A matéria desta semana consta de três textos muito interessantes, todos de pessoas amigas que apreciam os acontecimentos de Santos, tanto no presente como no passado. E com algo mais: os olhos no futuro, como tem o empresário Shigueru Taniguti Jr. de São Paulo, que possui o blog http://util.typepad.com (em fase de experiência) e colabora com o http://farofa.typepad.com. O texto de Taniguti Jr. vem a calhar pois estamos às vésperas da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa. É bom lembrar que os japoneses foram contratados inicialmente para a lavoura. Muitos acumularam experiência e dinheiro, conseguindo comprar terras e contribuindo fortemente para a policultura. Mas também saíram das fazendas e, com seus descendentes, chegaram às grandes cidades, desempenhando funções em todos os setores da vida econômica, política e cultural do Brasil.
O Kasato Maru, que ficou conhecido como o Navio da Esperança,
atracado nas proximidades do Armazém 14 da CDS. – 1908. Poucos
sabem que esse célebre navio navegou até 1945. Acervo: L. J. Giraud
O segundo texto é do jornalista José Carlos Silvares, veiculado no site www.oriundi.net, intitulado Giornalismo fatto com passione (Jornalismo feito com paixão), que conta coisas dos navios italianos e sua gente. No texto, é lembrado o transatlântico Duílio, que é da época da grande imigração, com muita objetividade e informações do tempo em que Santos era grande porta de entrada dos imigrantes, os nossos antepassados.
Já o terceiro texto, conta rapidamente um pequeno registro da história da Alfândega do Porto de Santos, cuja fonte foi o Dicionário de Curiosidades, de autoria do falecido jornalista Olao Rodrigues, lançado em 1973. Vamos ver ainda uma locomotiva do Lloyd Brasileiro no começo do século XX, enviada através de e-mail por Wanderley Duck. No e-mail, Duck desejava saber se alguém sabia aonde e para quê o Lloyd havia utilizado essa locomotiva, cuja informação sob o meu ponto de vista e na do comandante Carlos Eugenio Dufriche, está no final desta coluna, juntamente com a imagem da bela locomotiva.
Foto de imigrantes japoneses a bordo do famoso Santos Maru. – 1937.
Acervo: Museu dos Cafés do Brasil - Santos
Centenário da Imigração Japonesa no Brasil
* por Shigueru Taniguti Jr.
Atraídos por um sonho de uma vida melhor, e com o apoio dos governos do Japão e do Estado de São Paulo, vários imigrantes japoneses abriram mão de sua pátria, e em 18 de junho de 1908 aportava em Santos, o primeiro navio com esses imigrantes, o Kasato-Maru.
A bordo do navio estava um povo que trazia, além da bagagem, uma cultura milenar. Baseadas nos relatos de japoneses que haviam sido enviados ao Brasil antes do início da imigração, esses imigrantes esperavam enriquecer em pouco tempo e voltar para sua terra, já que as oportunidades oferecidas nas lavouras de café pareciam promissoras. Porém, logo ao desembarcarem, encontraram uma outra realidade. Haviam sido enviados não para ter seu próprio pedaço de terra, mas para serem simples trabalhadores nos cafezais paulistas.
Além disso, conheceram todos os tipos de preconceitos assim como os negros.
Depois do choque inicial, como de seu feitio, os japoneses se dedicaram muito ao seu trabalho, trazendo inclusive muitas inovações, novas culturas e plantas, e etc.
Fotografia mostrando momento do
desembarque de famílias japonesas do navio
Buenos Aires Maru, nos anos 30 do século
passado. Reprodução.
Hoje, os japoneses se espalham por todo o Brasil e são reconhecidos como pessoas honestas e trabalhadores, e conquistaram seu espaço na sociedade brasileira.
Qual paulistano não conhece o bairro da Liberdade, que antes concentrava muitos japoneses, e hoje divide seu espaço com chineses e coreanos?
Quem nunca ouviu falar de kimono, sushi, sashimi, hashi e etc?
Para celebrar toda essa integração e o centenário da imigração japonesa, teremos comemorações em várias cidades, como Curitiba, Marília, Maringá, e claro, São Paulo, entre outras.
Desde 2006 foram formados diversos comitês para organização dessa grandiosa festa. As maiorias desses comitês já estruturam até mesmo construções de memoriais para deixar marcado na história, mais uma etapa da integração do povo japonês, com o povo brasileiro !!!!
