Segunda, 12 de mai de 2025

Como contei em artigos anteriores, trabalhei numa firma de origem suíça exportadora de café de nome Volkart Irmãos Ltda., que até hoje funciona com o nome de Volkafé, na Rua Frei Gaspar, 20. Minha função nessa firma era a de office-boy. No início da década de 1960, era modismo os meninos trabalharem durante o dia e estudarem à noite.

 

Foto do prédio Leôncio Peres, onde

ficavam as instalações da Agência

Marítima Johnson  Line. Ao lado direito

a conhecida Igreja do Rosário. No

térreo, ficava a Casa Espéria - 1950.

Acervo- Eduardo Carneiro.

 

Fui levado por Ronaldo Guedes, sobrinho do chefe de escritório, Nelson Alves Figueiras, que era uma ótima pessoa, mas rígido com a disciplina no trabalho, bastava um simples olhar dele, para que todos entendessem o que queria. Pois bem, minha função era a de fazer os serviços de rua, junto com mais três colegas, e que compreendia ir a bancos, correios, levar e retirar diariamente um abominável malote, na firma L. Figueiredo, que gentilmente fazia esse serviço para a Volkart. Nenhum de nós gostava de ir lá por ser distante da Rua Frei Gaspar, então era uma semana cada um.

 

Levávamos Ordens de Café nos vários armazéns gerais (locais onde eram depositadas as sacas de café destinadas à exportação) que existiam na Cidade, e ir às incontáveis agências de navegação espalhadas por quase todo o Centro da Cidade. Havia algumas de minha preferência, como a Moore McCormack, Hamburg-Sud, Delta Line, Lloyd Brasileiro, Mala Real Inglesa, Wilson,Sons, Norlines, Mas havia uma que tinha um  lugar na minha preferência, ficava situada na Praça Ruy Barbosa, mais precisamente ao lado da Igreja da Nossa Senhora do Rosário, embaixo ficava a Casa Espéria, na verdade era confeitaria e restaurante, palco de grandes banquetes.

 

O belo perfil do M/S Panamá, visto por bombordo (lado esquerdo do navio). Mostrando na chaminé a bela estrela da Jonhson Line. Acervo: L. J. Giraud

 

Gostava  dessa agência por diversas razões, sendo uma delas, uma maquete de um belo cargueiro, a decoração com fotos de cidades e motivos suecos, e o bom atendimento por parte de seus funcionários. Lá retirávamos os B/Ls (conhecimentos marítimos). Vale lembrar que a conceituada agência representava a armadora canadense I.F.C Lines, proprietária dos navios Bow Brasil e Bow Canadá, além de outros. Uma outra lembrança, que na entrada do prédio onde ficava situada a mencionada agência, o edifício Leôncio Peres, havia um senhor que consertava e vendia canetas tinteiros, muito populares na época, sendo a Parker a marca mais famosa, nos modelos 21, 31, 51 e 61. Sendo a 51 que dava maior status. – Eu ficava fascinado ao ver as peças expostas num tabuleiro, que era uma verdadeira oficina onde tinha de tudo. Ainda tenho a imagem desse senhor de aspecto circunspeto gravado na minha retina até hoje. Era o sr. Felipe Lascane, também conhecido como “Doutor das Canetas”, pai do atual vereador José Lascane.

 

Na Johnson, lembro de um senhor que era caixa de nome Bueno, que ainda vive e do Sr. Elmar José Braun, que ocupou vários cargos no decorrer da sua  vida profissional (ver artigo – Elmar José Braun – Agente Marítimo Por Vocação) publicado neste jornal virtual em 17/05/2005.

 

O Golden Gate foi um dos mais belos da armadora sueca. A embarcação entrou em serviço no final da década de 1940. Acervo: L.J.Giraud

 

Uma verdade seja dita, os navios da Johnson Line tinham uma bela aparência e se destacavam muito entre outros cargueiros. Seus nomes eram M/S Panamá, M/S Colômbia, M/S Bolivia, M/S Annie Johnson, M/S Golden Gate.

 

Nos anos 70 do século passado a armadora que prestou um ótimo serviço junto aos importadores e exportadores que mantinham comércio com a Suécia passou a ser representada pela Agência Nórdica, criada em 1974 para gerenciar o pool formado pela Johnson e pela finlandesa Effoa, que operavam em convênio dentro da conferência de fretes do Norte da Europa e Escandinávia, operando com os seguintes navios: Aurora, Rosário, Bahia Blanca, entre outros, nas linhas para Estocolmo, Gottemburgo, Helsinki e outros portos daquela região do planeta.

 

Belissimo cartão-postal do M/S Bolivia em plena navegação. Nos

convéses, na proa e na popa são vistos os repiradores do navio, em

forma de cachimbos (que levavam e estraíam o ar viciado do navio).

Acervo: L.J. Giraud

 

Pouco sei sobre a Johnson Line, mas encontrei num recorte do jornal A Tribuna, que conta o seguinte: No dia 26 de novembro de 1904, há 104 anos, partia de Gottemburgo, Suécia, com destino à Costa Leste da América do Sul, o navio  Oscar Fredrik, sob o comando do capitão V. G. Kamp.

 

O navio escalou inicialmente em Grisby, onde carregou 1.800 toneladas de carvão (combustível), celulose, cimento e produtos enlatados. O cargueiro deixou esse porto no dia 1 de dezembro, gastando 28 dias para chegar a Buenos Aires. Viajando 6.475 milhas náuticas, a uma velocidade de 9,5 nós. No seu retorno à Suécia, escalou em diversos portos brasileiros, onde carregou uma grande quantidade de produtos agrícolas.

 

Foi assim a primeira viagem de um navio de bandeira da Johnson Line para América do Sul. Este artigo é pura reminiscência, sem maiores intenções de contar a Historia da legendária armadora sueca, que deixou o seu nome gravado no livro de ouro do Porto de Santos.

 

O Cargueiro Bow Brasil da armadora canadense I.F.C Lines, passando

pela Estátua da Liberdade, no Porto de Nova York, no início dos anos 50. Notem junto aos mastros o elevado número de paus de carga, que eram

os guindastes dos navios, numa época em que as cargas embarcavam soltas nos porões dos navios, e sequer se pensava na utilização dos contêineres. Acervo: L.J.Giraud

 

 

O porta-contêineres Axel Johnson, construído em 1969 para a Cia.

Axel Axelson Johnson, ficou conhecida como Johnson Line, de Estocolmo,

Suécia, fundada em 1890. Esse navio mais trade passou a ser o conhecido Costa Marina, após grande reforma na Itália. Acervo: L.J.Giraud

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