Quinta, 28 Março 2024

Esta é uma homenagem à nossa querida Cidade, que no último 26 de janeiro completou 462 anos da sua fundação e 169 anos de elevação de Vila à Cidade. Fundada por Braz Cubas, local de nascimento do mais ilustre santista, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, Bartolomeu de Gusmão, o padre voador, entre outras personagens conhecidas.

Nada mais sugestivo do que presentearmos Santos com imagens e textos de um local da Cidade que tinha a cara de Santos e hoje não existe mais, mas que sem sombra de dúvidas, foi o ponto mais elegante da orla marítima em todos os tempos, o Parque Balneário Hotel.

Primeiro, vale lembrar, que havia uma construção pequena que pertencia a Alberto Fomm e Elisa Poli. Foi vendida em 1912 surgindo um edifício imponente construído em etapas. Em 1914, mesmo ano que foi inaugurada a Ponte Pênsil, o Parque Balneário Hotel começou a funcionar dirigido por João Fracarolli. Ficou conhecido no País e no exterior. Era o hotel mais importante da Cidade nos anos 30, 40, 50 e 60. Em seus salões aconteceram muitos almoços, jantares, bailes e homenagens com a presença de autoridades como, o rei Alberto da Bélgica, Conde D’Eu e sua esposa Exma. Sra. Isabel Cristina de Bragança, a Princesa Isabel, membros da família imperial, Venceslau Brás, Epitácio Pessoa, Washington Luís, Afonso Pena, Getúlio Vargas, Júlio Prestes, Juscelino Kubitschek, Adhemar de Barros, João Goulart, alem de pessoas em evidência nos períodos como Gago Coutinho e Sacadura Cabral, o general Mark Clark, comandante do exército americano durante a II Guerra Mundial, do qual a gloriosa FEB – Força Expedicionária Brasileira ficou subordinada.

Era comum a fundação de entidades e firmas durante eventos organizados no Balneário. O Tênis Clube de Santos, por exemplo, nasceu numa dessas ocasiões. Entre suas paredes, foram tomadas decisões que afetaram diretamente a população. Como aconteceu durante o banquete oferecido a Washington Luís, que voltava de uma viagem à Europa. Ele aproveitou a oportunidade e lançou sua candidatura à Presidência da República. Acabou eleito em 1926.

No prédio voltado para a Av. Ana Costa, funcionava o Cassino. Ali acorriam, procedentes de todas as partes do mundo, turistas endinheirados, deixando grandes somas de dinheiro, principalmente passageiros dos navios em trânsito pela Cidade. Aconteciam no Balneário muitos shows internacionais. Era o glamour. Nenhum outro hotel oferecia as maravilhas do Parque. Em idos tempos, o maior concorrente era o Hotel De La Plage, mais conhecido como Hotel do Guarujá. Era seguido pelo Atlântico Hotel e pelo Palace Hotel em importância.

O Parque Balneário marcou a vida de muitas pessoas e sua demolição para muitas dessas pessoas foi um verdadeiro crime arquitetônico. Nos seus jardins havia música ao ar livre ao som de conjuntos que marcaram época como o pianista e organista Wesley Silva, o famoso Tico-Tico, tocaram também Pascoal Melille e seus Cubancheiros. Nos seus salões, orquestras famosas como a do santista Plínio Metropólo, Zezinho Arruda Paes, Waldir Calmon, cantores como Nat King Cole, Julie Wood. A nossa Pequena Notável não se apresentou no Parque Balneário Hotel, mas deu o privilégio de almoçar no seu famoso restaurante, durante sua apresentação no Teatro Coliseu, em 1936, vários cantores italianos também se exibiram no PBH como os grandes tenores Tito Shipa e Seniamino Gigli, que permaneciam em Santos a espera do navio para Itália depois das temporadas líricas na Capital, e que fizeram recital no palco do Clube Atlético Santista em épocas diferentes.

Outros hóspedes ilustres, Arnaldo Fracarolli, jornalista do Corriere della Sera, de Milão, membro da família proprietária, Edda Mussolini Ciane, filha do conhecido ditador Duce, o famoso Mussolini, integrante do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), que era casada com o Conde Caleazzo Ciano.

Clientes com residência permanente no hotel.: Ângelo Guerra, inspetores da Alfândega em exercício no cargo, delegados regionais da Polícia Civil, fiscais aduaneiros e da fazenda federal.

Segundo o advogado Enzo Pogianni, eram empregados do hotel as seguintes pessoas que ficaram conhecidas no estabelecimento na época em que residia no hotel, no final da década de 40 até início dos anos 50: Sebastião Frank, poliglota, reservas, portaria e permanências dos hóspedes. Joaquim Castro, economista, chefe do escritório do hotel e incumbido da contabilidade e departamento pessoal. Enrico Orlandi, Sr. Orlando, chefe das cozinhas e elaboração dos cardápios dos restaurantes do hotel. Também incumbido das compras e organizador dos banquetes oficiais.

Os cozinheiros, confeiteiros e sorveteiros do hotel, quase todos vieram do famoso navio de passageiros italiano Conte Grande, que foi apreendido no porto de Santos durante a Grande Guerra, e que aqui permaneceram.