Navio Duilio, da Navigazione Generale Italiana (NGI).
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Este navio da Navigazione Generale Italiana (NGI) foi um dos responsáveis pelo transporte de milhares de imigrantes italianos para o Brasil e Argentina e por isso tornou-se muito conhecido na colônia.
Navio Duílio, da Navigazione Generale Italiana (NGI).
Acervo: José Carlos Silvares
Sua história também é bastante interessante. Ele começou a ser construído no deflagrar da Primeira Guerra Mundial, em 1914, nos estaleiros de G. Ansaldo, em Sestri Ponente, mas a guerra interrompeu a obra e o casco permaneceu longo tempo inativo. Somente bem depois do final da guerra, em 1923, foi concluído.
Tinha 24.281 toneladas e 182,60 metros de comprimento, duas chaminés, dois mastros e capacidade para 280 passageiros de primeira classe, 670 de segunda e 600 de terceira.
Recebeu o nome do imperador romano Caio Duilio e passou a fazer a rota Gênova-Nova York. Em 1928 transferiu-se para a linha Gênova-Buenos Aires, serviço que fez ininterruptamente até 1932, quando foi vendido para a Italia Flotte Riunite Cosulich-Lloyd Sabaudo-NGI, companhia formada com a união de outras, após sérios problemas financeiros. Foi vendido em 1937 para o Lloyd Triestino, manteve o nome e a linha.
Mas, o navio que sobreviveu à Primeira Guerra não resistiu à Segunda Guerra Mundial e foi bombardeado e afundado em julho de 1944 por um submarino em Trieste, sendo reflutuado somente em 1948 para ser desmontado. O cartão-postal foi enviado do Rio de Janeiro para Buenos Aires em junho de 1930.
(*) José Carlos Silvares é jornalista e escritor em Santos (SP), especialista em assuntos portuários e marítimos, responsável pelo fotoblog Navios do Silvares.
A Alfândega do Porto de Santos
Neste abreviado registro não nos cabe contar a história da Alfândega, senão algumas fases de sua vivência. De acordo com Francisco Martins dos Santos, em “História de Santos”, “a primeira Alfândega de Santos data de 1550, e, pelas melhores deduções, funcionou junto ao prédio do Conselho da Vila até cerca de 1570, quando, pelo mau estado do mesmo prédio, instalou-se em casas particulares, daí passando, ao que parece, para um prédio próprio pela altura de 1650, onde viu realizar-se a sua equiparação a Alfândega do Rio de Janeiro, passando a ocupar casas particulares junto ao Mar até 1806, quando se transferiu definitivamente para o local da primeira instalação ou para o prédio em que funcionara o "Colégio dos Jesuítas", ou "São Miguel" até 1768, data da segunda expulsão dos padres e de sua incorporação ao patrimônio real, onde funciona até hoje, após várias reformas".
O antigo prédio da Alfândega do Porto de Santos que funcionou
até 1929, quando foi demolido para dar lugar ao novo prédio, em uso
até os dias de hoje. Diante da aduana, é vista a estátua do fundador
da Cidade de Santos Brás Cubas. - 1908. Acervo: L. J. Giraud
Nos termos do contrato celebrado no Tesouro Nacional a 7 de julho de 1876, foi levantado prédio próprio, concluídas as obas a 16 de julho de 1880, dirigidas pelos Engenheiros Rafael Arcanjo Galvão e Luiz Manuel de Albuquerque Galvão, sob a inspeção do Engenheiro Manuel Ferreira Garcia Redondo, o mesmo que construiu o Teatro Guarani. Por sua influência como repartição arrecadadora e por atuar num Porto considerado dos primeiros do País, a Alfândega de Santos foi elevada a categoria de primeira classe no dia 30 de dezembro de 1882.
Durante muitos anos, portanto, a repartição aduaneira funcionou na Praça da República, em prédio que o tempo tornou obsoleto tanto assim que, mediante termo lavrado a 30 de setembro de 1929, o Sr. João Domingues de Oliveira, então Inspetor da Alfândega, fez entrega ao Sr. Artur Assis de Oliveira Borges, Engenheiro-Chefe da Fiscalização do Porto de Santos, na qualidade de representante do Ministério da Viação, do velho e ruinoso prédio, a fim de ser demolido; em seu lugar, surgiria outro, de maior porte e conforto, construído pela companhia Docas de Santos, cujo Inspetor-Geral, Eng.o Ismael Coelho de Sousa, compareceu ao ato.
