No início deste ano, recebi um interessante e-mail enviado pelo amigo e médico Reginaldo Lopes, que contava a história de uma senhora grande admiradora dos cruzeiros marítimos, que deu origem ao presente artigo, cujo texto repasso na forma originalmente recebida:
O Golden Princess, fotografado de uma forma magnífica, atracado
no Rio de Janeiro durante os festejos carnavalescos deste ano. O
transatlântico é um dos pertencentes à Princess Cruises, mencionado
pela Velhinha do Cruzeiro. Foto: Edson Lucas
A Velhinha do Cruzeiro
Minha esposa e eu viajávamos num cruzeiro pelo Mediterrâneo a bordo de um transatlântico da empresa Princess.
Durante o jantar notamos uma senhora velhinha sentada perto da varanda do restaurante principal. Notei também que todo o pessoal, a tripulação do barco, garçons, ajudantes dos garçons etc. estavam muito familiarizados com ela.
Perguntei ao garçom que nos atendia quem era aquela dama, e esperava que respondesse ser ela a dona da companhia de cruzeiros, mas respondeu que não. Ela apenas estava a bordo nas últimas 4 viagens, ida e volta.
O cartão-postal representa os navios Santa Maria, Santa Mercedes,
Santa Mariana e Santa Magdalena, que transportavam 100 passageiros
e grande quantidade de carga geral. Eram navios mistos. Esses navios
foram lembrados no artigo por Carlos Alberto Piffer. Acervo: L. J. Giraud
Uma tarde, quando estávamos saindo do restaurante, cruzamos com ela e aproveitei para cumprimentá-la. Conversamos um pouco e passado um tempo lhe disse:
"Pelo que entendi a senhora tem estado neste barco nas últimas 4 viagens".
Ela me respondeu: "Sim, é verdade".
A alegre Thereza Eboli (que participou de 50
cruzeiros marítimos ao longo de sua vida),
aqui na companhia de Roberta Giraud e Fer-
nanda Perez, a bordo do Costa Allegra, em
janeiro de 2004. Acervo: Roberta Giraud
Disse a ela que não entendia a razão e ela me respondeu, sem pensar: "É que sai mais barato que um asilo para velhos nos Estados Unidos. Não ficarei num asilo nunca e de agora em diante fico viajando nestes cruzeiros até à morte. O custo médio para se cuidar de um velho nestes asilos é de 200 dólares por dia. Verifiquei com o departamento de reservas da linha Princess que posso obter um desconto quando compro os cruzeiros com bastante antecipação mais o desconto para pessoas de mais idade, chegando a 135 dólares por dia”
A viagem me sai 65 dólares diários e mais:
1) Pago só 10 dólares diários de gorjetas.
2) Tenho mais de 10 refeições diárias se quero ir aos restaurantes, ou posso ter o serviço na minha cabine, o que significa dizer que posso ter o café da manhã na cama, todos os dias da semana.
3) O barco tem 3 piscinas, um salão de ginástica, lavadoras e secadoras de roupa grátis, biblioteca, bar, internet, cafés, cinema, show todas as noites e uma paisagem diferente cada dia.
4) Creme dental, secador de cabelo, sabonetes e xampu grátis.
5) Te tratam como cliente e não como paciente. Com uma gorjeta extra de 5 dólares, terás todo o pessoal de serviço trabalhando para te ajudar.
6) Conheço pessoas novas a cada 7 ou 14 dias.
7) A TV estragou? Necessitas trocar a lâmpada? Quer que troquem o colchão? Não tem problema. Eles consertam tudo e te pedem desculpas pelos inconvenientes. Lavam a roupa de cama e as toalhas todos os dias, e não tens que pedir.
9) Se você cai num asilo de velhos e quebra a bacia, tua única saída é o plano médico. Se cair e se machucar em algum barco da empresa Princess, vão te acomodar em uma suíte de luxo pelo resto da tua vida.
Os cruzeiros trazem diversões às pessoas de todas as
idades, pois oferecem de tudo, como piscinas, salão de
ginástica, biblioteca, Internet, bares, shows, festas e
discotecas. Aqui vemos artistas do Costa Tropicale,
durante um show a la Broadway - 2002. Foto: L. J. Giraud
Agora vou te contar o melhor que tem as empresas Princess.
Quer viajar pela América do Sul, Canal do Panamá, Tahiti, Caribe, Austrália, Mediterrâneo, Nova Zelândia, pelos fjords, pelo rio Nilo, Rio de Janeiro, Ásia?
Ou menciona aonde queres ir.
A Cia. Princess está pronta para te levar.
Por isto, meu caro, não me procures em um asilo para velhos.
Nos cruzeiros, tudo é diversão, como a que vemos na imagem, durante uma festa do Natal das Flores, a bordo Costa Tropicale. Dez – 2002. Foto: L. J. Giraud
Viver entre ... 4 paredes ... e um jardim ... como paciente de hospital, ...
No thanks!!!
