Sábado, 19 Abril 2025

O belo Rosa da Fonseca, um dos quatro Cisnes Branco, quando

entrava no porto de Nova York no início da década de 1970. Foi

fretado por Aldo Leone para uma viagem de 26 dias rumo a Manaus,

em julho de 1963. Acervo: Edson Lucas

 

Na terça-feira, 11 de março, ao ler o caderno do Porto & Mar do jornal A Tribuna, uma das minhas leituras preferidas desse conceituado jornal, deparei com uma matéria que tinha o título “Passageiros Marcam História Do Cais”, uma verdadeira recordação que contava capítulos da história dos viajantes do mar, que vinha da época dos imigrantes, os nossos antepassados, lembrando a época dos navios de passageiros, quando o Porto de Santos era mais ou menos como são hoje os aeroportos, por onde entram e saem os passageiros, até chegar aos dias de hoje, a época dos cruzeiros marítimos.

 

Tudo isso muito bem contado pela jovem equipe de jornalistas do Porto & Mar, que com muito brilho, dá continuidade na coluna iniciada por Francisco de Azevedo, em 1952. Nessa época eu tinha 7 anos de idade e já era leitor dessa seção, ou melhor, gostava de ver as fotos dos navios estampadas na página.

 

O Anna Nery, com o emblema da Companhia Nacional de Navegação Costeira

(Cruz de Malta), na chaminé, foi um dos mais belos navios da nossa Marinha

Mercante. Hoje navega pelo Mediterrâneo com o nome  de Salamis Glory.

Imagem do livro: 50 Anos de Turismo de autoria de Aldo Leone.

 

Nessa matéria estava registrada uma entrevista que dei a uma jovem jornalista sobre as diversas mudanças nos navios de passageiros no decorrer do tempo. Eu dizia que os participantes brasileiros nos cruzeiros marítimos descobriram essa atividade com maior intensidade a partir da chegada dos quatro Cisnes Brancos da Companhia Costeira que posteriormente passaram para o Lloyd Brasileiro, a saber: Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina. O único que ainda navega é o Anna Nery que hoje tem o nome de Salamis Glory. Na matéria conto ainda que viajei a bordo de dois deles em janeiro de 1968, no Princesa Isabel e no Princesa Leopoldina, cujas viagens voltarei a contar num próximo artigo.

 

Ainda nessa página, aparecia uma foto do amigo Flavio Borges Brancato, com quem fiz o curso de contabilidade no colégio Dom Pedro II, que ficava na Rua Oswaldo Cochrane esquina com a Conselheiro Lafayete, isso nos idos de 1965. Brancato hoje é diretor do Terminal de Passageiros Giusfredo Santini, por onde já passaram mais de 1 milhão e 700 mil passageiros desde a sua inauguração em 23 de novembro de 1998.

 

O N/M Princesa Isabel, em pintura de óleo sobre

tela de Antonio Giacomelli – 1995.

 

Mas o que mais me chamou a atenção na matéria, foi a menção que fiz de Aldo Leone, presidente da Agaxtur que foi o homem do turismo que consolidou o cruzeiro marítimo no Brasil, ao firmar contrato de fretamento do Rosa da Fonseca para um cruzeiro marítimo em julho de 1963.

 

Gostaria de lembrar o que Aldo Leone escreveu no livro comemorativo dos 50 anos de turismo da Agaxtur, cujo texto segue abaixo:

 

Muitos Anos Muito Bem Navegados

 

Os cruzeiros nacionais

 

O Odysseus, ex-Princesa Isabel, quando deixava o Porto de Santos.

Em 1998 sob orientação do prático Fabio Fontes. A bordo estava o

escritor Bill Miller, conhecido internacionalmente por suas centenas

de livros e palestras sobre transatlânticos. Foto: Laire J. Giraud

 

Os anos JK chegavam ao fim. Em 31 de janeiro de 1961 tomou posse o presidente Jânio Quadros, eleito com o maior número de votos já obtidos por um candidato no país. Ele renunciou sete meses depois. Nessa época, foram adquiridos quatro navios para prestar serviço de cabotagem entre portos nacionais e incrementar os cruzeiros marítimos. Foram comprados em estaleiros da Espanha e da Iugoslávia e entregues à Companhia Nacional de Navegação Costeira (mais tarde Lloyd Brasileiro). Chamavam-se Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Leopoldina e Princesa Isabel.

 

A Exprinter e o Touring Club foram as primeiras agências  de turismo a fretar navios. Nessa época, diante dessas empresas, a Agaxtur era pequena, mas já almejava grandes negócios. Eu pensava grande. Tinha entusiasmo e queria prosperar. Preparava-me para fazer algo de efetivo, que firmasse meu nome e o de minha empresa na história do turismo brasileiro.

 

Passageiros do Rosa da Fonseca no cruzeiro marítimo ao Norte do

Brasil, em fevereiro de 1965. Foto do livro 50 Anos de Turismo, de

autoria de Aldo Leone.

 

Em 1962, ocorreram muitas mudanças em minha vida. Transformei a Agaxtur em Sociedade Anônima e a filial paulistana passou a ser a sede da nossa companhia. Em dezembro, casei-me com Olga, Natural de Recife, com quem vim a ter três filhos: Aldo, nascido em 1964, Marcelo, em 1966, e Andréa, em 1969. O vírus das viagens de navios estava latente e resolvi disputar espaço no mercado de cruzeiros.

 

O primeiro contrato foi firmado no dia 14 de março de 1963, um compromisso de milhões de cruzeiros em valores da época, que tinham de ser pagos antes do embarque dos passageiros. Assim, com muita coragem, fretei o navio Rosa da Fonseca para uma viagem de 26 dias a Manaus, realizada em julho de 1963.

 

Nesse cruzeiro, consegui reunir a elite da sociedade brasileira.

 

Aldo Leone entre as senhoras no

Reveillon de 1963 para 1964 a bordo do

Rosa da Fonseca. Foto do livro 50 Anos

de Turismo, de autoria de Aldo Leone.

 

Esse era o tempo do governo de João Goulart, um político de esquerda que comandou o país entre 1961 e 1964. Entre julho de 1963 e julho de 1968 foram realizados 16 cruzeiros marítimos com navios nacionais fretados pela Agaxtur. Essas viagens obtiveram êxito impressionante. Talvez porque eu estivesse a bordo, participando de todas elas...

 

Nesse intervalo de tempo ocorreu a fase do governo militar no Brasil. O marechal Humberto de Alencar Castelo Branco tornou-se presidente da República em 1964 e os militares estiveram no poder por 21 anos.

 

Veja mais imagens

 

O autor de óculos escuros e de camisa azul,

quando descia de bordo do Princesa Isabel,

no cais do Lloyd Brasileiro, no dia 17 de

fevereiro de 1968. Acervo: L. J. Giraud

 

Passageiros desembarcando do Princesa

Isabel, no porto de Santos, em 1968.

Acervo: L. J. Giraud

 

Aldo Leone, que tem a vida totalmente voltada para o turismo, nasceu

em 31 de janeiro de 1927, em Tortora, província de Consenza – Calábria,

Itália. Leone é um dos ícones dos cruzeiros. Foto do livro 50 Anos de

Turismo, de autoria de Aldo Leone.

 

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!