O serviço do hotel dividia-se por 12 secções diferentes, para satisfazer todas as exigências dos hóspedes. Empregados em número de 140. O hotel ocupava um quarteirão inteiro, limitado pelas avenidas da praia e Ana Costa e ruas Fernão Dias e Carlos Afonseca.

Em sua fase áurea; o Parque Balneário contava com cinco salões: o Dourado, de banquetes; o Kursall, de jogos; o restaurante; o salão de leitura e o carteado, além de uma boate e um maravilhoso jardim.

 

Muitas coisas poderiam ser ditas sobre o antigo Parque Balneário, mas para dar uma idéia do que realmente foi o grande hotel, vamos transcrever uma matéria da Edição Comemorativa do 1º Centenário da elevação da Cidade de Santos – 26 de janeiro 1939, publicado no jornal A Tribuna.

Parque Balneário Hotel

O Parque Balneário Hotel é o melhor índice da renovação urbanística de Santos. Ele faz parte destes últimos vinte e cinco anos de urbanização das praias santistas, acompanhando o seu desenvolvimento, a sua modernização, até o ponto em que se encontra hoje a faixa de praias do Gonzaga e do José Menino. Localizado no melhor ponto da praia, a sua estrutura primitiva cresceu com o crescimento da Santos – balneária, estendendo-se na execução do plano pré-estabelecido para o desdobramento que se fizesse necessário. Pertence-lhe todo um vasto quarteirão das avenidas Ana Costa e Presidente Wilson. Na esquina, mesmo, desta, do lado direito do corpo principal do edifício primitivo, estende-se um jardim emparelhado para reuniões, chás, divertimentos infantis, etc. Esse jardim todo arborizado, oferece, ainda, aos seus frequentadores, a proteção de largos guarda-sóis. Aberto para o mar, é um abrigo refrigerante de sombras, sempre percorrido pelas brisas frescas que vêm do mar. Esse jardim constitui, por outro lado, pela sua situação e pelos seus arvoredos, um elemento decorativo da paisagem do Gonzaga. Sobre ele, ao lado e aos fundos, levanta-se a massa arquitetônica, do Parque Balneário, edifício de grandes proporções, bem como de linhas artísticas inconfundíveis, e que perfeitamente corr5espondem ao que por dentro apresenta a magnífica decoração, a mobília discretamente luxuosa, s instalações todas harmonizadas sob um espírito de requinte sem exageros.

O Parque Balneário Hotel, pela sua situação, pelos seus recursos de maior amplitude, pela tradição que já  o consagrou, é o ponto preferido da elite paulista em Santos, o Hotel dos turistas internacionais, o mais freqüentado pelos que fazem os “week-ends” elegantes, em nossas praias centralizadas pelo Gonzaga.

Conta o Parque Balneário Hotel com uma gerência que tem mantido tradicionalmente seus eficientes serviços, os quais se distinguem por uma nota de distinta sobriedade, desde 1914, quando começou a funcionar sob a direção do sr. João Fracarolli. São seus proprietários, além do sr. João Fracarolli, já citado, Aldo Fracarolli, José Fracarolli e Alberto Fracarolli, cabendo presentemente a gerência ar sr. Aldo Fracarolli.

O Parque possui 250 quartos e apartamentos, com serviço de água quente e fria, telefone, etc., contando ainda com completa instalação de ar condicionado em suas dependências. Tem salão nobre e de refeições, largas dependências internas e externas para repouso e reunião dos hóspedes, bem como um salão para crianças. Para estas, ainda a sua cozinha, de primeira ordem, está emparelhada para prestar serviços dietéticos especiais. Em seu andar térreo, possui o Parque Balneário um grande “bar” e um salão de beleza modernamente instalado,e com pessoal competentíssimo.

Mantendo pois, o máximo que se pode exigir de serviços no gênero, o Parque Balneário destaca-se, inegavelmente, entre os melhores estabelecimentos do Estado e do país, conhecido largamente no estrangeiro, pelos serviços que tem prestado ao nosso turismo. Aliás, acha-se o Parque ligado, diretamente, com todas as agências de turismo do mundo. A indicação desse estabelecimento modelar tem correspondido sempre a inteiro contento, às exigências de seus hóspedes, dos viajantes e dos turistas que visitavam a nossa cidade.

Histórico Sucinto do Famoso Parque Balneário Hotel

1908 – Em construção acanhada pertencia a Alberto Fomm e Elisa Poli oferecendo, na época, todas as comodidades de hospedagem conforme anúncio publicado no Indicador Comercial Santista de 1908, á página 116.

1912 – A Cia. Economizadora paulista, dirigida por Júlio Conceição, adquire o hotel por 1;200$000 (um conto e duzentos mil réis) que, logo a seguir, manda demolir o velho edifício surgindo outro, imponente, que se completou em outras etapas.

1914 – Assume a direção do hotel João Fracarolli, integrando-se à sociedade, Henrique Fracarolli, Aldo Fracarolli (gerente), José Fracarolli Sobrinho e Alberto Fracarolli.