O atual edifício da Alfândega foi inaugurado em 19 de novembro
de 1934, visto do lado do mar. Antigamente essa era a porta principal
da Alfândega; A construção foi feita pela Cia. Docas de Santos. No
cartão-postal nota-se a antiga estação das barcas do Itapema, atual
Vicente de Carvalho. – 1936. Acervo: L. J. Giraud
Enquanto se procediam as novas obras, a Alfândega passou a funcionar no Armazém XIV, Externo, da Companhia Docas de Santos, cedido gratuitamente.
Afinal, o novo edifício foi inaugurado a 19 de novembro de 1934, com a presença do Ministro Artur de Sousa Costa, da Fazenda; Ministro Marques dos Reis, da Viação; Dr. Guilherme Weinschenck, Diretor da Companhia Docas de Santos e Manuel Tavares Guerreiro, Inspetor da repartição fazendária. Após o ato, as autoridades inauguraram o Monumento a Gaffreé e Guinle, na Praça Barão do Rio Branco.
A Locomotiva do Lloyd Brasileiro
O Lloyd brasileiro foi construído a partir da fusão das empresas Cia. De Navegação a Vapor, Cia. De Navegação Transatlântica, Cia. de Navegação da Estrada de Ferro do Espírito Santo/Caravellas. E com a incorporação da Navegação da Empresa de Obras Públicas do Brasil, Cia. Paraense de Navegação, Cia. Baiana de Navegação e Cia. Brasileira de Estrada de Ferro e Navegação. Seu patrimônio inicial era constituído por 27 navios e 83 embarcações.
Imagem da locomotiva pertencente ao Lloyd Brasileiro, no final do
século XIX, que provavelmente veio da Cia. de Navegação da Estrada
de Ferro do Espírito Santo/Caravellas, quando da fusão para formação
da armadora. Imagem: Wanderley Duck
Foi o decreto lei nº 208, assinado em 19 de fevereiro de 1890 pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que deu origem a Cia. Lloyd Brasileiro. No meu parecer, essa locomotiva veio da Cia. De Navegação da Estrada de Ferro Espírito Santo/Caravellas, quando da fusão que deu origem ao Lloyd Brasileiro. Já o parecer do Comandante Carlos Dufriche é o seguinte.
“Acho que a locomotiva da foto não era da CEF Espírito Santo-Caravelas. Estas seriam, ao que suponho, locomotivas para estradas. A da foto parece uma locomotiva apenas para manobras. Existe uma "preservada" na ilha do Viana, que foi da antiga Costeira/Organização Lage. O que mostra que mesmo limitada a uma pequena ilha, uma pequena locomotiva tinha sua utilidade. Seria a da foto utilizada na ilha de Mocanguê, onde o LB tinha suas oficinas?”
Navio misto, foi o primeiro mandado construído pelo Lloyd com
recursos próprios. Incorporado à frota do Lloyd em 1894, navegou até
o ano de 1933. Deslocava 2.003 TDW. – Navio sem identificação.
Acervo: L. J. Giraud
Como pesquisador de assuntos marítimos, confesso que desconhecia, que a Companhia Lloyd Brasileiro chegou a possuir locomotivas no seu patrimônio. Mas sabia que o Lloyd possuía um rebocador atuando no porto de Santos no final dos anos 40 e inicio dos anos 50, com o intuito de baratear o seu custo com manobras dos seus navios, no porto santista. Era elevado o número de navios da estatal que escalavam Santos. Segundo informação do prático Gerson da Costa Fonseca (88), o nome do rebocador era Mestre Sebastião.
Cartão-postal mostra nas proximidades da Alfândega, o rebocador
Mestre Sebastião que operava no Porto de Santos nos anos 40/50.
À direita do prédio da Alfândega é visto o prédio onde ficava situado
o famoso Restaurante Marreiro. Acervo: L. J. Giraud
Capa da Revista de Marinha
A capa da Revista de Marinha, de Portugal – Agosto/Setembro 2007, é ilustrada com uma foto do navio Sagres, entrando no porto de Santos, clicada por Silvio Roberto Smera. 07/08/2007. Parabéns ao amigo Smera.