Hãaa, ia esquecendo, se você morre, te atiram ao mar sem nenhum custo adicional.
Achei superinteressante esse relato, e repassei aos amigos com os quais mantenho diariamente, uma troca de informações sobre os mais variados assuntos, na verdade são os shiplovers com os quais mantenho diariamente um bate-papo virtual.
A bordo, são servidas várias refeições diárias, nos diferentes restaurantes dos transatlânticos, que agradam aos mais diferentes paladares, conforme lembra
a Velhinha do Cruzeiro. Salão de jantar do Costa Tropicale. Foto: L. J. Giraud
Após esse e-mail, recebi de Carlos Alberto Piffer, um outro onde ele se recordava de um fato muito interessante sobre uma outra senhora que fazia viagens ininterruptas a bordo dos navios Santa Magdalena, Santa Mercedes, Santa Maria e Santa Mariana, da Prudential Grace Line, que navegaram por aqui nos anos 70, e eram representados em Santos pela Agência Marítima Delta Line. Eis o e-mail recebido de Piffer:
“Caro Laire,
Não sei se é a mesma velhinha que eu conheci a bordo de um dos "Santa" da Prudential Grace Lines. Aquela tinha até uma plaquinha de bronze marcando a sua cadeira cativa. Os "Santas" faziam viagem redonda Costa Oeste, Canal de Panamá, América do Sul, e ao que me foi contado, a velha senhora nem descia em terra na escala final nos EUA.
A foto de 1966 mostra passageiros desem-
barcando do Princesa Isabel, após o fim de
um cruzeiro marítimo. Thereza Eboli, conheceu
os nossos Cines Brancos. Acervo: L. J. Giraud
Respeitosamente, tudo isso me fez lembrar da amizade da minha filha em janeiro de 2004, a bordo do Costa Allegra, com uma senhora superalegre de 86 anos de idade de nome Thereza Eboli, que já havia feito cerca de 55 cruzeiros a bordo nos mais diversos navios de passageiros a partir de 1938, incluindo os nossos cisnes brancos Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Leopoldina e Princesa Isabel, passando pelo italiano Andréa C, fretado no final dos anos 60, pelo empresário Aldo Leone, da Agaxtur Turismo, que deu início às atividades de cruzeiros da Costa Crociere no Brasil. Resumindo, ela passou por quase todos os principais navios. Mas os seus preferidos eram os transatlânticos da Costa Cruzeiro.
Thereza lamentava que o glamour a bordo tinha se perdido ao longo dos anos. Ela contou também que seu marido costumava colocar 3 smokings na mala para levar e que as pessoas estavam desacostumadas de como se vestir bem nos navios. Ela contava também que se sentia muito à vontade a bordo, dançava até de madrugada e só não ia à discoteca porque a idade não combinava bem com o ambiente, entretanto não perdia nenhuma das festas realizadas nos transatlânticos.
Na foto, clicada em George Town, Ilhas Cayman, vendo os transatlânticos Carnival Conquest e Voyager of the Seas, fundeados. Certamente,
Thereza Eboli chegou a viajar nos navios da Carnival Cruises e do Royal
Caribbean. – Abril 2003. Foto: L. J. Giraud
Thereza, que foi gerente da Caixa Econômica Federal por 40 anos, não perdia suas férias nunca, aproveitando da melhor maneira, junto com seu marido.
Ela dizia que a sua disposição, era mantida mesmo quando não estava viajando, pois o segredo da sua longevidade, era passar as tardes no seu clube preferido, e fazer ginástica, pois como ela mesmo dizia, não queria ficar uma velha caidassa.
Infelizmente, Thereza Eboli veio a falecer em 2006, perdendo assim uma grande entusiasta dessa atividade de lazer.
O Costa Allegra, da tradicional Costa Cruzeiros, visto passando pela Ponta
da Praia, na altura dos clubes. Foi a bordo desse navio que Roberta conheceu
a grande entusiasta dos cruzeiros Thereza Eboli. – 2004. Foto: L. J. Giraud
Depois de chegarmos à conclusão de que um cruzeiro marítimo rejuvenesce, alegra o espírito e os corações dos seus participantes de todas as idades, só nos resta participar de um cruzeiro na próxima temporada. Valorizando assim os nossos momentos, pois a vida passa fugazmente. As oportunidades perdidas não retornam, portanto os que puderem, não deixem de fazer um cruzeiro, pois essas são as coisas boas da vida que um dia levaremos conosco.
Este artigo é uma homenagem à memória de Thereza Eboli, que foi uma grande admiradora dessa atividade de lazer.
Fechando com chave de ouro, o Costa Fortuna, o grande astro da última
temporada, deixando Santos para mais um cruzeiro. Aqui, clicado brilhantemente
por Silvio Roberto Smera. Thereza Eboli, se estivesse viva, com certeza teria feito
um cruzeiro a bordo desse navio da maior temporada brasileira. Com certeza, lá
do céu, ela tomou conhecimento do navio da armadora que foi da sua preferência.