1922 – Construção da ala paralela à Rua Carlos Afonseca.

1926 – Levantamento do bloco voltado para a Av. Ana Costa, cuja cerimônia de lançamento de pedra fundamental foi prestigiada com a presença dos Srs. Washington Luís e o Presidente do Estado, Carlos de Campos.

1928 – Levantado o torreão onde ficaram instaladas a Portaria e a Recepção, completando-se o edifício que tinha a forma de “L”.

1931 – Surge, no PBH, uma das primeiras agências de turismo do Estado de S. Paulo: Agência de Turismo Santos Ltda, vinculada à Bence Tourist Co., de Nova Iorque, estabelecendo em nosso Estado a modalidade de turismo dirigido. Nessa década foi fundado nas dependências do hotel o Tênis Clube de Santos e o Bridge Clube de Santos.

1966 – O Parque Balneário Hotel é vendido ao Santos Futebol Clube por NC $6.000.000,00 onde instalou sua sede social mantendo-o ainda como hotel.

9-10-1972 – Dirimidos os problemas entre a família Fracarolli e o Santos Futebol Clube, o PBH foi comprado por um grupo financeiro santista dirigido pelo Sr. Cláudio Doneux, então titular da Metromar Engenharia e Comércio Ltda., sendo celebrado instrumento particular de compra pelo valor de Cr$ 16.761.000,00.

25-01-1996 – O Parque Balneário Hotel é adquirido pelo grupo Mendes Hotéis Turismo Adm. Ltda., que o transformou em “Super Cinco Estrelas”.

Notas – Conforme o “Livro de Registro” (já desaparecido), dos antigos PBH, eis, entre outras, as personalidades que se hospedaram ou neles foram homenageadas - Conde D’Eu (Luis Felipe Maria Fernando Gastão de Orleans) e sua esposa Exma. Sra. Isabel Cristina de Bragança, membros da família imperial; rei Alberto da Bélgica; príncipe Aimoni, gen. Augustin Justo, Gabriel Terra, aviador de Pinedo, aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho, escritor Blasco Ibañez, presidentes da república: Afonso Pena, Venceslau Brás, Epitácio Pessoa, Washington Luís, Júlio Prestes (eleito presidente da república, não chegou a tomar posse em virtude da revolução de 1930), Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Presidentes do Estado de São Paulo: Altino Arantes e Carlos de Campos, governadores Armando de Sales Oliveira e Adhemar de Barros, Pedro de Toledo, interventor federal em São Paulo gen. Craveiro Lopes, presidente de Portugal; gen. Estigarribia, presidente do Paraguai; Ignacy Paderevski, famoso pianista e presidente do Conselho da República da Polônia; Júlio Dantas, Antônio Corrêa de Oliveira, aviador João Ribeiro de Barros e Antonas Smetona, ex-presidente da Lituânia.

Conclusões

O Parque Balneário Hotel, em nível de hotelaria, ganhou renome, tornando-se famoso no País e até mesmo no Exterior, distinguindo-o como estabelecimento hoteleiro de primeira linha, acolhendo as mais destacadas personalidades nacionais e estrangeiras, fazendo turismo dirigido e promovendo a Cidade, ao invés de ser por ela promovido.

 

Brindando a Cidade, uma poesia do grande e inesquecível Narciso de Andrade.

 

Canto de Amor

 

Nas horas altas da noite

Campo de estrelas e cento

Eu te procuro, cidade.

Nessas horas de frias pedras flui

O líquido silêncio do passado.

Assim deitada no tempo

Teus braços de água se estendem

E abraçam o sonho dos descobridores,

Tu és criança, cidade,

Para tão loucas vertigens

Nos braços de rudes homens,

Curtidos de sol, salitre e ventos,

Camponeses do mar, nautas do campo.

Tu és frágil, cidade, para as duras

Tempestades que se lançam contra o dorso

De tuas montanhas, teus montes arenos e

Verdes onde pastam nuvens agrárias.

Quando corres mar adentro

Sôfrega de azul e distância

Corsários te espreitam e cobiçam,

Te assediam e te atacam

Mas tu, menina valente,

Guardas teu corpo de areia e mangue

Para destinos maiores.

E tu sabes, cidade, lutar.

Tu Sabes, cidade, repelir.Tu não te curvas, cidade.

Por mais que te persigam

e te imponham árduos anos de silêncio.

Tu cantas tua canção maior

Desde quando menina abria teus braços

Para os homens d’além mar, pastores de

Estrelas e neblinas.

É este o timbre e o tom que

Comovem o poeta.

Tua força de resistência,

Tua indomável teimosia,

O não das horas graves,

O sim de teus sinos antigos.

Eu te amo, Cidade.

 

Narciso de Andrade

  

Agradecimento

Este artigo teve como fonte: Memória da Hotelaria Santista, Novo Milênio, Jornal A Tribuna, Velhos Flashes no Reino do Café – 68 de Francisco de Marchi, além de informações do advogado Enzo Pogianni, Jaime Caldas, José Carlos Silvares. Imagens: João Emílio Gerodetti, José Dias Herrera (o Seu Zezinho) e do autor.

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