e Prata, lançado em 1995.

 

Cartão-Postal da Furness Prince Line, que representava os quatro

navios que faziam a linha Nova Iorque/Buenos Aires. Naquele 1º de

maio, o Eastern Prince estava atracado no armazém 18 da CDS.

 

O vapor Icarahy pertencente à armadora Pereira Carneiro & Cia,

que deixou Santos pela última vez em 12/05/1930, era semelhante

ao Iraty, aqui visto no Porto de Santos em 1926. Acervo: L.J.Giraud

 

O Buenos Aires Maru, o maior da OSK Line, transitou pelo cais

de Santos, no início de maio de 1930. Era um dos 20 navios de

passageiros da armadora.

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