"Os povos só podem sobreviver através da ajuda mútua" - Gustavo Petro, presidente colombiano, citando ‘100 Anos de Solidão’ (Gabriel Garcia Marques) na Cepal, 9/4/2025.
IX Conferência Celac ocorreu dia 9/4 em Tegucigalpa, Honduras
Captura de tela/Tv Canal Once Honduras en vivo
Nestes tempos estranhos, até uma antiga anedota precisa ser levada a sério. Conta-se que o imediato, vendo o navio se desviar do caminho previsto, alertou seu comandante com o grito: “A rota!”. Este entendeu errado e tentou forçar sonoro arroto. Enquanto isso, o navio foi saindo da rota, para desespero dos tripulantes.
Arrotar, para vários povos (árabes, como exemplo), é sinal de que o hóspede está satisfeito com a refeição. Mas o mundo está bem chateado com o prato servido. Portanto, é a rota que precisa ser corrigida, antes que o navio encontre algum rochedo.
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O planeta não se ajoelhou aos pés dos EUA, implorando clemência nos tarifaços. Quem o fez foram 14 dos bilionários que apoiaram aquele governo, que só no trimestre passado viram US$ 307,43 bilhões sumirem de suas contas, algo como o PIB anual nominal do Chile (ou de 80 países juntos). E Trump cedeu, dando outra volta na montanha-russa da economia mundial!
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Como os republicanos assumiram seu estilo elefantino de diplomacia, o prejuízo com os cristais destruídos na loja não terminam aí: serão sentidos por muitas décadas. Canadá deu exemplo, Europa aceitou o desafio, América Latina e Caribe criticaram (dia 9/4, na IX Conferência do Celac), China revidou, formando-se as bases do isolamento econômico dos EUA.
Mesmo que o arrogante presidente perca seu cargo por burrice e traição (ao queimar todos os acordos firmados), o estrago está feito. A honra e a confiança nos EUA estão quebradas e os efeitos podem durar por séculos.
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Sem trabalhadores baratos (leia-se: imigrantes) para fábricas removidas da China, sem transferir enormes cadeias de suprimentos, não há produção viável. Mesmo que Trump estendesse tapete vermelho aos deportados, faltariam operários. Recuperar décadas de conhecimentos perdidos, recriar em solo ianque certas condições de produção só possíveis em alguns lugares do planeta, é tarefa de décadas, se não for impossível.
Efeitos da guerra comercial (inflação, recessão e desemprego) na economia interna tornam tudo mais difícil. Produzir para quem? Com que insumos? O mercado norte-americano acusa os efeitos iniciais da nova década perdida.
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Para quem não mora entre Washington e Los Angeles, entretanto, existem oportunidades nesta crise. Mesmo com as diferenças tarifárias (que mudam com o vento), novos acordos entre países ou blocos econômicos surgem para substituir as quebradas parcerias comerciais e políticas com os EUA.
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Se as plantas industriais chinesas perderem seus grandes clientes ianques, tentarão ampliar negócios com novos parceiros. Se as indústrias americanas preferirem aguardar o fim (compulsório ou não) do mandato de Trump, precisarão ao menos ajustar suas filiais estrangeiras para atravessarem essa tempestade. Como os EUA querem voltar à Idade do Carvão, haverá espaços abandonados para a concorrência aproveitar.
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Trump não mira apenas em tarifas, mas quer regular ao seu modo o transporte marítimo mundial. Isso também provoca reações. Pode surgir até espaço para novas armadoras ocuparem rotas comerciais inviabilizadas para as estadunidenses, se os modelos de negócios destas, baseados em navios lotados na ida e na volta, naufragarem com medidas protecionistas retaliatórias e redução das cargas.
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Então, o alerta “A rota, comandante!” vale para o mundo todo. Se o navio de Washington quer se espatifar nas rochas, cabe ao mundo recolher os náufragos e garantir farol aceso para a passagem das demais embarcações. Incluindo portos e retroportos adequados para recebê-las, adaptados aos novos fluxos do tráfego marítimo.
IX Conferência Celac ocorreu dia 9/4 em Tegucigalpa, Honduras
Captura de tela/Tv Canal Once Honduras en vivo